Saramago, 1950
Por Pedro Fernandes
José Saramago em Azinhaga |
A Fundação José Saramago divulgou junto com esse momento de semifechamento de uma obra magna fotos colecionáveis para os que o têm, além da admiração pela obra, um apreço pela figura do autor de Ensaio sobre a cegueira. Os registros estão datados da década de 1950, apresentam o escritor muito antes de ser quem o conhecemos, na época quando José Saramago ainda trilhava os primeiros gestos de escrita.
Ao todo são dezesseis registros da época de quando escreveu o recém-lançado Claraboia, romance só agora publicado e ocasião que leva a FJS divulgá-los. O livro escrito foi escrito poucos anos depois de Terra do pecado, o título que passou desconhecido pelo seu tempo de publicação e que poderá ter levado ao engavetamento da obra agora trazida a lume.
Saramago foi um escritor com uma vida marcada por golpes de sorte, como alguma vez terá ele próprio discorrido a respeito. Daqui, pensamos em alguns desses momentos e tudo deve começar quando na Azinhaga, seu pai vai ao cartório o tabelião meio bêbado redige a certidão de nascimento com o nome de José Saramago, um sobrenome que era uma espécie de alcunha da família; afinal como pensar noutro nome mais literário que este?
Depois, o insucesso de Terra do pecado deve ter favorecido ao rapaz pobre maior aplicação aos estudos de autônomo da escrita, a desenvolver temas, formas narrativas, tornar tudo isso em obsessão até compor obras-primas como Memorial do convento ou O ano da morte de Ricardo Reis.
Nesse curso de tentativas, escreveu Claraboia. E a editora não fez caso do livro recebido. Datilografado, encadernado à francesa, engavetou o texto; e Saramago acreditando que texto não valia grande coisa e havia sido recusado também não foi buscá-lo. E ingenuamente só havia preparado esta cópia que, depois de já um escritor feito, reaparece junto com o interesse de que fosse editado.
Ou seja, o texto de Claraboia poderia ter sido perdido e nunca os leitores saberiam quais feições teria o texto. O escritor foi ao escritório da editora, trouxe o datiloscrito que sempre lhe pertenceu e se recusou que a obra fosse publicada enquanto vivesse. Por isso, que só agora, um ano depois da sua morte que o texto vem a lume. Deixemos de conversa e olhemos as fotografias.
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