Mais dez filmes que contam sobre a vida de escritores
As vantagens
das listas é que são não apenas guias mas uma estratégia de reunir num só lugar
algumas aproximações sobre determinadas obras (se for o caso delas) que
levariam longo tempo para apresentá-las uma a uma. Em dezembro de 2009 (ver o
final da post) copiamos uma delas com onze filmes sobre a vida, ou algum
aspecto da vida, de escritores; sobre este tema é possível que voltemos outras
vezes, assim como fazemos agora. Por enquanto, fica, para apetite dos leitores, mais esses dez títulos cujo
interesse é ainda o mesmo do ano anterior.
O mistério de Agatha, 1979. O mais antigo filme desta
lista reconstrói um dos episódios mais interessantes da pacata vida de Agatha
Christie. Depois de descobrir que estava sendo traída, a escritora pede o
divórcio e sai de casa. O que ninguém esperava é que esta saída representasse
um sumiço de quase duas semanas que parou todo o Reino Unido através da imprensa
que tentava bisbilhotar o que havia se passado com a Rainha do Crime. Investigações
à parte, sabe-se que o episódio, por mais que tenha se falado sobre, nunca teve um desfecho claro tal como os dos
romances de Agatha. Dirigido por Michael Apted, o filme tem a presença marcante
de Dustin Hoffman.
Wilde, 1997. A produção dirigida por
Brian Gilbert narra a história do poeta e dramaturgo inglês Oscar Wilde – que dispensa
apresentações, obviamente. Se dispensa apresentações, não dispensa convites
para conhecê-lo melhor, afinal, qualquer figura à frente de seu tempo tem
sempre muito a se saber. Aqui, o cineasta explora entre outras coisas, uma das
situações mais dramáticas da vida de Wilde: seu envolvimento amoroso com Lord
Alfred Douglas e a condenação por isso numa época em que ser gay era já o maior
dos crimes.
Uivo, 2010. Sem dúvidas é este um
título interessante ao clube dos admiradores da chamada Geração Beat. O filme
de Rob Epstein é seu primeiro título do gênero ficcional (antes só havia se
aventurado por essa seara da sétima arte como documentarista). Como o nome sugere, trata-se de um dos períodos
mais fundamentais da vida de Allen Ginsberg, um dos principais nomes dessa
geração: o de quando escreve e publica o poema Uivo integrado na antologia Howl
and other poems. Com um Ginsberg vivido
por James Franco, ator que tem despertado interesse pela filmografia de obras
literárias, essa produção não se dedica apenas ao episódio central que lhe
nomeia, mas à censura sofrida pelo poeta e o período bastante conturbado do
pós-Segunda Guerra nos Estados Unidos.
Contos proibidos do Marquês de Sade,
2001. O filme de Philip Kaufman é sobre os últimos anos da vida do Marquês; é
sabido que Sade passou por diversas casas de recolhimento dado seu temperamento
libertino, que o espectador encontrará muito bem representado na pele do ator
Geoffrey Rush. Amigo do asilo onde vive, o Marquês troca confidências sobre a afeição
vivida pelos dois para com a mulher que cuida das lavagens de roupa do lugar. A
aparente liberdade de Sade dura até o ponto em que chega ao asilo um médico com
o intuito de curá-lo de sua aparente loucura.
Henry & June: delírios eróticos, 1990.
Muito antes de mergulhar no mundo desvairado do Marquês Sade, Kaufman
investigou, com esse filme, a extensa relação amorosa vivida entre os escritores
Henry Miller, sua companheira e a amante – esta, ninguém menos que Anaïs Nin. O
envolvimento entre os dois se deu quando, o estadunidense foi convidado a ir
viver na França pelo companheiro da escritora. Ao conhecer Miller, Nin
desenvolve uma paixão por ele, a princípio não correspondida e ela então
mistura-se ao amor dele por June.
Brilho de uma paixão, 2009. Jane
Campion recria a Londres de 1818 para contar a história de amor entre o jovem
poeta John Keats e a vizinha Fanny, estudante de moda. O envolvimento dos dois acontece
quando o irmão do poeta adoece e ela oferece-lhe os préstimos de cuidadora do
rapaz; Keats, encantado com a postura firme e os modos de posicionar ante situações
diversas de Fanny lhe retribui o zelo com o irmão com aulas de poesia. Bom, já
imaginam o que sairá desse troca-troca de favores, não é?
Os irmãos Grimm, 2005. Wilhelm e Jacob são
estudiosos da linguagem que, em certo momento de suas pesquisas, viram a
necessidade de, com o acesso cada vez mais ampliado ao universo da escrita,
catalogar as histórias contadas em vários povoados do interior da Europa. O
resultado dessa empreitada está nos compêndios de histórias de culto em todo mundo,
como “Rapunzel”, “Chapeuzinho Vermelho”, entre outros. Bem, o filme de Terry Gilliam,
com Matt Damon e Heath Ledger, exagera um bocado na fantasia e coloca-os numa
Europa comandada por Napoleão Bonaparte enfrentando monstros e demônios falsos
em troca de dinheiro fácil.
Mishima: uma vida em quatro capítulos, 1985. O filme de Paul Scharader, escrito por
ele e pelo irmão, Leonard Schrader, levou dez anos até sua estreia; entre as
dificuldades enfrentadas pelo diretor estavam a posição do próprio escritor
japonês, firme voz contra os Estados Unidos, o que dificultava encontrar patrocinadores para levar adiante a ideia e, depois, a recusa da viúva de
Mishima, que, sabedora da base criativa da produção, não permitia a realização do
trabalho de Schrader – o intuito do diretor era usar dados da vida do escritor
e da sua obra. Se o filme aconteceu é porque as dificuldades foram superadas. Organizado em quatro capítulos, tal como informa o título da
tradução brasileira, em cada um deles, Schrader trata de um aspecto da vida de
Mishima com teatralizações da obra do escritor. O filme nunca teve estreia no
Japão, apesar de apresentado diversas vezes na TV do país com corte de uma
cena realizada num bar gay. No mesmo ano de estreia, o filme levou a Palma de
Ouro como Melhor Filme no Festival de Cannes.
Antes do anoitecer, 2000. Dirigido por Julian Schnabel, trata-se de uma produção sobre o escritor cubano Reinado Arenas. Gay e conhecido por sua oposição ao governo de Fidel Castro, Arenas deixou seu país natal e viveu até o seu suicídio em 1990 nos Estados Unidos. O filme de Schnabel é baseado na autobiografia de mesmo título do escritor e retoma sua vida desde a infância, a perseguição sofrida pelo regime castrista e o preconceito enfrentado dentro e fora de seu país.
Barfly: condenados pelo vício, 1987. Apresentado
sempre como uma quase autobiografia do escritor Charles Bukowski, o filme é um
retrato sobre um dos últimos ícones da Geração Beat do período quando viveu em
Los Angeles, na Califórnia. Dirigido por Barbet Schroeder, a produção tem dois
dedos do próprio Bukowski: um, o roteiro, escrito por ele a pedido do diretor
(e curiosamente publicado com ilustrações suas ainda quando o filme não estava
pronto); outro, uma aparição sem voz do escritor.
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