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Mostrando postagens de novembro, 2010

Ainda Rachel de Queiroz, O Não Me Deixes

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O Não Me Deixes – suas histórias e sua cozinha é o primeiro livro da escritora Rachel de Queiroz que ganha reedição pela José Olympio Editora (o livro havia sido editado pela Editora Siciliano em 2000). Esta obra da romancista  não foge o seu tema preferido: o nordeste brasileiro. Aqui, ela mescla lembranças e gastronomia e apresenta algumas raridades da culinária sertaneja. A escritora revela o preparo de diversas receitas já consagradas em todo o Brasil e fala sobre os muitos ingredientes típicos da região. A descrição das mais diversas delícias aprendidas em Não me Deixe, fazenda da família no Ceará, revelam os costumes e os gostos do povo sertanejo. Já em outubro a José Olympio através havia lançado Tantos Anos , livro que reúne uma mistura de lembranças e receitas. Mais do que revelar traços de uma cultura da qual a escritora fez parte, O Não Me Deixes  é composto de uma memória afetiva que vem não através dos hábitos culinários, mas dos cheiros e sensações corporais provoc

Mandacaru, o inédito de Rachel de Queiroz

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Por Pedro Fernandes Rachel de Queiroz, 1997. Foto: Edu Simões/ Instituto Moreira Salles No dia 17 de novembro passado fechou-se o ciclo sobre o primeiro centenário da escritora Rachel de Queiroz, um dos nomes principais da chamada Literatura de 1930 no Brasil. No Rio de Janeiro, o Instituto Moreira Salles (IMS) lançou uma coletânea que apresenta uma faceta pretendida e pouco conhecida da escritora: a da poeta.  Intitulada Mandacaru a antologia é uma compilação fac-similar de dez manuscritos até então inéditos e pertencentes ao Fundo Rachel de Queiroz no IMS. O livro estava integralmente organizado pela escritora que desistiu de levar adiante a publicação e o que restou, além de fragmentos divulgados pela imprensa, onde ela foi sempre muito ativa como cronista, foi a compilação que generosamente entregou a sua amiga Alba Frota.  Alba guardou o caderno e antes de sua morte em 1987 devolveu para a família de Rachel. O material acabou indo junto com os cerca de cinco mil ite

Fecha-se mais um ciclo. Abre-se outro

Por Pedro Fernandes Escrevo essa nota num sábado porque o 27 de novembro é a data mais importante deste veículo que existe desde 2010. Sim, é aniversário do Letras in.verso e re.verso e se ele ainda sobrevive três anos depois é porque, mesmo não me dando nenhum retorno, acredito que seja um instrumento de escrita importante, sobretudo, para mim. É um espaço que nasceu, nunca me cansarei de contar essa história, do acaso e hoje continua respirando esses mesmos ares. Então fecha-se o terceiro ano deste blog; é um ciclo. Abre-se outro. Vamos ver o que reserva esse quanto ano que agora se inaugura. Que traga bons frutos como os dois que daqui ganharam forma: sabem do Caderno-revista 7faces ? E do Selo Letras in.verso e re.verso ? Pela data, dei uma repaginada no espaço. E os seguidores do blog no Facebook, Orkut e Twitter podem ainda enviar suas fichas de inscrição para participarem da promoção posta no ar desde o dia 06 de novembro: aqui . Abaixo, deixo um vídeo comemorativo

O Poema Enterrado: uma experiência-limite

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Por Ferreira Gullar Entre 1959 e 1961, quando nasceu e eclodiu o movimento neoconcreto, tornei-me amigo de Hélio Oiticica, que eu tinha como uma espécie de irmão mais novo. Ele, aliás, era o mais moço do grupo e o último a se juntar a ele, tanto que não participou da primeira exposição neoconcreta, inaugurada em março de 1959, no MAM do Rio, nem assinou o manifesto, publicado naquela ocasião. Mas Hélio, de todos, era o mais determinado a buscar novos caminhos de expressão, a levar adiante as propostas que surgiam do trabalho e da troca de ideias e de experiências. Ele estava convencido de que a arte neoconcreta abrira um território novo à criação artística. Esse era um tema frequente em nossas conversas, que, na verdade, se limitavam a algumas hipóteses sem resposta. A resposta não estava no discurso, mas no trabalho criador. O incêndio, que recentemente destruiu grande parte de suas obras, chegou-me como uma notícia inverossímil pelo telefone, quando a repórter me falou

Tropa de Elite 2, de José Padilha

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Por Pedro Fernandes Já não havia ido bem com a cara do primeiro. E desse segundo então, me perdoem os milhões de expectadores que já foram ao cinema e aplaudiram o Capitão Nascimento, não gostei mesmo. Tropa de Elite 2 assume uma face daquilo de pior que podemos ser - a face do embrutecimento dos corpos e da substituição do humano por androides de carne, osso, arma e violência. Não que se trate de um filme de apologia à violência, mas é um filme que extrapola o limite do homem como homem e isso é ruim. E não venha me dizer que o que se vê nele é o retrato real daquilo que se tornou o Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro. Nem sempre o real é aquilo que se vê e o Tropa de elite 2  mais me pareceu uma encenação do itinerário da violência que está diariamente estampado nos telejornais. Parece que depois de aprendermos a filmar favelas e tiras estamos fadado a esse círculo. Assisti ao filme ainda na sua estreia. Sessões lotadas. E tanto é o público que o filme ainda se agarra

Reedição para Novas cartas portuguesas

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O escritor português Eduardo Pitta divulga no seu blog a publicação de uma nova edição para as Novas cartas portuguesas , livro escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa e que marcou época na cultura e na literatura de Portugal. Trata-se de uma publicação organizada por outro nome importante das letras portuguesas contemporânea, a poeta Ana Luísa Amaral para a casa editoral D. Quixote. Em Maio de 1971, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa pegaram na tradução portuguesa, feita por Eugénio de Andrade, de Lettres Portugaises (1669), compilação de cinco cartas de amor endereçadas por Mariana Alcoforado a um oficial francês, com o intuito de "desmontar e re-montar" os limites da linguagem. Partiam da compilação de Claude Barbin das cinco cartas atribuídas ora à freira de Beja, ora a Gabriel-Joseph de Guilleragues. Dezenas de traduções e reedições em várias línguas, desde 1669, eram motivo bastante. Novas Cartas

Notas sobre o II Festival Literário da Praia da Pipa (FLIPIPA)

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Por Pedro Fernandes Vista da Praia da Pipa A O visor do celular marca-me 8h da manhã. Era essa a hora que eu partia, no dia 18 de novembro, para uma das praias mais badaladas do litoral do Rio Grande do Norte. Praia batizada há muito, ainda pelos anos de mil e quinhentos e tanto, dado o formato de uma das falésias ser o de uma pipa (falésias, aliás, que povoam toda a praia). A praia tornou-se o destino turístico de todo aquele que vem a Natal. Vir a Natal e não ir a Pipa, não veio a Natal. Conhecida por além das belezas naturais, pela intensa noite, os dois elementos juntos só poderia culminar num espaço para promoção cultural. E se o tom salobre do mar e o calor do sol não são ingredientes para, dentro da cultura, a inserção da literatura, a ideia desfez-se. Pipa é já espaço ideal, justamente por estas características, para agregar discussões literárias. Em 2009, realizou-se o I Festival Literário da Pipa. Na agenda do evento, nomes importantes, como o da escritora Né

A 18, encontro com Saramago (V)

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Iniciativa posta na rede desde o dia 18 julho; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. A edição deste mês tem dupla importância; novembro é mês em que nós, os saramaguianos, comemoramos os 88 anos do escritor, feitos no último dia 16. O fragmento que leio hoje é, na verdade, uma crônica do escritor que dá contas de um dos elementos que compõem o temário, podemos assim dizer, José Saramago: Deus. É peça-chave que se apresenta em toda a obra saramaguiana, mais forte em dois romances - O Evangelho segundo Jesus Cristo (1992) e Caim (2009). Intitulada Dios como problema Saramago retoma a ideia de Deus que marca bem esses dois romances para entendê-lo como uma má acertada criação humana. Publicado incialmente no dia 1 de agosto de 2005 no jornal espanhol El País , onde Saramago publicou uma série de textos numa atividade intensa que

Milagrário pessoal, de Agualusa

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Milagrário pessoal , nono romance de Agualusa, conta a história de um homem que, para seduzir uma mulher, lhe oferece uma nova linguagem. É uma declaração de amor à língua portuguesa. É ela a verdadeira protagonista da história entre um professor angolano e sua discípula, especialista em neologismos. Um dia, a moça parece encontrar a fonte do que seria uma nova língua. “Iara começa a receber centenas de palavras, tão bonitas, extraordinárias, urgentes e necessárias que as pessoas se apropriam delas e começam a utilizá-las sem sequer darem conta que são palavras novas”, explica Agualusa. Juntos, os dois partem em busca dessa coleção de misteriosas palavras, que teriam sido roubadas de uma suposta língua dos pássaros. “No fim, é uma grande viagem pela língua portuguesa, pela sua história e pela forma como ela se foi afeiçoando a territórios tão diversos geograficamente”, complementa. O romance é ainda a história de amor entre Iara e esse homem maduro, que é também o narra

O dom do crime, de Marco Lucchesi

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Não bastasse a dúvida imortal que continua mobilizando os leitores de Dom Casmurro , se Capitu traiu ou não Bentinho, eis que chega às livrarias um livro que bem pode instaurar outra indagação: afinal, as personagens do enlace amoroso construído por Machado de Assis teriam existido fora da ficção?  Trata-se de O dom do crime ,   o novo livro do escritor Marco Lucchesi. Esta é sua primeira incursão pela prosa; até agora, conhecíamos o poeta, o ensaísta e o tradutor. Tal como apresentado na sinopse divulgada pela casa editorial responsável pela publicação, o escritor “mistura prosa e poesia, numa linguagem que encanta e hipnotiza”.    O ponto de partida do livro é uma acontecimento situado no Rio de Janeiro de 1866: o médico-cirurgião José Mariano da Silva matou a esposa Helena por suspeita de adultério e se defendeu, como era legal no seu tempo, utilizando-se do argumento de defesa da honra. O fato é suficiente para que Lucchesi trace um paralelo com uma das obras mais conhecidas

Clarice Lispector: entrevistas ― Lygia Fagundes Telles

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Um dos livros de leitura despretensiosa, e por isso mesmo, delicioso de se ler, é Clarice Lispector: Entrevistas (Editora Rocco). A vivência da escritora com o jornalismo permitiu o contato com uma variedade de figuras, que vão de um Alceu Amoroso Lima a um Tarcísio Meira, de Antônio Callado a um Zagallo. O destaque a seguir é a cópia da conversa de Clarice com Lygia Fagundes Telles.   _______   Eu pretendia ir a São Paulo para entrevistar Lygia Fagundes Telles, pois valia a pena a viagem. Mas acontece que ela veio ao Rio para lançar seu novo livro, Seminário dos ratos . Entre parênteses, já comecei a ler e me parece de ótima qualidade. O fato dela vir ao Rio, o que me facilitaria as coisas, combina com Lygia: ela nunca dificulta nada. Conheço a Lygia desde o começo do sempre. Pois não me lembro de ter sido apresentada a ela. Nós nos adoramos. As nossas conversas são francas e as mais variadas. Ora se fala em livros, ora se fala sobre maquilagem e moda, não temos preconceitos. Às veze

A Academia não tem mais tempo para blá blá

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Por Pedro Fernandes Tenho ainda que tomar fôlego porque daqui que chegue o outro lado do rio ainda me faltam muitas braçadas. Não que a extensão seja longa, é o nado que deve ser preciso. De preferência, que todas as braçadas sejam perfeitas. Isso, claro, exige do nadador. A extensão que me falta é pouco mais de 40 páginas ou o que poderei chamar de mais um capítulo ao meu texto de dissertação. Ainda que se foi o tempo em que para se redigir um texto desses precisávamos de traçar um nado que começaria ainda nos primeiros mares da existência do mundo e vínhamos de lá para cá. E ainda não é difícil encontrar com trabalhos em que o nadador nada tanto que morre à beira de chegar do outro lado. Ou ainda que o nadador se perca em alguma correnteza e fique rodopiando no mesmo lugar até que a água lhe afogue. Os textos acadêmicos cada vez mais exigem de quem escreve mais precisão, mas justeza ao itinerário e, claro, mais leitura e mais posição do sujeito-autor no texto. Se antes pe

Cegueira - um ensaio, de Fernando Meirelles

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Cegueira - um ensaio , de Fernando Meirelles. Foto de Alexandre Ermel e Ken Woroner para o livro. Ao espectador comum, os muitos fatores envolvidos na produção de um filme costumam passar despercebidos. Da elaboração do roteiro, passando pela escolha do elenco, até minúcias de ordem técnica, tudo fica oculto quando se assiste ao resultado final. O livro Cegueira - um ensaio , de Fernando Meirelles, é uma rara oportunidade de olhar por dentro os bastidores de um longa-metragem. O livro foi idealizado por Silvinha Meirelles, irmã do cineasta, a partir do conjunto de textos publicados por ele num blog no período quando trabalhava na produção e filmagem de Blindness , obra feita a partir do romance  Ensaio sobre a cegueira , de José Saramago. O resultado do livro agora publicado é belíssimo. O leitor tem contato não apenas com os bastidores, mas com as confidências do diretor; seus textos ora mostram as dúvidas, as inseguranças, as decisões e as lições aprendidas no set e sobr

Roald Dahl

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Por Donald Sturrock 19 de setembro de 1940. Um pequeno caça monomotor biplano da Força Real Aérea Britânica (RAF) se dirige ao sudoeste atravessando o deserto da Líbia. Os últimos raios do entardecer iluminam a areia com um intenso brilho avermelhado. O piloto está sobrevoando a superfície. Tentando juntar-se com seu esquadrão, mas não consegue localizar a pista de pouso camuflada. Seu tanque de nafta está quase vazio e logo será noite. Só resta uma alternativa possível – uma aterrissagem forçada. Com desespero, passa à baixa altura sobre um solo rugoso, buscando uma área lisa para pousar. Mas não aparece nenhum lugar propício. O sol desaparece por trás do horizonte e ele decide arriscar-se, reduzindo a marcha e descendo a uns 80 p, rezando para que as rodas não batam contra alguma pedra. Mas a sorte não está do seu lado. O trem de pouso bate numa pedra e o avião cai no mesmo instante, com o nariz enterrado na areia. Com a impulsão violenta, o piloto choca-se contra o