Piaf - um hino ao amor, de Olivier Dahan

Por Pedro Fernandes




Piaf - um hino ao amor é a cinebiografia da cantora francesa Edith Piaf (1915-1963). A narrativa cobre da infância, marcada pela mãe ausente, a adoção temporária por prostitutas e a relação com o pai difícil e autoritário,  até o início, o auge e o declínio da aplaudida carreira. Sim, Piaf teve uma vida para merecer uma obra como a produzida por Olivier Dahan. No fundo, toda existência poderia dar num filme (para glosar da frase de Mallarmé de que toda vida é um livro). Mas, todos hão de convir que existências cujo relevo se sobrepõe sobre as existências comuns. Pelas breves linhas que traçam uma sinopse de Piaf vê-se que sua vida preenche uma linha no rol das que estão em relevo.

Um dos triunfos do longa é a narrativa não-linear: contar os eventos da vida de Piaf sem seguir uma ordem cronológica, como se trazida pelo movimento da memória de alguém que conta, trazendo episódios do passado como instantes de iluminação sobre o presente do narrado, é uma estratégia brilhante para, primeiro, não perder as diversas fases de uma vida tão intensa como a retratada, e, segundo, conseguir condensar da melhor maneira possível uma existência num curto espaço de horas. Só isso (que não é um recurso novo, mas é bem utilizado pelo diretor) faz a grandiosidade do filme.

É também esse ir e vir de temporalidades que dão ao espectador a capacidade de compreender certas curiosidades sobre a vida de Piaf, como por exemplo, esse nome, por que adotou o nome de Piaf, ou como compôs canções clássicas como "La vie en rose" ou ainda por que, na primeira fase de sua obra, circula tanto o tema do desamor, da miséria das ruas e da falta de afeto.Se às vezes algumas cenas parecem um tanto quanto deslocadas, no geral o resultado é um trabalho poético e impactante.

Mas, não é só o enredo. Há a atuação magnética de Marion Cotillard, que a faz a intérprete adulta, e as canções que pontuam o filme que vão costurando os distintos eventos da trajetória da artista e sua personalidade; Cotillard ultrapassa e muito figurões como o Gérard Depardieu, quem está também no elenco. E por essa personagem, a atriz construiu uma série de linhas no seu currículo com premiações como o Globo de Ouro e o Bafta.

A seguir, um dos raros momentos da cantora francesa, em "Non, je ne regrette rien"



Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

Mortes de intelectual

16 + 2 romances de formação que devemos ler