Mais Drummond
Por Pedro Fernandes
Ainda dentro das comemorações do ano de
Carlos Drummond de Andrade, a Cosac Naify, depois de publicar Poesia
traduzida, com poemas traduzidos pelo poeta mineiro, livro que enriquece a belíssima e multifacetada coleção Ás de Colete, anuncia dois outros títulos do poeta e cronista mineiro: Confissões
de Minas e Passeios na ilha.
O primeiro foi publicado originalmente em
1944, e figura na bibliografia do autor mineiro como seu primeiro livro em
prosa; a obra chegou a ser incluída na edição da Obra completa e nunca
mais ganhou a forma de volume independente.
A edição da Cosac Naify restaura a ideia do volume independente com projeto gráfico diferenciado e já reconhecido da casa editorial. Na nova edição, Confissões de Minas reúne textos escritos entre os anos 1920 e
1940, acompanhado de textos críticos de Antonio Candido, Sérgio Milliet e
Lauro Escorel.
Neste livro, o escritor da grande poesia de A rosa do povo
e Claro enigma faz prosa da melhor qualidade e de diferentes maneiras. O
romancista Cyro dos Anjos, amigo de Drummond, comentou à época do
lançamento: “não acredito que se encontrem páginas mais belas na língua
portuguesa”.
Em Confissões de Minas Drummond se confessa por intermédio da poesia e do modo de ser de
outros escritores, e também ao falar de suas origens e da paisagem humana
com a qual se solidariza no anonimato da metrópole. A prosa deste livro se
alimenta do “sentimento do mundo”, ou seja, das grandes correntes históricas de
sua época, marcada pela transformação do Brasil rural em
urbano-industrial, pela crise de 1929, pela ascensão do nazismo e do comunismo, culminando na Segunda Guerra Mundial. Um Drummond menos
conhecido mas não menos fundamental.
Já o segundo, Passeios na ilha, trata-se
do terceiro livro de prosa de Carlos Drummond de Andrade. Foi publicado
originalmente em 1952. Nele, se combinam textos históricos, crônicas,
aforismos e crítica literária. A ilha de que fala o título livro tem sentido
obviamente metafórico e não está nem muito longe nem muito perto do litoral.
Nas palavras do próprio escritor: “Minha ilha (e só de a imaginar já me
considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude, que,
pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos
homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente”.
É desse lugar que Drummond
observa a vida literária, num tom que combina a compreensão e a ironia somente
facultadas pela perspectiva histórica. Assim, o livro abre um caminho arriscado
entre as posições da chamada arte participante, alardeadas pela militância do
Partido Comunista fora e dentro do Brasil, e a atitude de cultivo estrito da
forma estética defendida pelos poetas da geração de 1945.
* Texto escrito com notas das sinopses apresentadas para as edições referidas de Carlos Drummond de Andrade e publicadas inicialmente no site da editora Cosac Naify.
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