Ouvir “Os Lusíadas”




Que Os Lusíadas é um dos pesadelos dos estudantes de Letras é fato. Não deveria ser, afinal, está fazendo um curso que lida, sobretudo, com leitura, as leituras “difíceis” ou “herméticas” deveriam se constituir em desafios como quaisquer outros que estudantes de outras áreas tenham de passar. Penso aqui, o que seria dos engenheiros ou dos médicos se não tivessem a amargura de estudar cálculo, para os do primeiro grupo, ou anatomia, por exemplo, para os do segundo grupo. Logo, me parece um certo vício ou por que não preguiça em deixar que o texto lhe vença e seja, antes de lido, taxado como inoportuno.

Vou citar para efeito um meu masoquismo literário. A obra literária só me instiga quando se apresenta para mim como um desafio maior até do que a minha existência. Foi assim que adquiri fôlego para ler Os Lusíadas, Grande Sertão: Veredas, Dom Quixote, para ficar em três obras de grande desafio para os que querem lê-las. Foi assim que me decidi por estudar José Saramago. Já contei diversas vezes, mas a ocasião me pede que eu repita. O Evangelho segundo Jesus Cristo foi a primeira vez que deparei com um texto do escritor português. E foi este texto, que me obrigou a reler umas quatro ou cinco vezes aquilo que seria o primeiro capítulo do romance, a voz que disse ao meu perdimento ou minha procura por uma autor a ser estudado que eu deveria estudar José Saramago.

Fato é que, por esse fato de “burlar” a leitura – seja pela desculpa do tempo, afinal hoje tudo corre na velocidade do ponteiro indicador dos segundos, seja mesmo pela desculpa do difícil e do hermético, aliado a estes dois sejas, seja ainda o fato de transposição da obra literária do meio convencional para outros meios midiáticos – é que agora, a obra de Camões entra, por meio de um projeto inovador conduzido na Universidade Federal Fluminense através do Laboratório de imagem e som, para o rol dos áudio-books. O projeto intitulado “Os Lusíadas a todo volume” apresenta a gravação e a sonorização da epopeia camoniana em 10 arquivos sonoros. Uma equipe de especialistas em Literatura Portuguesa é a que compõe as vozes para as leituras integrais do texto camoniano.

É um feito que deve ser destacado. Mas não esqueçamos o sabor da leitura. E o sabor amargo que é o mais interessante. Coisas doces enfastiam logo. 

O Canto I, por exemplo, já em processo de finalização, foi lido pelo professor Luís Maffei, que além de ser professor da cadeira de Literatura Portuguesa da UFF é também poeta já com três livros do gênero publicados no Brasil e um deles em Portugal. Luís Maffei é também editor da revista eletrônica pequena morte. 

Para acompanhar a leitura, vá aqui.



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