Miacontear - O fio e as missangas
Por Pedro Fernandes
O título deste conto, “O fio e as missangas” e ele próprio me fez outra vez retornar ao título do livro que o contém. E vejo que ele pode ocupar o papel de chave-de-leitura para a essa antologia. Se antes eu via no título O fio das missangas como uma metáfora para a própria composição do livro, posso agora definir com mais precisão as missangas desse fio “- A vida é um colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as missangas. São sempre tantas, as missangas...”
O livro de Mia Couto é um exercício de perscrutar as várias vidas contidas no horizonte de vida do contista. Está clara a interpretação. E é, sobretudo, as várias vidas de mulheres, como observei numa outra passagem da leitura aqui desenvolvida, sem dúvidas, personagens centrais da obra, as contas desse colar. A imagem masculina do fio que as perpassa reitera a qual universo pertencem tais mulheres.
O conto em questão é um dos mais simples do livro. O encontro do narrador com um tal de JMC, espécie de Don Juan, que vive à cata de mulheres até a morte de sua mãe. “Distribuía” a elas o amor que seu pai não distribuía à mãe.
Encontro nessa personagem que poderia ser o grande amor daquela mulher de “A despedideira”, seja por essa maneira de amar as mulheres, seja no trato que ele tem para com elas.
“- Me acompanha, JMC?
- E você quem é, minha flor?
- O meu nome você há-de chamar, mas só depois.
- Depois? Depois de quê?
- Ora, só depois...” (p.66).
***
“- O ontem é muito longe para mim. Minha lembrança só chega às coisas antigas.”
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>>> Acompanhe aqui a leitura dos contos de O fio das missangas.
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