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Mostrando postagens de outubro, 2011

Drummond, o lutador

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Carlos Drummond de Andrade. Foto: Marcel Gatheurot, de 1959. Fonte: Blog A biblioteca de Raquel Para quem sempre disse que o trabalho com a poesia é tarefa árdua. Trabalho sério. E aquele que reenvintou a poesia brasileira, no Dia D, dia do poeta de Itabira não há versos mais justos e adequados do que O lutador , publicado originalmente no livro José (1942). Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpass

Heinrich Böll: o escritor, o homem

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Por Fernando Aramburu Um escritor, sim. Um contador de histórias, também. Heinrich Böll concordou com essas definições; mas acontece que seus contemporâneos insistiram em lhe atribuir características que ele rejeitava repetidamente. Ele não gostava de ser qualificado como escritor cristão, por mais que durante toda sua vida professasse constantemente sua fé com convicção. Maior irritação lhe causava ser chamado de moralista. Foi, sim, um homem de seu tempo, atento às questões sociais. Um homem que muitas vezes levantou a voz, participou de movimentos de protesto e apresentou suas opiniões políticas em inúmeras entrevistas, artigos, conferências. Um entrevistador certa vez perguntou a ele como se explicava que, para um grande número de cidadãos alemães, ele representava algo como a consciência moral da Alemanha. Ao que respondeu sem hesitar: “Porque pouquíssima consciência”. Böll percebia que tais atribuições à política e à moral simplificavam seu trabalho, se não o a

Miacontear - Uma questão de honra

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Quintério Luca e Esmerardo Fabião são dois velhos amigos de vida, de bar e de jogo. “Existiam juntos, como o pescoço e a dobra do lençol.” Na grande parte das vezes, e ainda mais com o avançar da idade, as partidas de dama se estendiam por semanas e numa delas Quintério se dá conta que o jogo havia sido mexido. Alguém tinha feito isso e sendo o jogo um elo construído secretamente entre os dois, o primeiro suspeito que vem à mente de Luca é de que Esmerardo foi o feitor da desonra. Desonra que será o elemento mais que suficiente para abalar o rumo da amizade entre os dois. Não convencido da negação de Esmerardo, ele e Quintério vão à consulta do juiz da cidade. Num diálogo deslocado em que paira um jogo de expressões alheias aos dois velhos, a dúvida, ao invés de resolvida, permanece, o que faz Quintério voltar ao juiz. Na certeza de matar o amigo pelo golpe de honra o juiz nega-lhe proteção o que faz Quintério avançar para, antes de matar Esmerardo, matá-lo. Num reflexo, o seguran

De lançamentos

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Esse da foto é o poeta, ensaísta, professor e crítico literário Márcio de Lima Dantas, autor de Xerófilo , o inédito de poemas publicado em conjunto com a última edição do caderno-revista 7faces. O autor autografa seu novo título – Imaginário e poesia em Orides Fontela , que agora se junta oficialmente à sua bibliografia.  O livro, que é fruto de sua tese de doutoramento, foi lançado no dia 21 de outubro passado no estande da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), no Pavilhão da I Feira do Livro e Quadrinhos (FLIQ). A editora é a responsável pela primeira edição. * Quem apresenta mais um título é também o poeta e escritor David de Medeiros Leite. Cartas de Salamanca sai pela Sarau das Letras e terá duas sessões de lançamento: uma em Natal e outra em Mossoró. A primeira será feita na Academia Norte-rio-grandense de Letras (Rua Mipibu, 443, Petrópolis), no dia 4 de novembro de 2011, a partir das 18h; a segunda será feita no Auditório

Os três mosqueteiros, de Paul W. S. Anderson

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Por Pedro Fernandes Quem ainda não foi ver Os três mosqueteiros permaneça onde está. Guarde as notas que você dá a mais para ver um filme 3D e faça o que quiser delas, mas não vá ver o filme. A menos que você seja capaz de se desapegar de tudo quanto for ruim na obra de Paul W. S. Anderson. Se a ficção mantém um pacto com a realidade, aprenda o contrário: ignore o pouco que você aprendeu sobre as leis da Física e das aulas da História e da literatura de Dumas. Ignore porque o filme passa por cima de tudo. Se você for capaz de abstrair isso poderá encontrar algum sentido ou até se divertir com a historieta. Senão, volto ao que disse, guarde seus trocados. O filme peca em vários aspectos. Um deles é o enredo. Se no início a coisa aponta para a reforma do grupo de espadachins semiaposentados Aramis, Porthos, Athos e D'Artagnan, com a migração deste último do interior para a Paris oitocentista, perde-se. Inicia-se então uma veia romântica de um romantismo piegas, primeir

Mais Drummond

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Por Pedro Fernandes Ainda dentro das comemorações do ano de Carlos Drummond de Andrade, a Cosac Naify, depois de publicar Poesia traduzida , com poemas traduzidos pelo poeta mineiro,  livro que enriquece a belíssima e multifacetada coleção Ás de Colete, anuncia dois outros títulos do poeta e cronista mineiro:  Confissões de Minas e Passeios na ilha . O primeiro foi publicado originalmente em 1944, e figura na bibliografia do autor mineiro como seu primeiro livro em prosa; a obra chegou a ser incluída na edição da Obra completa e nunca mais ganhou a forma de volume independente.  A edição da Cosac Naify restaura a  ideia do volume independente com projeto gráfico diferenciado e já reconhecido da casa editorial. Na nova edição, Confissões de Minas  reúne textos escritos entre os anos 1920 e 1940, acompanhado de textos críticos de Antonio Candido, Sérgio Milliet e Lauro Escorel.  Neste livro, o escritor da grande poesia de A rosa do povo e Claro enigma faz prosa da me

Doze livros que revolucionaram a poesia

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Na história das formas literárias, o gênero lírico é o que menos apresentou variações; talvez a sua mais radical apresentação tenha sido aquela que no Brasil se iniciou com o movimento concretista – um desejo de construir uma estrutura objetiva, básica, densa, capaz de fundir em alta temperatura de linguagem, o signo, o significante e o significado. Depois disso, as variantes combinam elementos da linguagem artificial dos computadores e outras intervenções eletrônicas, tornando o material poético num misto de criação e performance realizáveis num só tempo e de maneira única mas capaz de se tornar noutras naturezas expressivas. A lista de obras a seguir está longe de ser definitiva, mas com certeza reúne títulos que, desde sua publicação ou descoberta transformaram o fazer poético de maneira a marcar um antes e um depois dele ou ainda por terem sido feitos centros a partir do qual irradia – seja temática, formal e estruturalmente – uma geração diversa de criações. Não é, como tod

Capitães da areia, de Cecília Amado

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Por Pedro Fernandes Todo filme produzido no Brasil, ainda é, para os seus produtores uma saga. Vou mais além: todo artista, para viver de arte por aqui, está condenado ao limbo, antes da morte. É fato que a humanidade tem se tornado mais tecnicista. E em terras tupiniquins o tecnicismo nascente deixa se contaminar por outro mal — a má formação cultural. Logo, com esse  Capitães da areia , filme homônimo ao romance de Jorge Amado, que se sagrou na contramão do que disse antes sendo um dos escritores mais vendidos dentro e fora desse país, não foi diferente. Imagino que Cecília Amado não tenha herdado o bom santo que favoreceu as vendas de livros para o seu avô e deve ter sofrido o diabo para por nas telas o livro mais conhecido de Jorge.  Não quero subestimar esse esforço, mas não quero me guiar por ele para tecer elogios falsos a um produto que é genuinamente brasileiro e que brota de uma obra das mais bem acabadas de Jorge Amado. Logo, antecipo, a conclusão, e digo q

Miacontear - O rio das Quatro Luzes

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Por Pedro Fernandes Antes de tudo convém dizer que “O rio das Quatro Luzes” se situa na linha limítrofe do afeto e do desafeto, dos silenciamentos e do diálogos. Tomando como epígrafe um provérbio moçambicano é esta talvez a mais moçambicana das histórias de O fio das missangas .  Nela se acomodam três distintas gerações - a um de velho que remonta os primórdios de África, cujos valores eram outros, a de um casal, filhos da geração desse velho, e um menino, a terceira geração, esta contemporânea, das infâncias cortadas. Chamei de “a mais moçambicana das histórias” pelo fato de os valores suscitados pela primeira geração irem de encontro aos valores da última geração - já de traços culturais totalmente ocidentalizados. “O rio das Quatro Luzes” possui o tom das lendas contadas para explicar o nascimento ou a existência de determinada coisa -  no caso o nome para o rio que passa à frente da varanda da casa do narrador, rio este que não sei ser imaginário ou real, isto é, parte n