Os três mosqueteiros, de Paul W. S. Anderson

Por Pedro Fernandes



Quem ainda não foi ver Os três mosqueteiros permaneça onde está. Guarde as notas que você dá a mais para ver um filme 3D e faça o que quiser delas, mas não vá ver o filme. A menos que você seja capaz de se desapegar de tudo quanto for ruim na obra de Paul W. S. Anderson. Se a ficção mantém um pacto com a realidade, aprenda o contrário: ignore o pouco que você aprendeu sobre as leis da Física e das aulas da História e da literatura de Dumas. Ignore porque o filme passa por cima de tudo. Se você for capaz de abstrair isso poderá encontrar algum sentido ou até se divertir com a historieta. Senão, volto ao que disse, guarde seus trocados.

O filme peca em vários aspectos. Um deles é o enredo. Se no início a coisa aponta para a reforma do grupo de espadachins semiaposentados Aramis, Porthos, Athos e D'Artagnan, com a migração deste último do interior para a Paris oitocentista, perde-se. Inicia-se então uma veia romântica de um romantismo piegas, primeiro entre o recém morador de Paris, depois de um rei "amaricado" por uma adolescente da corte. E pronto. O fio romântico até que vai até o fim da trama. Mas, não é uma, nem duas vezes que se perde. Isso tudo para dá contas da recuperação de uma jóia roubada por ladra daquelas de filme de espiões contemporâneos - que, pode acreditar - rompe uma barreira de feixes de raio laser e a leva consigo. E eu cá me pergunto, onde havia naquela época tal tecnologia. Se anacronismo fosse só esse, era pouco. Mas tem, nas cenas de ação, efeitos a Matrix que, convenhamos, é totalmente inapropriado para filmes de época. Talvez tanto anacronismo assim só perca para a caracterização das personagens em A garota da capa vermelha, outro fiasco.

No mais, o que se assiste é uma pressa constante como se quisesse logo chegar a um desfecho, mas o espaço a ser preenchido é longo a ponto de a história nao ser suficiente para dar contas. Talvez por apostar no entrelaçamento de três histórias, talvez porque imprimir ação num filme que tende mais para a "melosidade" das tramas românticas. Devo voltar ao roubo da jóia para observar, agora que me lembro, de mais um rombo no enredo. A reunião do grupo dos três mosqueteiros é, em primeiro plano, para salvar o império francês de uma crise com a Inglaterra e, na mesma cajadada, salvar a própria identidade do grupo. Mas, é o roubo da jóia que muda o curso dos interesses. A jóia ocupa a função de ser a matriz da crise - parece que de propósito.

Se alguém ainda quiser esperar por Orlando Bloom para ver se salva alguma coisa. Terá outra decepção. Tão caricato quanto o adolescente rei francês será ele na pele do duque de Buckingham. De modo que, por essa curta lista de erros, o que mais você pode fazer com alguns trocados é comprar uma versão em DVD pirata e levar para colocar na Tv enquanto toma sua cerveja num domingo e escuta aquela sua música preferida. Acertará quem se decidir por esse caminho. Por isso, que este integra, desde já, aquela lista de alguns dos filmes não brilhantes.


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