Um ano para Jorge Amado

Por Pedro Fernandes




1. A volta à literatura de Jorge Amado já tem rendido muito; claro estamos às vésperas, pode-se dizer seu centenário. Se desde 2008, uma das maiores editoras brasileiras se dedica ao exaustivo trabalho de reedição de toda a obra do mestre brasileiro, em 2010, duas outras ações são tão marcantes quanto.

2. A primeira delas foi a realização do Seminário Acadêmico Internacional Jorge Amado (divulgado em nossa rede social), figurado em dois grandes centros de discussão do Brasil: a cidade tão ilustrada nos seus romances, Salvador, e São Paulo. Dos dias 24 a 28 de maio passado, grandes nomes da crítica literária brasileira voltaram às obras de Jorge à cata de novos sabores. Terão encontrado; não apenas pela extensa obra, mas pela riqueza evocada em cada um dos títulos.

3. Louvo a iniciativa, principalmente pelo fato de que o Centro-Sul tem um saldo devedor para com a obra de Jorge Amado, sobretudo, a crítica literária que agora cumpre o interesse por olhar como se deve para a literatura do baiano. Quando digo isso, digo com uma pitada clara razão. Qualquer estudante de Letras sabe disso porque logo há de se lembrar dos compêndios literários que figuram nos referenciais das discussões sobre Literatura Brasileira; e eles falam de Jorge como se fizesse um favor ou reconhecesse no autor um mero favoritismo comercial. Quando se sabe que o que Jorge Amado fez com sua literatura está para além disso tudo.

4. Receio que uma das razões para olhar torto sobre a obra de Jorge Amado esteja atrelado à constante queda de braço quando o escritor, ainda jovem, esteve sempre do lado da esquerda (foi preso três vezes pelo regime de Getúlio Vargas e teve livros queimados em praça pública). E, os grandes intelectuais, sobretudo os mais midiáticos estiveram, contrariando a posição esperada de um intelectual mais alinhados com uma certa centro-direita. Nas regiões onde se escreve aquilo que toda parte do país lê reinou (e ainda reina em parte) um total desconhecimento, desinteresse ou desvalorização do que se produz desse lado.

5. Outra ação é que está nos cinemas brasileiros o filme de Quincas Berro d'Água. A obra se apropria daquilo que marcou nossa literatura, que foi a vez de um defunto-autor criado pelo carioca Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas. O defunto-autor de Jorge, entretanto, dispensa a sisudez machadiana e é tão escrachado quanto qualquer outro vivo da literatura do baiano; o filme é baseado no texto A morte e a morte de Quincas Berro D'água (publicado como folhetim na extinta revista Senhor e depois incluído num volume de três novelas O capitã-de-longo-curso, em 1961. Claro, depois, a obra apareceu publicada isoladamente.

6. Nesse rol de produções cinematográficas aguarda-se ainda a rodagem de Capitães da areia. Sobre o primeiro filme, publico por aqui, depois, uma nota com minhas impressões.

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