Planeta dos macacos: a origem, de Rupert Wyatt
Por Pedro Fernandes
Retirando o exagero comercial (diria) do diretor ao
afirmar que se a natureza houvesse dado oportunidades o macaco venceria o
homem, Planeta dos macacos – a origem
pode ser lido como uma surpresa cinematográfica de 2011. Minha nota de leitura
acerca do filme não buscará fazer paralelos com as primeiras produções da saga,
sabe-se que esta agora é um remake, o
xodó dos cineastas vazios de ideias, mas buscará ler o filme pelo o que ele é
atualmente. É lógico que, quando digo “surpresa cinematográfica” estou levando
em questão a opinião de quem assistiu as edições passadas e tinha o medo de que
todo o aparato tecnológico artificializasse o filme a ponto de não se
reconhecer nas feições do filme atual o que veio antes dele. Fato. Mas, para
esses que temiam um desastre ou um distanciamento, digo que devam se contentar
com a última impressão. Uma obra relida nunca é a obra original. É sim uma
outra obra.
Uma das coisas que se salvam no filme é seu enredo –
fator primeiro que observo em todos filmes que vejo. Após um experimento fracassado
liderado pelo cientista Will Rodman que trabalha para um laboratório sedado
pelos interesses mercantilistas em descobrir uma cura para o mal de Alzheimer, apenas
uma das cobaias da pesquisa sobrevive. É o filhote de macaco mais tarde
batizado de César que Will resolve levá-lo para casa. César herda da mãe o
material genético formado (não sei como) das altas doses de ALZ112 (a possível
droga por descobrir) aplicadas em laboratório. Fato é que César acaba
desenvolvendo uma inteligência superior aos da sua raça, demonstrando capacidades
cognitivas muito próximas das dos humanos. Ao envolver-se num furdúncio a
título de defender o pai de Will covardemente atacado pelo seu vizinho,
enquanto numa das crises da doença que o velho tem o leva a, seduzido pela
ideia de voltar a dirigir, destruir o carro, César será levado para longe de
seu hábitat.
Aqui
reside um traço importante da obra. Assistimos no tempo exato – sem a pressa
exagerada de alguns filmes pelo seu desfecho – todo o desenvolvimento de César
e sua capacidade, de comandar de dentro do ambiente de selvageria a que foi
submetido a rebelião que levará todos os macacos a atacar o hábitat dos
humanos. Chamo atenção nesse instante para o modo como o diretor construiu os
momentos de passagem do tempo tendo por base os exercícios de César – primeiro nas
sequóias de um parque que seu dono o leva para passear desde que atinge certa
idade, depois na árvore artificial da cela do zoológico. Além da movimentação
temporal, quero chamar atenção para a oposição de ambientes que o diretor
parece está, a todo instante querendo mostrar ao telespectador. Como se pela
expressão de contrariedade entre o natural e o artificial estivesse o interesse
em mostrar aquilo que já tão bem conhecemos de que um não substitui outro,
assim com o primeiro pode se rebelar contra o segundo. E são vários os momentos
que evocam esse encaminhamento até darmos com o desfecho: a rebeldia da
natureza contra o homem.
A luta de
César depois de desestruturar o zoológico onde vive, negar a volta para casa de
seu dono, é uma luta por restabelecer uma relação amistosa entre as duas ordens
– a natural e a artificial. E tudo se dá pela consciência do animal (veja o
quanto de ironia reside aí) a ponto de César se construir como o protagonista
da narrativa. Já foi dito que os momentos mais significativos do filme são aqueles
em que o diretor esquece os humanos e dá espaço aos macacos. Devo concordar. É o
instante em que o diretor do filme nos pega pela mão e coloca-nos diante de um
grupo de animais, que, mantém, apesar da desagregação causada pelo homem (aqui
representada na figura do cuidador dos bichos que não tem escrúpulos nenhum
para se por diante dos animais), um laço de consciência capaz de entender a
situação a que estão submetidos. Se por um lado há uma equiparação dos animais
aos seres humanos, por outro, o diretor tem o cuidado de não fazê-los animais
humanizados. Outro diferencial. Os meios com que se arma a revolta é conduzido
até certo ponto com certa inocência da parte de quem não sabe ao certo o motivo
pelo qual devam se organizar e lutar.
Os
efeitos visuais são observações à parte. Encerram o entendimento de que este é
um filme produzido para as grandes telas. Quem esperar o DVD perderá muito em
ver o filme nas telas menores. Está aí bem utilizado. Sem os exageros do 3D e
sem aquele estágio claustrofóbico de uma produção feita em sua boa parte em Studio,
ainda que seja este, um filme em sua boa parte claustrofóbico e sombrio.
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