Do Encontro de Escritores Potiguares me saem algumas notas

Por Pedro Fernandes

imagem do Blog Cenas urbanas, do escritor e compositor Tony Belloto


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Olhei e reolhei o texto da Maria Betânia Monteiro que notifica a programação da terceira edição do Encontro de Escritores Potiguares. Pelo que eu andei vendo das duas primeiras edições, o evento de 2010 parece que vem mais fortalecido e já com cara de se firmar como para-além de um encontro, mas um movimento que vise fomentar consciências pró-literatura potiguar.

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Recentemente, fazendo divulgação dos meus movimentos literários pró-Saramago, recebo em minha caixa de e-mails uma nota do jornalista Franklin Jorge me pedindo que, enquanto acadêmico, desse mais atenção a Literatura Potiguar. A este e-mail respondi com as pequenas atividades acadêmicas que tenho promovido em prol da literatura do estado. Estudo o Saramago - dizia eu - mas sou também um leitor da nossa literatura, prova é que propus junto a esse evento em Assu (referindo-me ao I SIMLEVA, que acontece em dezembro no Campus da UERN, em Assu), um grupo de trabalho para discutir a produção literária nossa. Continuei: Ainda não sou professor de universidade para levantar mais ainda essa bandeira e sei que as três universidades de que dispomos são avessas às discussões de nossa literatura ficando o interesse restrito a ilhotas minoritárias que, não raras vezes, sofre descaso dos outros colegas e de outros grupos de pesquisa dentro de tais instituições. Eis um problema. E findei com: De minha parte, faço o possível, entretanto - seja com essas pequenas iniciativas, seja escrevendo textos para a imprensa - como já fiz com a poesia do Jorge Fernandes, da Zila Mamede, da Marize Castro, da Auta de Souza... Mas, vejamos, até publicar na imprensa de maior circulação - e aí cito o caso da Tribuna do Norte, Diário de Natal, como exemplos - é uma grande dificuldade, um muro que mais precisamos ser soldado que escritor para derrubar e poder dar nossa voz...

3
Pois bem, creio que o e-mail vem em boa hora para o que eu quero falar acerca do Encontro de Escritores Potiguares. Dizia que o evento parece se firmar como movimento pro-literatura potiguar, assim como parece as feiras de livros realizadas no interior do estado, a de Mossoró e a do Seridó. Mas não sei até onde pode resistir essa previsão. Temos, sim, um sistema literário com todas as constelações possíveis. Mas, temos também algo muito grave. Padecemos de um bairrismo desajeitado que não permite nossa expansão para-além das fronteiras do estado. Sou mais pessimista ainda. Sequer para-além das fronteiras do seu próprio nicho, que é a capital do estado. Os eventos de porte como esse Encontro que começa hoje reúnem sempre as mesmas vozes, que entoam sempre a mesma ladainha; quando não, arrebanhamos um número de estrelas do eixo poder Rio-São Paulo e ficamos aqui ofuscados com tais estrelas esquecendo dos nossos...

Talvez devamos mesmo é olhar para movimentos com estes que se formaram noutros estados para entender o que é realmente um movimento pró-literatura local. Cito aqui como exemplo o Rio Grande do Sul. Não me detenho é em analisar o que Rio Grande do Sul fez para se inserir na corrente literária brasileira. Mas vejo como um movimento que deu certo por uma razão não se deteve em investir em ideias novas e não se deteve em respingar doses homeopáticas contra os bolores para por um movimento viçoso, com ideias respirando ares novos.

E aqui no Rio Grande do Norte sinto que há pessoas com essa capacidade, sinto que há ideias desse tipo. Mas vejo que a ordem do dia aqui parece ser a do escanteio. As vozes que se põem a atiçar a mesmice por um lugar mais revigorado não têm apadrinhamentos e para tê-los necessita entrar no círculo vicioso da ladainha e repetir sempre o mesmo texto. Por não ser bem quisto no rol dos conchavos essa gente não tem espaço, seja nos jornais, como falei com Franklin Jorge, seja em movimentos como este da União Brasileiras de Escritores Potiguares. Não entendo como pode se firmar um movimento pró-literatura potiguar se os incentivos são dados mais àqueles que fingem respirar literatura do que àqueles que fazem, realmente, literatura. E não cito nomes. Mas sei que há uma leva de pessoas que se beneficiam de determinados status de literários sem, necessariamente, fazer por a horda algo que se possa chamar de literatura. É o mal da província, fundar círculos fechados. O que tenho a dizer é que de confrarias não saem muita coisa e muito menos de bairrismos; a casa tem de ser para todos os que tem real interesse em fazer-valer.



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