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Mostrando postagens de julho, 2010

Cabaré, de Bob Fosse

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Depois de os musicais terem se tornado mais raros em Hollywood, a partir do fim dos 1950, a estréia de Cabaré , do diretor Bob Fosse, colocou o gênero de novo em evidência. Desta vez, no entanto, o tom é mais escuro, menos eufórico que o dos musicais das décadas anteriores. A obra foi admirada por um público enorme e ganhou oito Oscar, embora não tenha recebido o de Melhor Filme. Mais de 30 anos depois, Liza Minnelli (filha da atriz Judy Garland e do grande diretor de musicais Vincent Minnelli) ainda tem sua imagem associada aos cílios postiços e à maquiagem forte de sua personagem, a cantora e dançarina Sally Bowles.  Na Berlim de 1931, no contexto da forte crise social-política-econômica que originou a ascensão do nazismo ao poder dois anos depois, Sally trabalha num cabaré, o Kit Kat Klub, com o sonho de tornar-se estrela de cinema, sem poupar meios para realizá-lo. Envolve-se com um professor britânico e bissexual, Brian Roberts (Michael York), e, ambos com o barão a

Sobre a poesia

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Por Adélia Prado Quando eu falo de poesia, não é apenas da poesia que, eventualmente, nem sempre nós encontramos nos poemas; falo do fenômeno poético de natureza epifânica, reveladora, daquilo que confere a uma obra de arte o estatuto de obra de arte. Poder ser música, pode ser escultura, a pintura, teatro, dança, cinema e literatura, que é onde eu me coloco. Tudo isso que foi nomeado, tudo aquilo que eu chamo de arte se justifica pela poesia que ela contém; se não tiver poesia não é cinema, não é teatro, não é pintura, não é literatura. Não tendo, ela é tudo, menos obra de arte. A obra verdadeira ela é sempre nova. Não cansa porque traz em si mesma e apesar de si mesma algo que não lhe pertence e nem pertence ao seu autor. Vem de outro lugar, de uma instância mais alta e através da única via possível, que é a vida da beleza. Em arte, quando eu falo beleza, eu tô falando não de boniteza, mas de forma. Arte é forma; não é do bonito que nós estamos falando. A forma, a beleza, rev

Ezra Pound: santo laico, poeta louco

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Por Manuel Vicent A mistura de um santo laico e de um poeta louco resulta num profeta. Houve um que se chamou Ezra Pound. Nasceu casualmente no dia 30 de outubro de 1885 no povoado perdido de Hailey, em Idaho, interior profundo do Oeste estadunidense, onde seu pai foi trabalhar na inspeção de uma mina de ouro em sua propriedade, mas aos seis meses foi enviado para Nova York e aí passou a adolescência como um cachorro urbano sem coleira nem glória alguma. Licenciou-se em línguas românicas pela Universidade da Pensilvânia. Foi professor de uma escola básica, logo contestado por alguns. Teve uma primeira noiva, Mary Moore, que um dia perguntou por sua casa. Ezra contestou que sua casa era só uma mochila e carregou com ela.  Quando sua mãe, Isabel Weston, abandonada por seu marido, foi internada num asilo, o poeta, com 20 anos, pegou seus pertences e foi para a Inglaterra em busca dos escritores e outros colegas que admirava, tais como Joyce, D. H. Lawrence, T. S. Eliot, Yea

O Pântano, de Lucrecia Martel

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Da elogiadíssima nova safra do cinema argentino, a diretora e roteirista Lucrecia Martel é talvez o principal destaque individual, aquele que mais tem se preocupado em criar um universo ficcional próprio e original. Em seus dois longas, O Pântano  (2000) e A Menina Santa  (2004), ambos passados no norte da Argentina (região onde nasceu), há uma semelhança no trato da dissolução dos relacionamentos familiares, na influência da culpa católica e também em ambientações particulares, como a presença de piscinas. O Pântano , o mais cultuado dos dois, conta a história de duas matriarcas e suas famílias desajustadas que passam alguns dias na úmida cidade de La Ciénaga (título original da obra). Mecha (Graciela Borges) observa, literalmente inerte, quase sem se levantar da cama, o marido se afundar no álcool e a relação incestuosa entre os filhos. Já Tali (Mercedes Morán), tenta se dedicar ao máximo à família, e ainda assim, não consegue impedir um acidente doméstico com o filho. Os

Escrever não é bicho de sete cabeças, mas assusta

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Por Pedro Fernandes Escrever não é outra tentativa de destruição mas antes a tentativa de reconstruir tudo pelo lado de dentro, medindo e pesando todas as engrenagens, as rodas dentadas, aferindo os eixos milimetricamente, examinando o oscilar silencioso das molas e a vibração rítmica das moléculas no interior dos aços. José Saramago, Manual de pintura e caligrafia Todo texto é um desafio imposto para quem lê, mas mais ainda para quem se aventure na escrita dele. Até hoje, depois de ter lido O prazer do texto , de Roland Barthes, não sei especificar se realmente é prazer o que sinto no ato de escrever e se o prazer barthesiano realmente existe ou não. Talvez esteja aí sua natureza de prazer - a incapacidade de especificidade daquilo que é da ordem do sentimento.  O projeto de minha dissertação foi escrito ainda em meados do segundo semestre de 2008; foi gestado desde início desse ano. Depois de submetido a um exame de seleção na UFRN, que foi o pior trauma que

A 18, encontro com José Saramago (I)

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A iniciativa de congregar os leitores de Saramago em torno dos seus livros, propostas ou reflexões a cada dia 18, e fazê-lo cordialmente, com uma taça de vinho, com a alegria de saber-nos seus contemporâneos, nasceu de forma espontânea em Madrid e Lanzarote e de gente que lhe queria bem. Para lançá-la não pediram autorização a ninguém nem necessitavam de fazê-lo: celebrar Saramago e a sua obra dependerá da sensibilidade de cada leitor e os que puseram em marcha este projecto - obrigado Fernando Berlín, Olga Rodríguez, Juan Diego Bottos, Emilio Silva, obrigado, María del Río - demonstraram elegância e finura intelectual e, sem dúvida, elegeram a melhor fórmula porque a fizeram nascer de um livro, do coração de O ano da morte de Ricardo Reis . Brindar com uma taça de vinho em todos os continentes do mundo, falar de Saramago, ler umas páginas de qualquer livro, ser livres de preconceitos e de prisões, discutir com a liberdade que Saramago reclamava e fazê-lo de forma explícita aos dia

Guerra nas estrelas, de George Lucas

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Guerra nas Estrelas  é um daqueles casos de obras que ultrapassam o celulóide. Mais que filme, é fenômeno pop, uma marca bastante rentável que se desdobra em videogames, brinquedos, discos com a inconfundível trilha sonora de John Williams, roupas e outras cinco sequências. George Lucas cujos longas até então eram respeitados mas com êxito comercial apenas regular, debruçou-se no roteiro por cerca de três anos até acertar a versão final. Sua idéia desde o início era criar uma espécie de western  de ficção científica, inspirado também nos filmes de samurai do diretor japonês Akira Kurosawa. Nenhum estúdio acreditava que uma cara aventura espacial pudesse triunfar comercialmente. A Fox, então, apostou no projeto e viu nascer um campeão de bilheteria, memorável desde a narração de abertura. Ao lado de Tubarão  (1975) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Guerra nas Estrelas  eternizou o termo blockbuster  e deu início à era dos efeitos especiais. Não à toa, as s

Diário de bordo ou um desafio que possivelmente não irei cumprir

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Por Pedro Fernandes Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. José Saramago, A bagagem do viajante Quando em processo de gestar um texto, o mundo se encolhe; você se encolhe - se encasula. Não há nada externo a esse caso, a essa cápsula, que lhe convença ser mais importante do que este ser em gestação. Como cangurus devemo-lhes uma atenção dobrada, redobrada, antes que o filhote caia da bolsa marsupial a pular por aí com os pais. Esse é meu caso com a escrita; esteja escrevendo um poema, um texto para jornal, um ensaio acadêmico... Recentemente, depois de romper o medo que esse mar de letras sempre me imprime dei início oficial a escrita de minha dissertação de mestrado. Isso que agora escrevo nesta post não é um anúncio. Até o presente não vi ainda que textos como dissertações e teses se prestem a esse propósito. Se nos encapsulamos para a escrita, parece que em tais textos nos encapsulamos na

Invasores, de Oliver Hirschbiegel

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Por Pedro Fernandes Ao pesquisar sobre a recepção da crítica acerca de Invasores  descobri que o livro The body snatchers , de Jack Finney, publicado em 1954 e que ganhou essa leitura para o cinema em 2007, já contava com outra produção cinematográfica e, a julgar pelo que li, a versão antiga (o filme é de 1956, e saiu com o título de Vampiros de almas ) é   um bocado melhor do que essa de Oliver Hirschbiegel. Certamente, no passado, parece que as limitações tecnológicas para a construção de efeitos especiais, por exemplo, levavam os cineastas a capricharem no conteúdo, perda que é cada vez mais recorrente se olharmos de perto o que está em cartaz sempre nos cinemas. Mais ainda depois da consolidação do cinema 3D e das franquias para pasteurização das histórias em quadrinhos. Na década de 1950, Don Siegel, se beneficiou do contexto evocado pela obra: a paranoia do macartismo e sua caça às bruxas e trouxe o tema para o interior da linha principal da narrativa: a invasão da Ter

Relembrar Saramago

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O caderno Domingo trouxe matéria sobre José Saramago. A matéria foi elaborada de conversas minhas com a editora do caderno e refaz o trajeto biográfico do escritor ressaltando algumas peculiaridades que não devem ser lidas como novidades. Abaixo reproduzo a matéria e faço algumas correções: onde se lê "Atualmente fazendo mestrado em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)", leia-se "Atualmente fazendo mestrado em Letras na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)". (Pedro Fernandes) A PERDA DE UM GRANDE ESCRITOR Algumas pessoas parecem nascer para mudar a ordem das coisas e todas as probabilidades. Ao observar a origem humilde e difícil de José de Souza Saramago não se imaginaria que ele se tornaria um dos mais importantes escritores da língua portuguesa, com vasta obra publicada. Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, a nordeste de Lisboa. Filho de agricultores sem terra que imigraram para Lisboa,

Um Jesus na Playboy

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Por Pedro Fernandes O título desta post se refere a homenagem - ou não sei o quê - que a Playboy portuguesa (foto da capa, acima) inventou de reservar, na edição deste mês, ao escritor José Saramago. Por esta capa - aliás, de gosto duvidoso - se vê um Jesus recebendo nos braços uma mulher seminua, como se uma Madalena, numa espécie de releitura da Pietà. A revista traz uma reprise da entrevista feita ao escritor em 1995 e publicada na edição brasileira. Toda a entrevista segue ilustrada por ensaio fotográfico em que Jesus está em meio a mulheres seminuas em várias situações. Se isso era uma homenagem acho que o tiro saiu pela culatra. Particularmente não simpatizei com a ideia e vejo nela muito mais um oportunismo gratuito no uso da imagem do escritor que homenagem. Não se trata essa opinião aqui de uma visão cristã; pela religião - se talvez fosse esse o pretexto da Playboy, aproveitando que mexer no sagrado está na moda e dá ibope - eu até entendo. E sou mesmo de acordo c

D. H. Lawrence

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Não faz muito tempo que li O amante de Lady Chatterley , de D. H. Lawrence. Mas parece que esse me foi mais um daqueles romances que só passaram pela minha frente. Apimentadíssimo. Quente demais para a frieza dos ingleses. Dificilmente não se lerá este romance sem se ficar excitado. Há horas até que parece sermos transportado para um interior de um daqueles filmes pornôs arrumadinhos. Talvez isso venha justificar o grande sucesso que esse romance fez à época. Imaginemos: em plena década de 20, sociedade vitoriana, o que isso foi. Barato não foi; tudo isso fez do escritor um mal quisto na Inglaterra a ponto de forçá-lo ao exílio. Recente ao ler o primeiro volume d' O segundo sexo , da Simone de Beauvior, eis que me deparo com a teórica falar das personagens feminas de Lawrence, dentre elas, a de O amante de Lady Chartterley . Mulheres ligadas aos homens por através de seus falos; mulheres portanto submissas. Os romances de Lawrence são um misto pedagogizante; fruto talv

A Lista de Schindler, de Steven Spielberg

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Steven Spielberg é considerado, por muitos, um gênio da indústria cinematográfica de Hollywood desde o megassucesso de Tubarão  (1975). Mas sua carreira ficou marcada por filmes de universo infanto-juvenil, como E. T.  (1982), Contatos Imediatos do Terceiro Grau  (1977) e a trilogia Indiana Jones  (1981, 1984 e 1989). Suas tentativas eventuais de abordar temas adultos ou "sérios", como em A Cor Púrpura  (1985) e Além da Eternidade  (1989), foram recebidas sem muito entusiasmo.  Nesse quadro, quando realizou A Lista de Schindler , o cineasta e produtor deu o passo mais importante rumo à consolidação de sua imagem, o que se traduziu em oito Oscar em 1994, incluindo Melhor Filme e Direção. Sua abordagem do Holocausto mostra as formas mais cruéis do extermínio utilizadas pelos nazistas, mas procurando evitar a espetacularização. Para isso, ele concentra e transfere sua visão humanista para o personagem real de Oskar Schindler, industrial que aproveitava a fachada de su

Roberto Piva

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O ano tem dado provas tristes aos da Literatura. Se fosse enumerar por aqui a sucessão de vidas ceifadas pela dama negra, este espaço se transformaria, em definitivo, num obituário. Anteontem, 03 de julho, de 2010, foi a vez do poeta Roberto Piva. O poeta teve uma vida que começou, girou e findou em torno da cidade de São Paulo. Piva cresceu e formou-se entre a capital e as antigas fazendas do pai, no interior do Estado. Seus primeiros poemas foram publicados em 1961, quando tinha 23 anos. Por essa época integrou a Antologia dos Novíssimos, de Massao Ohno, na qual se lançaram vários poetas brasileiros iniciantes, que depois desenvolveram uma obra poética de importância. Foi formado em Sociologia e levou boa parte da vida profissional como professor de estudos sociais e história. Nos anos de 1970, tornou-se produtor de shows de rock. São Paulo, apesar de a ela está vincado sempre  lhe pareceu apocalíptica, exemplo do que não deve ser feito contra o meio ambiente, por isso sem

Os de Macatuba, de Tarcísio Gurgel

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Por Pedro Fernandes Faz certo tempo que li esse achado de Tarcísio Gurgel. Digo achado porque estive durante muito tempo à procura desse livro. Para ser exato, desde quando, por volta de 2001-2002, soube da escrita do potiguar e soube desse livro. É certo que, depois de tanta procura, já colocara o livro nos confins da lista de livros que tenho em planos para leitura. E, em meados de 2009, sem querer, encontro com Os de Macatuba ; na biblioteca do Mestrado. E a edição de 1986, a segunda, quando publicada pelas Edições Clima; a primeira data de 1975. A verdade é que livros assim parecem nos atravessar o caminho na ocasião em que não os procuramos. Depois de tanto tempo à procura do livro, é ele que me acha. Os de Macatuba , uma pretensa coleção de contos que juntos podem compor um romance, é sim um grande livro da literatura escrita no Rio Grande do Norte. Não reside nessa afirmativa nenhum vexame, nem tampouco, emoção catártica de quem acaba de sair da leitura da obra. O que

Diva cunha

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Habito os dez mil e quinhentos universos sugeridos pela física quântica satisfeita de ser tantas em tantos Diva Cunha, Resina Diva Cunha é um das autoras mais interessantes da cena poética contemporânea, sobretudo a do Rio Grande do Norte, sempre tomada por nomes interessados em escrever poesia, mas poucos, realmente poetas. Além de se dedicar ao ofício do verso, ela, como professora, tem se dedicado à pesquisa e escrito também um conjunto de ensaios que sem dúvidas está no rol dos fundamentais quando o assunto é mulher e literatura, ou ainda a relação mito e literatura, temas pelos quais ela perscruta em sua obra do gênero. A escritora nasceu em Natal, em 1947. Foi aluna do Colégio Imaculada Conceição; formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; cursou a Pós-Graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, defendendo a dissertação de mestrado Dom Sebastião: a metáfora de uma espera , publicada em livro em 1979 - seu primeiro.