Miacontear - Mana Celulina, a esferográvida

Por Pedro Fernandes



O espaço em que transcorre os acontecimentos de “Mana Celulina, a esferográfida” lembrou-me muito as terras sem-lei do nosso sertão nordestino, não apenas pela geografia do espaço recuperado no início da narrativa - um curral - mas, principalmente pelo comportamento da personagem de Salomão Pronto e do desenvolvimento das ações. 

Salomão Pronto recupera ipsis literis a figura do coronel sertanejo, pelo poder de decisão que carrega - “Até o governador o convocava em caso de sérias gravidades” - e pelas atitudes no desenvolvimento da narrativa. Herança da nossa literatura de 30 na ficção de Mia Couto? Certamente.

O fato é que a sua filha, Celulina, aparece grávida. O caso é de fazer o suposto pai, o vizinho Ervaristo Quase, confessar o delito. Novamente devo prestar (e chamar) atenção para o nome dessas personagens. Salomão, pelo já comentado poder decisório que carrega, logo remete à figura bíblica homônima e além do que, vem acompanhado pelo sobrenome Pronto, passando a ideia de fechamento, de sujeito centrado, de prontidão, apto a resolver qualquer embaraço.

Celulina, ao mesmo tempo que retoma a ideia de centro em torno do qual tudo se desenvolve, também aponta para um estado de pequenez, de suposta inocência. E, Ervaristo Quase traz em si um certo estágio de iminência - quase sucumbe aos mandos do velho Salomão, quase pai. Sim, porque a suposta inocência de Celulina desfaz-se na última linha da narrativa, como se desfaz a ideia de que Ervaristo é pai do “invisível ser que ali se enrolava”. 

Ligações a esta post
>>> Acompanhe aqui a leitura dos contos de O fio das missangas.


Comentários

Paulo Robert disse…
essa análise me ajudou muito, =)

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