Exuberante deserto, de Dror Shaul
Por Pedro Fernandes
O filme de 2006 é mais uma peça do diretor israelense Dror Shaul. E é um texto de forte intervenção política porque toca em questões concernentes ao território do Oriente Médio. O que temos é um ano na vida do garoto Dvir, morador de um kibutz ao sul de Israel nos anos 1970. Todos sabem que esses assentamentos para comunidades judaicas criados desde 1948 são um estratégia de dominação e cerceamento sionista porque, antes de servir de preservação dos judeus é um modo de deixá-los à mercê do Estado e de todas as garantias subsidiadas por este, por exemplo.
O filme de 2006 é mais uma peça do diretor israelense Dror Shaul. E é um texto de forte intervenção política porque toca em questões concernentes ao território do Oriente Médio. O que temos é um ano na vida do garoto Dvir, morador de um kibutz ao sul de Israel nos anos 1970. Todos sabem que esses assentamentos para comunidades judaicas criados desde 1948 são um estratégia de dominação e cerceamento sionista porque, antes de servir de preservação dos judeus é um modo de deixá-los à mercê do Estado e de todas as garantias subsidiadas por este, por exemplo.
A estratégia de sobrevivência dessas pequenas comunidades foi a união numa coletividade, irmanadas pelo mesmo drama; dessa relação coletiva colocaram em prática o exercício de um modo de socialismo e auto-sustentabilidade, elementos cruciais, diga-se para se manter não apenas destituído das ações do Estado, mas, muitas vezes à mercê de um ambiente inóspito como é o deserto. Os kibutz acabaram por se tornar uma espécie de oásis da esperança, em que a prática de auto-sustentação exigiu de todos disciplina.
Mas, esses oásis não podem ser tomados como símbolos de perfeição ou exemplos de subsistência do homem em sua forma coletiva. Entre todo grupo há aqueles que, por razões diversas, nunca estarão alinhadas com os princípios e estarão propícios a desestruturar, de alguma maneira, a coletividade; também é fato que, numa situação como esta, nada garante um infiltramento das forças israelitas para exercer toda sorte de interesses de desestruturação da ordem. Assim, trabalham as nações mais poderosas quando as menores ensaiam qualquer saída do estágio de opressão.
Todas essas aparecem de algum modo implicadas no enredo de Exuberante deserto. O menino Dvir, órfão de pai e extremamente tocado pela infelicidade da mãe, é preparado pelos da comunidade onde vive para manter-se na vida adulta dentro dos princípios de um kibutzim. Este é o enredo do filme que muito da própria vida do diretor que, viveu desde quando nasceu aos 22 anos num kibutz ao sul de Israel. Numa das muitas entrevistas que deu depois do lançamento do filme disse que a personagem mãe de Dvir é um espelho da sua mãe que, desde sempre acreditou no seu trabalho e na capacidade de que um todos iriam "ouvir sua história".
E como um filme que tem ora um pé nesse lugar da memória e outro no da denúncia, a criação de uma personagem criança é um propósito bem arrumado de dar contas das duas vias sem muita responsabilidade sobre o diz: isto é, nem um compromisso exacerbado pela verdade do fato, nem o de atacar diretamente um sistema político específico porque, por esse sistema, pode ser visto apenas como um exercício de mirabolismo ficcional.
Exuberante deserto expõe o mal da restrição de liberdade, o constante exercício de intimidação, as práticas de hipocrisia entre os da comunidade, adultério e rebaixamento do homem às condições mais baixas em prol de exercer-se enquanto indivíduo. De modo que, aos poucos Dvir vai tomando conhecimento de que não "funcionamento perfeito da comunidade". Se desfaz uma inocência sobre tal como se desfaz a inocência de uma criança ante a vida. O mau, é que há algumas falhas nesse processo de transposição do mundo adulto para esse olhar de iniciação sobre o mundo. Dror acaba por produzir, no fim das contas um filme de olhar adulto para adultos.
Isto é, a idéia do filme é muito boa, mas sua execução deixa a desejar, o que não impede, claro de dizer uma leitura sobre uma série de questões e conflitos sobre a impossibilidade da existência de comunidade ideal, sobretudo, quando o comunitário é elevado à esfera de sobreposição das individualidades.
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