Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, de Woody Allen
Por Pedro Fernandes
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Anthony Hopkins e Naomi Watts em cena de Você vai conhecer o homem dos seus sonhos |
Lembro-me de ter visto poucos filmes do Woody Allen, apesar de toda a crítica especializada ou não falar por uma boca só de que ele é, sem dúvidas 'o cara' do cinema. Pode ser verdade. A julgar por produções com Vicky Cristina Barcelona e Tudo pode dar certo - dois dos filmes de Allen que vi e que me vêm à mente agora.
Este Você vai conhecer o homem dos seus sonhos vim vê-lo numa sessão daquelas que pingam ao acaso no meio dos filmes comerciais de Hollywood. E retoma um estilo de Allen que é a valorização do cotidiano como matéria de composição de seus filmes, um estilo meio 'europeizado' de se fazer cinema. Tem o tom de uma crônica porque é para ser visto como se ler um texto do gênero. Gosto desse tom, por várias razões - primeiro, porque muitas das vezes enxergamo-nos no interior do filme, dada a semelhança entre o drama das personagens e nosso próprio drama; e, segundo, um desdobramento da razão primeira, porque, mesmo parecendo simples e algo que está entranhado numa dada realidade, será sempre bem-quisto depois de muito tempo de seu lançamento. E isso se dá, na maioria das vezes, pelo fato de se preocupar com dramas que é de toda a humanidade. Pois bem, duas razões que são muito fortes para enquadrar esta última produção do Allen como brilhante.
Na trama, Alfie, numa interpretação de Anthony Hopkins (gostei de vê-lo nesse filme porque a imagem de Hopkins que ainda habitava minha curta memória cinematográfica só o associava ao Silêncio dos inocentes); Alfie se divorcia de Helena para buscar sua juventude perdida, na forma da acompanhante profissional Charmaine. Filha de Alfie e Helena, Sally também se vê infeliz no casamento com Roy e apaixona-se por seu chefe na galeria de arte onde trabalha, Greg. Roy, por sua vez, escritor que nunca conseguiu superar o sucesso de seu primeiro livro, se deixa levar pela beleza da vizinha Dia.
O que esse enlace de casos e acasos têm em comum é fato de que estão todos à espera que uma nova pessoa chegue em suas vidas para acabar com os problemas afetivos e os façam reviver aqueles lances de alta voltagem de paixão. O caso mais interessante, que é o responsável pelo tom cômico da trama, é o de Helena; levada pela conversa de uma futuróloga charlatã que promete dias melhores por vir, Helena vai alimentando um drama e construindo um caminho de fantasia amorosa em que nem ela própria sabe que rumo irá tomar.
De um filme como este vejo claramente uma pontada crítica para o estágio dos relacionamentos na atual conjuntura social, seja no seu ápice de um fracasso, seja no interesse desesperado e solitário pela busca de um ideal de paixão (ou amor) que não mais vigora, ou talvez nunca tenha vigorado. É evidente que Allen não deixa que esse tom pessimista domine o roteiro dessas suas personagens, já que os possíveis acertos que o filme sugere ao final se mostram como possibilidade de se acreditar, ainda, que uma metade outra nossa realmente existe e está mais próxima do que imaginamos. Não é um filme que se diga, de grande pulsão artística e/ou cinematográfica, mas pelo tom leve e pelo roteiro, vale a pena de se ver este filme.
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