Viridiana, de Luis Buñuel
Cineasta anticlerical escandalizou a igreja católica, que considerou a obra um insulto ao espírito do cristianismo
Em 1936, com as condições de trabalho dificultadas pela Guerra Civil, Luis Buñuel deixou a Espanha e foi para o México, onde realizou pérolas como Os Esquecidos (1950), O Alucinado (1952) e Escravos do Rancor (1954). Apenas em 1961, 25 anos depois do exílio, Buñuel pode voltar à sua terra natal, ironicamente convidado pelo ministro da cultura do general e ditador Francisco Franco. O resultado do retorno, Viridiana, chocou tanto o governo e a igreja que Buñuel novamente precisou ir embora - outra vez para o México e, mais tarde, para a França -, e o filme acabou proibido na Espanha por vários anos. Dá para entender: Viridiana é uma pedrada do diretor (que dizia ser ateu, "graças a Deus") no cristianismo e suas contradições. É uma alfinetada na acomodada adesão católica a Franco durante a guerra.
A jovem Viridiana (Silvia Pinal) está prestes a ser ordenada freira e vai visitar o marido viúvo de uma tia, Don Jaime (Fernando Rey), um homem bondoso, mas que não consegue resistir aos instintos e à semelhança da sobrinha com sua esposa falecida. Acaba drogando Viridiana para possuí-la durante o sono. Reluta na última hora e comete suicídio. Sentindo-se culpada e acreditando não ser mais pura, a moça desiste da igreja e resolve trabalhar para ajudar os necessitados. Aloja um grupo de mendigos e vagabundos na mansão do tio e passa a educá-los e a prepará-los para uma vida de trabalho e fé. Os mendigos se recusam a pegar no batente e se aproveitam da boa vontade da anfitriã - uma crítica de Buñuel ao assistencialismo e à caridade católicos em relação às classes inferiores, movidos, em sua opinião, por mera culpa e hipocrisia. No clímax do filme, os mendigos ocupam uma sala de jantar e lá promovem o caos, em uma releitura de A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (imagem). Viridiana é estuprada, como consequência da bondade. No fim, entrega-se a uma orgia, concluindo assim que seu idealismo foi derrotado pelo cinismo.
A pressão do Vaticano (que considerou a obra um insulto ao cristianismo) e a ditadura franquista não foi suficiente para prejudicar o desempenho do filme e Viridiana ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
* Revista Bravo!, 2007, p.50
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