O mundo está gritando por Deus ou a Igreja grita por fiéis
Por Pedro Fernandes
Em artigo recente publicado no jornal Correio da Tarde o padre Matias Soares deu ao leitor sua profissão de fé. Respeito e admiro os que tem essa fé. Não consigo alcançá-la. Por que? Não sei. Defeito? Também não sei. Pode ser também uma qualidade. Depende do ângulo que você enxerga a questão. O fato é que essa crença cega - epíteto para fé - tem algumas afirmativas que carecem de ser revistas, afinal as coisas não são apenas o que parecem ser, mas são também aquilo que não parecem. Não existe absolutismo em nada. E se viver de relativismos nos tira do eixo de fixidez, problema nenhum, nunca fomos possuidores mesmo desse eixo de fixidez e a verdade não passa de uma invenção que pode no dobrar da esquina se transformar em mentira.
Fazendo relações entre "uma pessoa que tem uma experiência de Fé, no sentido teológico-cristão" e "um solipsista do vazio falando sobre sua existência no mundo e para o mundo" o artigo do padre dizia em relação a este último: "Ele nega a possibilidade do tudo, porém, não sabe o que fazer com o que lhe resta, ou seja, o nada." Não me parece. Acho que do mesmo problema da falta do que fazer com o nada de que padecem "os solipsistas do vazio" padecem "as pessoas que tem uma experiência de Fé". A diferença reside no fato de que estes últimos conseguem agarrar-se ao vazio e ao invés de buscar uma resposta cabível num desconhecido inventado preferem acomodar-se, aquietar-se perante a autoridade divina. Fôssemos todos assim e ainda estaríamos sob regime de opressão e cerceamento que a religião tem imposto ao mundo ao longo de sua existência.
Fazendo relações entre "uma pessoa que tem uma experiência de Fé, no sentido teológico-cristão" e "um solipsista do vazio falando sobre sua existência no mundo e para o mundo" o artigo do padre dizia em relação a este último: "Ele nega a possibilidade do tudo, porém, não sabe o que fazer com o que lhe resta, ou seja, o nada." Não me parece. Acho que do mesmo problema da falta do que fazer com o nada de que padecem "os solipsistas do vazio" padecem "as pessoas que tem uma experiência de Fé". A diferença reside no fato de que estes últimos conseguem agarrar-se ao vazio e ao invés de buscar uma resposta cabível num desconhecido inventado preferem acomodar-se, aquietar-se perante a autoridade divina. Fôssemos todos assim e ainda estaríamos sob regime de opressão e cerceamento que a religião tem imposto ao mundo ao longo de sua existência.
Não é o mundo que grita por Deus, mas é a religião, que na debanda de fieis para a leva de credos que se multiplicam feito rastilho de pólvora, grita por fieis. Se o padre afirma que "na certeza de Deus o vazio não tem mais enigma" é porque Deus para os católicos e os crente Nele é figura inabalável, que se recusa à dúvida, é centralizador, absolutista e, sendo dono dessas qualidades, é figura arrogante, que não se permite ao questionamento, nem ao erro. Na verdade, Deus é sim enigma tanto quanto o vazio: antes essa figura estava no céu, depois que o homem lá subiu transformou-se em fumaça que agora vigia e está feito ar em todo lugar. Logo, afinal, quem é Deus?
Concordo, entretanto, com o autor, por mais contraditório que pareça, quando este vem dizer que "a ausência de Deus desequilibra a relação do ser humano com o mundo circundante". Talvez Deus sendo enigma não é de todos o problema da raça humana, mas sim o uso que as religiões fazem dele. Essa sim desequilibra a relação do ser humano com o mundo circundante. Se cada um de nós nos entendêssemos particularmente com nossas divindades (e aqui até o vazio pode ser uma delas) boa parte das carnificinas humanas teriam sido poupadas, porque sabemos que são as religiões com seus discursos preconceituosos, cerceadores o mal que rege o mundo e põe homens contra homens.
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