O Homem Rlefante, de David Lynch
em cena Anthony Hopkins e John Hurt |
O
Homem Elefante
conta a história de Jonh Merrick (John Hurt), um homem de aparência
muito desagradável, com o corpo todo deformado devido a uma doença,
neurofibromatose múltipla. Seu comportamento, no entanto, é de um
cavalheiro contido, adequado à época e ao local onde viveu: a
Inglaterra da era vitoriana. Em virtude de suas feições causarem
horror, o que lhe restou na sociedade foi trabalhar em circos
exibindo-se como monstro.
Com
muita dificuldade de falar, também por causa da doença, era
considerado um débil mental. No entanto, resgatado pelo médico
Frederick Trevez (Anthony Hopkins), consegue se desenvolver e se
integrar um pouco mais ao mundo. No hospital, conhece a senhora
Kendal (Anne Bancroft), uma conhecida atriz, que o ajuda a construir
alguma autoestima.
O
filme é baseado nas memórias escritas (reais) do médico Frederick
Trevez. O início da película, que explora as cenas de Merrick no
circo, parecem a introdução de um filme de terror. As imagens em
preto-e-branco e o suspense que culmina com a revelação do rosto de
Merrick lembram os clássicos do gênero do expressionismo alemão,
em especial O
Gabinete do Doutor Caligari
(1919).
A
princípio, o que se tem são as imagens do que as reações dos que
assistem ao espetáculo. Conforme o filme avança, no entanto, o
terror torna-se menos dependente do suspense e da imagem do homem
deformado (embora reforçado por ela). Parte do desagrado em relação
aos personagens passa a se localizar mais na perversão dos que
exploram a doença de Merrick como atração e fonte de diversão
baseada nas emoções fortes que poderiam viver perto dele. Também o
médico que o leva para ser tratado não pode ser inocentado. A
exposição no circo é substituída pela sua apresentação em
congressos médicos, agora sustentada pelo discurso de um motivo mais
nobre e sério, a medicina em vez do picadeiro.
Com
este seu primeiro trabalho comercial, o diretor David Lynch obteve
imenso reconhecimento artístico, o que lhe permitiu posteriormente
investir numa trajetória autoral, distante dos cânones
hollywoodianos de clareza narrativa.
* Revista Bravo!, 2007, p.73
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