Sabor de amar, de Paulo de Tarso Correia de Melo


Nota: Recebi o contato sobre a apresentação do livro Sabor de amar, do escritor Paulo de Tarso Correia de Melo e, ao buscar mais informações sobre, encontrei com um texto assinado pela repórter Maria Betânia Monteiro publicado no caderno Viver, do jornal Tribuna do norte; texto que reproduzo logo abaixo com um outro ajuste de revisão. Tarso dispensa apresentações para os leitores, porque é um dos mais conceituados escritores do Rio Grande do Norte, com uma obra já consolidada. Falo pela boca do também poeta David Leite. Ao dizer isso, confesso minha ignorância de ainda não ter a oportunidade de ler sua obra. Apenas poemas esparsos que catei tão logo soube desse novo livro. Mas vindo isso da boca de um nome que desponta como um nome significativo para as letras do estado, com seu Incerto caminhar (livro este que tive o prazer de ler e comentá-lo aqui) não tenho dúvidas em repetir por minha voz o que disse David Leite. Aliás, é ele quem assina o prefácio desta nova edição que vem publicada pela Sarau das Letras, editora de Mossoró (RN) que já trouxe tantos e tantos títulos, entre eles o do próprio David Leite. Convém lembrar que há pouco mais de um ano, o poeta Tarso Correia de Melo aparece numa edição omnibus de sua poética, através da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob o título de Talhe rupestre – poesia reunida e inéditos, organizada e anotada pelo escritor Carlos Newton Júnior. (Pedro Fernandes)




VERSOS EM GAVETA DE CARVALHO

Editado pela Sarau das Letras, editora mossoroense que vem abrindo espaço para o autor local publicar sua obra e já contabiliza 24 títulos publicados, Sabor de amar sai com tiragem inicial de 500 exemplares.

O livro é uma obra diferente das realizadas anteriormente pelo autor. “Estes poemas são inéditos por tratarem da expressão pessoal, por revelarem meu estado de espírito”, conta o escritor, entre sorrisos discretos. Apesar de estarem ganhando as mãos do público pela primeira vez, os poemas foram curtidos, como brinca Tarso, em “gavetas de carvalho”.

Os vinte e oito poemas, distribuídos em 71 páginas, foram criados ao longo de vinte anos. Um tempo, que segundo Tarso, não consumiu o apreço pela novidade, nem a preocupação com a tradição poética. “O livro deixa entrever uma preocupação omitida em minha poesia. Preocupo-me com a tradição. Entrego ao leitor versos fixos e livres e uma reflexão”, disse.

Como todo bom livro em verso ou em prosa dedicado ao amor, este não poderia deixar de falar da lua, do corpo e do abraço. Em “Corpos da paixão”, o autor entrega ao leitor cenário e sentimento. “Teu braço/ árvore/de que se faz/ berço ataúde/ para meu coração./No alto/ a alva lua/ do músculo maior/ move-se como/ espelhada em um lago./Como se desta imagem/re/fletida/nascesse/o caule do antebraço/a nervura das veias/ – árvore da vida –/e a delicada flor da mão/ – carnívora –/ balançou à brisa leve/da carícia”, escreveu Paulo de Tarso.

Em Sabor de amar, Paulo de Tarso também saúda a sua musa inspiradora, Ana Maria (sua mulher). Para ela, talvez tenha escrito: “É preciso correr e escrever/um poema em louvor aos teus olhos/ cor de tarde. Líquidas e enormes,/em meio ao azul, tuas pupilas ardem./ Água e fogo sobre minha pele ardente/e meu corpo desgastado – teus olhos/ que brotam da minha mente –/ fontes do teu corpo adivinhado”.

Tarso em prosa

Paulo de Tarso é um escritor peculiar, detentor do domínio da boa escrita, possui catorze obras publicadas. Apesar de décadas de produção, o autor publicou sua primeira obra em 1991, tudo que escrevia confinava à gaveta. A grande oportunidade de tornar público surgiu quando estava ocioso em seu papel de professor, durante uma greve que assolou a UFRN e durou três meses, tempo suficiente para que revisse sua produção e a publicasse, para sorte dos leitores.

Assim surgiu a primeira versão de Talhe rupestre, poemas resultantes de andanças pela Grécia e Portugal, que promovem uma reflexão sobre o fato poético, suas origens, suas implicações com o idioma português.

Em 1998, publicou Romances de Alcaçus, reescrita de romances ao modo do século XVI, ainda cantado por rendeiras analfabetas na localidade de Alcaçus, no Rio Grande do Norte e registrados pelo folclorista Deífilo Gurgel. Em 2001, foi a vez de 14 Moedas Antigas, anti-sonetos sobre heróis históricos e literários, publicados em separata da Revista da academia Norte-Rio-grandense de Letras.

Desta forma, publicou igualmente, em 2002, Casa da metáfora, demonstração que metáfora fixa é característica da poesia popular nordestina. Rio dos homens, retrato da decadência socioeconômica de uma típica cidade interiorana e canavieira foi publicado em Recife, pelas Edições Bagaço, em 2002. Em 2005, esta mesma editora publica Sobrado das palavras, retrato espiritual de uma casa de infância.

Em 2008, por ocasião do cinquentenário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sua editora reedita Talhe Rupestre – Poesia reunida e inéditos, volume organizado por Carlos Newton Júnior, que incluem, além dos oito livros anteriormente editados, os inéditos: Uma nova antologia pessoal, Sabença, Cantos de amerigo e outros cantares da terra natal e Assuntos de família, perfazendo uma dúzia de títulos poéticos publicados.

A escrita do poeta
Letra de Música

Canção pobre
amanhecida
em amanhecer de infância
nada me valerá
se eu precisar chamar
esta lembrança

Poema rouco
perdido
nos subúrbios de criança
nada me valerá
se eu precisar chamar
esta lembrança

Longo olhar
da juventude
feito de espera e esperança
nada me valerá
se eu precisar chamar
esta lembrança

Calor no corpo
sentido
vestido em camisa branca
Passarinho
engaiolado
na jaula da adolescência
Suor e sangue
escorrido
crucifixão e dança

Nada me valerá
se eu precisar chamar
essa lembrança.


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