Sobre certos individualismos

Por Pedro Fernandes

Clarence Holbrook Carter. 



É lastimável o que venho acompanhando em determinados momentos ou situações na web. O primeiro insucesso devo dizer foi quando ainda no jornal Trabuco me disponibilizei a organização de uma antologia de poemas. Na época, a publicação não descolou devido a uma série de desencontros, mas, sobretudo, devido a individualismos da parte de muitos escritores que chegaram a me escrever dizendo não coadunarem com publicações coletivas. Respeito opiniões, mas questiono como que um escritor hoje quer se fazer conhecido (não no sentido de ser famoso, mas no sentido de ser escritor mesmo) se não se mostra entre seus pares. Além do que, seu isolamento só tem a lhe propagar, além da fama de individualista, outra ainda pior, a de não ter capacidade de brilhar numa constelação.

Depois lancei-me noutras empreitadas que deram seus frutos. A organização de um miniconcurso literário - Uma página para Saramago -, a organização de uma revista de poesia - 7faces -  já em sua segunda edição, dentre outros, são alguns dos exemplos citáveis. Esquecendo por um instante do individualismo de certos escritores, acompanho de perto que os frutos colhidos dessas pequenas empreitadas têm sido resultado de um esforço, diria, hercúleo. Ou, para ser menos dramático: de uma dedicação exclusiva para com elas. Uma série de outras atividades e mecanismos de divulgação é colocada a serviço da materialização dessas ideias, sem que haja, seja da parte de outros blogueiros, salvo raras exceções, seja da parte de outros setores da mídia escrita ou eletrônica a publicação de uma nota sequer a respeito da ideia, dirá de uma matéria mais caprichada sobre.

Não é que haja um silêncio ensurdecedor, mas parece que falta da parte dos do topo ao menos um olhar para o eco do que se passa por debaixo de suas patas. Em todas essas empreitadas citadas tiveram o interesse de divulgação de apenas uma pequena parcela - que sempre faço questão de mostrar - e não chegou, até o presente momento, a nenhum veículo de maior expressão. E não se trata da falta de divulgação de minha parte. Essa, repito, é o que mais tenho feito. Outra: os veículos que têm postado nota sobre são aqueles tidos como de curta expressão e em sua grande parte são veículos do interior ou de fora do Rio Grande do Norte.

O que isso demonstra é tão somente a consolidação daquilo que eu já havia escrito noutra nota, esta de quando da realização do III Encontro de Escritores Potiguares: o de que prevalece no topo uma leva de mal-encarados que preferem aplaudir determinados fósseis de dinossauros a rever criticamente o movimento que é o que dá forma a toda e quaisquer transformações. Não é o caso de ser mais um tipo de cegueira, é caso de ser mais um tipo de imbecilidade humana. É preferível dar voz ao que já tem voz, em permanecer reprojetando ecos frágeis que em nada têm de acrescentar a ordem dos fatos. 

É, sobretudo, como toda forma de individualismo, um comodismo. Lembro-me aqui que já conversei sobre isso com o Paulo Martins sobre o período em que ele estava de lançamento com seu livro. Ou como já conversei com Leontino Filho, Jotta Paiva, entre outros que eu não me lembro agora. Às vezes tenho encontrado até alguns dos do topo que pensam da maneira que eu penso, mas na hora de agir - e têm eles o poder para isso - recrudescem; preferem aderir ao rol das desculpas esfarrapadas, aquelas que existem tão somente para velar a ordem das coisas.

Não se trata essa nota de um desabafo. E pode até ser. Cada um ao terminar de ler que tire suas conclusões. Mas, antes de entendê-la como um desabafo, entenda que se trata um reparo para um comportamento de certos meios que, ao invés da dar bons frutos, só tem a contribuir com essa brutal pobreza cultural que nos oprime - pequenos ou grandes. Trata-se do reconhecimento de uma vergonha que é nacional e que no nosso estado ganha todas as forças e formas possíveis em achar que somente fósseis dizem algo que preste ou organizam atividades decentes.


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