Os versos do poeta João Negreiros
Por Pedro Fernandes
Um dos nomes escolhidos para a terceira edição do caderno-revista 7faces que
será lançada no próximo dia 30 de setembro é o do poeta português João
Negreiros.
Ele é hoje um dos poetas mais
premiados da cena literária portuguesa. E além do trabalho com poesia escrita,
João une o material verbal a encenação teatral da palavra e, numa atitude, um
tanto quanto inovadora, põe seus versos em órbita noutros universos, como a
leva de vídeo-poemas que vai, aos poucos, juntando na web.
Incorpora, logo, um
entendimento de que a palavra deve romper as quatro linhas do papel e tomar
formar em quaisquer espaços até se perder nas infinitas fronteiras dos bytes.
Não vou mentir. Gosto desse trabalho. Ele é assim querido por mim porque estou também
pensando naquilo que um conterrâneo português da literatura, o Nobel José
Saramago, disse, não uma, mas reiteradas vezes, que a palavra escrita está
adormecida e ao ser dita desperta, tem um poder outro que foge às suas próprias
órbitas de signo linguístico. Se o escritor assim dizia em se tratando do texto
em prosa, o que dizer, pois, desse interesse que é, na verdade, uma
necessidade da própria poesia, em encenar a palavra.
E os que conhecem, sabem que João
tem uma capacidade de pela palavra despertar nos que lhe ouvem e vêem um contato
com o verdadeiro espírito poético. Este que muitas vezes não é suficientemente
achado apenas naquilo que vemos como letra no papel e no encadeamento das
palavras.
Incorpora ainda o poeta uma
capacidade mais que contemporânea nas suas composições. A poesia de João é
aquela construída por uma metástase da escrita. A princípio damos com um verso
que está deslocado do que seria a forma ideal poética e daí então o que vemos é
uma proliferação de versos e estrofes – uns preenchendo o corpo do papel numa
ponta a outra, outros curtos – mas que vão nos inundando como espaços de
reflexão para uma gama de temas. E, logo, estamos diante de uma forma poética única
que nos transporta junto com esse jorrar de signos, de imagens e de
sentidos.
Fica, aos leitores, enquanto não
vem a edição nova do caderno-revista 7faces, um dos vídeo-poemas do poeta,
que, simpaticamente, atendeu-me ao pedido de que eu poderia usá-lo por
aqui.
Comentários