O realismo irónico
Por Miguel Real Praticando um culto estilista da língua e sendo, com Mário Cláudio, um dos escritores vivos com mais amplo domínio de registo vocabular, seja clássico, seja moderno, Mário de Carvalho é possuidor de um vastíssimo leque de artifícios literários pelos quais encanta o leitor. Entre o anedotário, a paródia, a exploração surrealista da imaginação ( A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho , 1983; “Três personagens transviadas” e “Fenômenos da aviação”, in Contos vagabundos , 2001), o pastiche, o conto pícaro, a graça jocosa, a apologia e a parábola moralistas, mantém sempre uma admirável qualidade de escrita. Foi, porém, nas diversas modalidades do conto e do romance histórico ( Um deus passeando pela brisa da tarde , 1994) que Mário de Carvalho sobressaiu com uma impressionante mestria, seja enquanto criador de uma obra-prima do pícaro moderno ( Quatrocentos mil sestércios , 1991), seja enquanto cultor do conto histórico-romântico ( Conde Jano , 1991), no