O amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence

Por Pedro Fernandes

Em 2006, O amante de Lady Chatterley foi adaptado para o cinema. Agora, o romance de D. H. Lawrence é reeditado pela Companhia das Letras com tradução de Sergio Flaksman.

Esse romance fez parte de minhas primeiras incursões pelo mundo da leitura e da literatura. Pela época em que o li já tinha andado pelos territórios da Clarice Lispector, do Machado de Assis, do Aluísio Azevedo e estava ainda perdido quanto ao que ler e ainda encantado com romances mas apimentados. O amante de Lady Chatterley me atendeu ao duplo interesse. Vendo que, recentemente, a Companhia das Letras reedita essa obra de D. H. Lawrence achei por bem comentar sobre.

Trata-se de um romance de enredo simples. Ainda bem não havia se casado, Constance Chatterly, espécie de Bovary inglesa dada a sua criação burguesa, tem seu marido envolvido com a guerra. Depois de sua volta para casa, Clifford está paralisado da cintura para baixo. Colocando toda sua dedicação numa carreira literária e nos negócios da família o que se assiste é a abertura de um fosso entre ele e sua mulher. A válvula de escape para Constance será um morador da fazenda dos Chatterly, para onde ela se mudara com Clifford depois da volta dele da guerra. O que isso levará é ao envolvimento amoroso dois.

De onde olho hoje, gosto de ver esse romance como mais um daqueles muitos folhetins que, dentre outras coisas, serviam ao entretenimento feminino. No entanto, não se perde aí. O amante de Lady Chatterley acaba por compor uma rica representação da sociedade vitoriana. Tomando das relações internas de um casal, Lawrence acaba por compor esse painel e de um modo em que determinadas 'liberalizações' começavam a dar sinais, como a independência feminina nas relações matrimoniais. Não que Constance Chatterley se coloque como mulher à frente de seu tempo, ela é, do contrário, totalmente dependente dos laços que vai desenvolvendo com Oliver Mellors. Uma relação mediada pela cumplicidade e sobretudo pelo poder que  o falo exerce na vida dela - como materialidade externa a ambos os corpos, o masculino e o feminino, e elo entre os dois.

O amante de lady Chatterley, foi o último romance do autor. À época em que foi lançado, em 1928, chegou a ser esquecido e só seria publicado na Inglaterra da década de 1960. A edição que chega às livrarias pela Companhia, inclui o texto "A propósito de O amante de Lady Chatterley", em que seu autor tece comentário em torno das controvérsias em torno do livro e justifica suas intenções literárias. Além do que uma introdução escrita por Doris Lessing, apêndice e notas explicativas que situam o leitor na geografia das Midlands e no vasto contexto social e político no qual a trama está inserida.

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