Um caderno para Saramago: página um ou a capa

Por Pedro Fernandes

José Saramago durante leitura de As intermitências da morte, Feira Internacional do Livro, Teatro Diana, Guadalajara, México, novembro de 2006. Foto: Iván García.


Que quem se cala quando me calei
não poderá morrer sem dizer tudo

(José Saramago, Os poemas possíveis)


O meu contato com a obra de José Saramago vem ainda quando da Graduação em Letras, meados do quinto para sexto semestre, em finais de 2006. Na época estava passando por um período de transição para os estudos com o texto literário; foi quando encontrei na biblioteca da faculdade O evangelho segundo Jesus Cristo, primeiro romance do escritor que tive a oportunidade de ler.

Logo, minha atenção se voltou para um aspecto quase que unânime e corriqueiro aos que se deparam a primeira vez com a obra mais conhecida do autor: o estilo típico de narrar, que preserva o fôlego da oralidade no trajeto de escrita, fazendo do texto literário “exercício muscular” (usando termos do escritor na entrevista dada a Carlos Reis, 1998), forma escorreita, impossível de à primeira vista precisar momentos de narração, falação ou volição psicológica do narrador e da personagem.

O estranhamento que esse estilo de narrar me causou, forçando-me a reler umas três ou quatro vezes, logo, as primeiras páginas do romance, veio com uma voz inconsciente que me disse: “este é um escritor a ser estudado”. De lá para cá, somam-se já quatro anos que leio a obra de José Saramago.

Quando descubro as raízes do escritor e aquilo que sempre traz à tona com seus romances, inúmeras questões das que perpassam e constituem o homem, sua existência, sua essência, seu espaço em suas mais diversas dimensões, me identifico totalmente com aquilo que ele escreve. Conforme disse na postagem sobre sua perda, é como se o que Saramago dissesse fosse aquilo que eu sempre quis dizer para mundo, mas não tive ou não sou capaz.

O resultado das minhas primeiras observações foi um trabalho de conclusão do curso, em que tomando como leitura O conto da ilha desconhecida (1997) como um texto permeado de uma residualidade do Existencialismo, movimento preconizado por Jean-Paul Sartre entre os anos 1940 e 1970, refleti sobre a constituição do ser tendo por matéria os movimentos operados pela personagem central do referido conto.

Ainda, na academia tenho ministrado algumas palestras e algumas comunicações, bem como escrito, ao longo desses quatro anos, uma leva de textos sobre a obra do escritor, que podem ser consultados no meu espaço curricular.

Por este espaço, foram variadas as posts que dediquei ao escritor. Notas sobre sua obra, sobre o andamento de sua obra ou mesmo especulações que meu o lado do fã (que nunca se esquivou) deixou, por vezes, falar mais alto. E muito ainda haverá de sair por aqui.

Hoje, apresento todos os endereços para as posts que já tiveram lugar no Letras in.verso e re.verso a fim de  assinalar o nascimento de um projeto que desenho junto com a elaboração de uma edição especial sobre a obra poética de José Saramago. Chama-se, como o título desta mensagem indica: Um caderno para Saramago.


1. Nota sobre O evangelho segundo Jesus Cristo mais o primeiro capítulo do romance
2. Nota sobre Objecto quase
3. Um conto de Objecto quase
4. Nota sobre A bagagem do viajante
5. Um dedo de prosa sobre a pontuação insólita em José Saramago
6. As veias de Saramago poeta, breve homenagem
7. Nota sobre Manual de pintura de caligrafia
8. As veias de Saramago poeta (II)
9. José Saramago escreve sobre Jorge de Sena (crônica de Folhas políticas)

10. José Saramago escreve sobre Fernando Pessoa (texto para exposição Um rosto para F Pessoa
11. Notas (divulgando o novo livro do escritor e o filme Blindness, de Fernando Meirelles)
12. A viagem do elefante, os 86 anos de José Saramago e outras novidades saramaguianas
13. Release sobre a exposição José Saramago: a consistência dos sonhos no Instituto Tomie Ohtake
14. James Wood e a leitura de As intermitências da morte
15. Uma lista de filmes que Saramago viu entre 1970 e 1980
16. Blindness (a crônica de um leitor que viu a adaptação de Ensaio sobre a cegueira para o cinema)
17. José Saramago escreve sobre Chico Buarque
18. José Saramago e o elogio a Jorge Amado
19. Mar de leite (sobre a adaptação de Ensaio sobre a cegueira) 
20. Nota sobre As pequenas memórias

21. Nota sobre Memorial do convento
22. Nota sobre O homem duplicado
23. Estes cães de Saramago
24. Nota sobre A caverna
25. A caverna, de José Saramago, outras impressões
26. Nota sobre In nomine dei
27. A lista de leitura de José Saramago
28. José Saramago e gosto pelo cinema
29. Filme conta a história do escritor português e Pilar del Río
30. Especulações sobre o Caim

31. Voltar a Levantado do chão, de José Saramago
32. O grito de Caim, por José Saramago
33. A obra de um polígrafo (últimas especulações sobre Saramago e a escrita depois de Caim)
34. Nota sobre o ensaio O ser em O conto da ilha desconhecida diante do ser sartriano
35. Saramago negro
36. José Saramago e sua paixão pelo cinema (seguido de uma lista de filmes vistos pelo escritor)
37. Os escritores perante o racismo (conferência de José Saramago no Rio de Janeiro em 1996)
38. Voltar a Caim
39. Nota sobre A jangada de pedra
40. Reedição de A jangada de pedra em favor do Haiti

41. Nota sobre Ensaio sobre a cegueira
42. Biografia de Saramago
43. Sobre o novo livro de José Saramago (e texto de Umberto Eco)
44. José Saramago, por João Marques Lopes 
45. Nota sobre Ensaio sobre a lucidez
46. Nota sobre A viagem do elefante
47. Nota sobre O conto da ilha desconhecida
48. Fragmentos de As intermitências da Morte e ao som de Bach
49. Nota sobre A maior flor do mundo
50. Resenha sobre a biografia de José Saramago escrita por João Marques Lopes

51. Voltar a Caim (II)

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #607

Boletim Letras 360º #597

Han Kang, o romance como arte da deambulação

Rio sangue, de Ronaldo Correia de Brito

Boletim Letras 360º #596