Os desenhos de Kafka

"O pensador". Kafka incluiu esse desenho numa carta para a companheira,
Felice Bauer, de janeiro de 1913.



"Meus desenhos não são imagens, são uma escritura privada"
(Franz Kafka)

Editado em Espanha, os leitores de Kafka podem admirar uma outra face da obra do escritor tcheco: a dos desenhos. A obra lançada esta semana reúne um conjunto de 40 ilustrações que marcam uma retrospectiva do trabalho com desenho feito pelo autor de A metamorfose.

O interesse e a paixão do escritor pelo desenho, e pela arte em geral, foi tal que com 24 anos ainda não sabia se queria ser um sujeito dedicado a criar imagens como esta que abre e as que ilustram esta postagem.

Nos trabalhos apresentados no livro Franz Kafka: desenhos não é possível, na grande maioria dos casos, precisar qual a técnica empregada pelo escritor - se feito a lápis ou a pincel. Sabe-se apenas que seus desenhos são lidos ora como expressionistas pelo seu amigo e artista Fritz Feigl, ora como realistas pelo também seu amigo e editor Max Brod. 

"Esgrima", 1917.

Por falar em Max Brod, ele sempre quis publicar uma edição que reunisse os desenhos do amigo, mas nunca pode. Brod também acreditava plenamente no potencial do escritor para o desenho; Kafka foi um encantado pela arte japonesa, fantasiava com obras de Ingres e tinha profundo interesse pela pintura de Van Gogh. Esta relação com o mundo artístico levou o escritor a ser convidado duas vezes por artistas que tinham interesse em tê-lo como modelo nu, trabalho que nunca se sentiu encorajado a assumir.

O autor de A metamorfose teve aulas de desenho na escola básica, mas foi na universidade quando descobriu o gosto por essa expressão artística; sobretudo nos últimos anos da carreira de direito (1903-1905) quando chateado com as aulas se punha a criar "enigmas" ou "borrões", como os chamava, na margem de seus cadernos. Esta época é a central para os desenhos reunidos em livro; embora também os editores tenham decidido incluir desenhos feitos em postais, cartas, cadernos e blocos de notas.

Kafka era muito crítico com seus desenhos e, segundo Gustav Janouch, em 1922, dois anos antes de sua morte, se referiu a eles nos seguintes termos: "Não são desenhos para mostrar a ninguém. São apenas hieróglifos muito pessoais e, portanto, ilegíveis"; "Minhas figuras precisam das proporções espaciais adequadas. Não têm um verdadeiro horizonte"; "Os desenhos são rastros de uma paixão antiga, ancorada muito longe".

Ao todo são quarenta peças apresentadas com textos que criam um álbum de dupla leitura. O resultado é de longe comparável com sua obra literária, mas é valioso conhecer o resultado de um segredo pertencente a um homem como Kafka.

A seguir um conjunto com os desenhos de Franz Kafka.



Desenhos de Franz Kafka

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

16 + 2 romances de formação que devemos ler

Mortes de intelectual