Natalia Ginzburg



Natalia Ginzburg nasceu em Palermo, em 1916. Integra a lista dos mais significativos escritores italianos. Fez parte do círculo intelectual de maior expressão da literatura e crítica italiana, bastando que se cite os que dele faziam parte - Cesare Pavese, Italo Calvino, Elio Vittorini, Giulio Einauldi e Eugenio Montale. Casou-se com o editor e ativista político Leon Ginzburg, judeu russo nascido em Odessa, líder de um movimento clandestino antifascista - Giustizia e Libertà -, do qual participaram todos os membros da família. Com o advento dos fascistas ao poder, Leon, Natalia e os filhos foram confinados numa cidadezinha dos Abruzos. Após três anos de confinamento, Leon regressou a Turim e Roma, onde continuou a participar do movimento de resistência. Preso em 1943, foi transferido para uma prisão alemã, onde morreu sob torturas em fevereiro de 1944.

Do casal nasceu o renomado historiador Carlo Ginzburg, conhecido pela obra O queijo e os vermes e Mitos, emblemas, sinais. Depois da morte de Leone, Natalia chegou a casar-se novamente. Agora com o crítico literário Gabriele Baldini. Foi integrante do Partido Comunista, ativista política e deputada em 1963 e 1987, quando abraçou causas humanitárias (defesa das crianças palestinas, assistência legal para as vítimas de estupro, reforma das leis de adoção, etc.). Sua obra, obteve grande reconhecimento na Itália e no exterior, tendo sido além de escritora, editora (na Einauldi),  tradutora (em Turim) de obras de Marcel Proust - deste, ela a primeira tradutora em italiano - e de Gustave Flaubert. Seu primeiro romance,  La strada che va in città, vem a lume em 1942.  

Uma das primeiras edições da escritora a ter uma versão portuguesa aqui no Brasil, foi Léxico Familiar pela Paz e Terra, vertido por Homero Freitas de Andrade, em 1988; mais tarde a Coasc Naify entraria na empreitada de uma nova edição da tradução da obra. Este, que é um dos mais populares romances de Natalia, é um livro autobiográfico que narra a infância e a juventude da escritora.

"As memórias de sua convivência em uma família burguesa, letrada e judia, em meio ao fascismo e à Segunda Guerra Mundial, são narradas em estilo refinado e minimalista. Caçula de cinco irmãos, a menina recria o passado ao lembrar das frases repetidas em família. “Entre nós, basta uma palavra, uma frase, para restabelecer de imediato nossas antigas relações”, escreve.

No decorrer da narrativa, aparecem figuras proeminentes da cena italiana, como o editor Giulio Einauldi, o poeta Cesare Pavese (sobre a participação do poeta neste romance nasce o ensaio Retrato de um amigo que integra a obra As pequenas virtudes, lido, certa vez, Italo Calvino como o maior ensaio literário sobre o poeta), Luigi Salvatorelli, o escritor e pintor Carlo Levi e o industrial Adriano Olivetti (das máquinas de escrever), tratados com a intimidade de quem com eles conviveu. Grande sucesso desde seu lançamento, em 1963, a obra recebeu o mais importante prêmio literário da Itália, o Strega." - assinala o texto de apresentação da obra pela Cosac Naify. Léxico Familiar rememora ainda personagens como o pai de Natalia, Giuseppe Levi, famoso biólogo e histologista; a mãe, Lídia Tanzi, não-judia, de formação socialista.

Alguns outros livros de Natalia também já foram traduzidos em português. O romance Foi assim (Berlendis & Vertecchia), com tradução de Édson Roberto Bogas Garcia, publicado aqui em 2001, foi, segundo a crítica, a obra que assegura a escritora um grupo de leitores brasileiros encantados pelo seu estilo despojado, bem diverso do jargão de alguns escritores nossos que ainda teimam em confundir simplicidade com palavreado grosseiro.

"Considerada a mais legítima representante feminina do neorrealismo italiano de pós-guerra, Natalia Ginzburg utiliza uma linguagem direta, em que predominam os diálogos expressos em frases naturais, despidas de quaisquer artificialismos literários, mas que vão se aprofundando e ganhando substância à medida que delineiam seus personagens. Tal despojamento, no entanto, é apenas um dos aspectos de seu estilo personalíssimo, em que, sob a aparente narrativa de fatos corriqueiros, se introduz a obstinada defesa de seus valores pessoais e sociais, "sua integridade, sua paixão pela verdade e sua dedicação ao conceito de família"." - disse Ivo Barroso em texto para o Estadão.

Citável ainda é o seu Caro Michele - outro momento, que "carrega o efeito silenciador da história". O enredo se passa no início dos anos 1970, momento crítico da frágil democracia italiana, dilacerada entre extremismos de direita e esquerda. Por meio de cartas, diálogos e trechos narrativos, os personagens deste romance seguem um percurso errático e melancólico. As cartas são enviadas ao jovem Michele, no início dos anos 1970, em Roma, quando há um repique fascista na Itália.

O que constitui a tensão nessa obra é o que Manuel da Costa Pinto lê como "um longínquo fundo musical, difuso na incomunicabilidade entre Michele e sua mãe, Adriana: ela escreve ao filho, que vive na Inglaterra, mas ele só responde à irmã e a amigos, que compõem um quadro discreto de rivalidades sociais e intelectuais. A ação avança de maneira indireta nesse romance epistolar entremeado por alguns diálogos, e o acontecimento trágico que reata a esfera privada aos movimentos políticos surge como lapso no quadro de uma violência maior. 'A gente se acostuma com tudo quando não resta mais nada'; 'nos consolamos com nada quando não temos mais nada'. As frases, ditas por duas personagens, expressam a repetição dolorosa do hábito de sucumbir ao amesquinhamento das relações sociais - e de só viver a felicidade no pretérito."

Além dessas obras até aqui citadas, Natalia escreveu ainda È stato così, em 1947, Tutti i nostri ieri, em 1952, Valentino, em 1957, Sagittario, também em 1957, Le voci della sera, em 1961, Mai devi domandarmi, em 1970, Vita immaginaria, em 1974, La famiglia Manzoni, em 1983 e La città e la casa, em 1984. Natalia morreu em Roma, em 1991.


* Este texto foi composto por notas de Natalia Ginzburg no Wikipedia, Natalia Ginzburg e a saga de família, de Ivo Barroso, no jornal Estadão, 3 de abril de 2010, textos biográfico, e de apresentação das obras Léxico familiar e Caro Michele disponíveis no site da Cosac Naify e Itália em tom menor, de Manuel da Costa Pinto, publicado no Ilustrada, da Folha de São Paulo, 3 de setembro de 2010.


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