Cartas a um filho em coma, de R. Roldan-Roldan
Por Pedro Fernandes
A
internet é uma ferramenta profícua às publicações literárias. Disso todos sabemos. Quase todo escritor ou
aspirante a tem alguma coisa presa nesse universo paralelo: espaços como blogs e já agora as redes sociais para divulgação sobre seu trabalho e contato com o público leitor são exemplos disso. Até Saramago, no auge dos seus 87 anos, deu-se à aventura na "infinita página da web". Não é que resida aqui a
salvação para a literatura ou para o escritor. João Ubaldo Ribeiro já disse mesmo que a internet é a perdição do escritor contemporâneo. E em termos de salvação literária não é porque esta pereça à sorte das parafernálias digitais. A literatura é perene e sempre foi, como toda arte, restrita a universo pequenos.
Mas a escrita e os escritores em alguns casos (ainda muitos), sim; e é uma pena: não é a internet que irão salvá-los. As livrarias estão aí para não me deixar mentir: estão abarrotadas de livros que, se juntadas as milhões de palavras que comportam, não daria uma obra que pudéssemos chamar de grandiosa. Morte às livrarias? Não. É possível garimpar muita coisa boa; é ainda o interesse de todo escritor: o livro em papel.
Há ainda aqueles que parecem padecer de
uma ressaca interminável e estão submissos a determinadas manias ou presos em mundos muito particulares numa era em que a imagem do verdadeiro escritor (aquele que apenas escreve) está em vias de extinção. Esses não são necessariamente ruins; são mesmo desconhecidos. Talvez seja a internet um favo de mel que os desperte ou que os revele.
Andemos. A
post não é para chorumelas. Mas para falar da importância que a internet tem
para os escritores. Quando publiquei, independente e numa brincadeira, diria, o
Palavras de pedra e cal, sabia que não era o primeiro a usar do artifício da
liberdade da web para dá cara a tapa.
Desde então, tenho andado mesmo à cata de ideias
parecidas. E foi numa dessas andanças que encontro com um livro publicado com o formato semelhante àquele que publiquei em 2009. Trata-se de
Cartas a um filho em coma, do escritor R. Roldan-Roldan, publicado em abril desse ano. O escritor é um breve
conhecido meu nas andanças por novidades em bibliotecas. Quando comentei sobre
ele aqui no Letras in.verso e re.verso tive a oportunidade de receber dele, por
através do poeta Leontino Filho, seu livro Literatta ou o doce sorriso do macho
satisfeito, livro sobre o qual também escrevi, mais tarde, uma post para este blog.
Hoje, estou aqui para recomendar,
desde já, a leitura desse web-livro. R. Roldan-Roldan está, como sempre,
visceral e diferente de tudo aquilo que já tive oportunidade de ler ou folhear
do escritor. Ainda não concluí a leitura de Cartas a um filho em coma. Mas não posso negar que estou impregnado do estágio de um pai que tem seu filho numa UTI e, por não ter outro apego, segura-se nas palavras e suspenso pelos seus cabelos põe-se a um relato, que é o relato de uma espera. Da situação de dor, trágica, a via crucis do homem pela palavra - esse elemento posto como o marco sustentador de todo escritor, de todos nós; eis o relato de uma agonia, como é toda espera, como é a vida ante a morte.
Não é
possível ler o livro todo numa sentada porque a letra pequena com que foi
postado cansa um pouco a vista. Aconselho a subir o zoom da tela do computador
para ler com um pouco mais de atenção, ou aos que puderem, imprimir o material,
que para isso, ainda servem as impressoras e os papéis. Está aqui o atalho para que cliquem e leiam. Aproveitem a deixa para conhecer mais da escrita de R. Roldan-Roldan, que depois da poesia, do conto, do teatro e do romance, também se aventura no blog em que postou este seu romance, a escrever crônicas, que são verdadeiras pílulas de lucidez nesse mundo caduco a que estamos reduzidos.
R. Roldan-Roldan é autor dentre os livros já citados de obras como Cartas de uma mulher separada e Ao sul do desejo, no gênero contos. Em poesia já publicou O exílio do silêncio, Os úberes do infinito e Inidentidade. Dos romances, cito Azeviche ou a senhora do sagrado sexo e do teatro cito As papoulas de Constantinopla.
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