Faz-me rir, mundo caduco (de como não se pode ler a poesia-puta de Hilda Hilst)

Por Pedro Fernandes



O reizinho gay

Mudo, pintudão
O reizinho gay
Reinava soberano
Sobre toda nação.
Mas reinava...
APENAS....
Pela linda peroba
Que se lhe advinhava
Entre as coxas grossas.
Quando os doutos do reino
Fizeram-lhe perguntas
Como por exemplo
Se um rei pintudo
Teria o direito
De somente por isso
Ficar sempre mudo
Pela primeira vez
Mostrou-lhes a bronha
Sem cerimônia.
Foi um Oh!!! geral
E desmaios e ais
E doutos e senhoras
Despencaram nos braços
De seus aios.
E de muitos maridos
Sabichões e bispos
Escapou-se um grito.
Daí em diante
Sempre que a multidão
Se mostrava odiosa
Com a falta de palavras
Do chefe da Nação
O reizinho gay
Aparecia indômito
Na rampa ou na sacada
Com a bronha na mão.
E eram ós agudos
Dissidentes mudos
Que se ajoelhavam
Diante do mistério
Desse régio falo
Que de tão gigante
Parecia etéreo.
E foi assim que o reino
Embasbacado, mudo
Aquietou-se sonhando
Com seu rei pintudo.
Mas um dia...
Acabou-se da turba a fantasia.
O reizinho gritou
Na rampa e na sacada
Ao meio-dia:
Ando cansado
De exibir meu mastruço
Para quem nem é russo.
E quero sem demora
Um bocado negro
Para raspar meu ganso.
Quero um cu cabeludo!
E foi assim
Que o reino inteiro
Sucumbiu de susto
Diante de tal evento...
Desse reino perdido
Na memória dos tempos
Só restaram cinzas
Levadas pelo vento.

Moral da história:
a palavra é necessária
diante do absurdo.

O poema acima não é epígrafe ao que vou dizer; é já o texto. A quem não conhece, ele é de autoria da poeta Hilda Hilst e está no seu livro Bufólicas. Não é sobre o poema diretamente que quero falar, mas sobre um incidente ocorrido com ele, comigo e um amigo numa livraria, dia desses. Para começo de história esse meu amigo não gosta de literatura. Também para começo de história, estávamos - eu me divertindo e ele me aturando - na livraria enquanto dava horas para o começo da sessão de cinema. E foi aí que dei de cara com esse livro da Hilda e com esse poema, mais precisamente. Ri à beça. E como ri, achei que seria interessante lê-lo para ele. E fui ler. Passado metade do poema (e na livraria estávamos no setor dos livros infanto-juvenis) ele pede para que eu pare. Eu continuo. Ele desaforadamente pede para que pare. E fico só, relendo meu Reizinho gay. Dias depois quando falei com ele por telefone eis que me diz que esta cena na livraria o tinha deixado constrangido; que minha voz meio alterada estava fazendo com que os que estavam a nossa volta nos olhasse com cara de caso. Junto com essa constatação (que não percebi nada disso que ele me disse, vai que é porque eu estava de cabeça baixa lendo) veio o conselho dele de que eu estava errado, que tivesse postura, que aquele não era o lugar adequado para se ler da forma que eu estava lendo. Calado estava, calado, entretanto, não fiquei. Sai este post. "A palavra é necessária/ diante do absurdo".

É difícil lidar com quem não tem senso de humor. Mais difícil ainda com quem não respira literatura. O que achei interessante e engraçado, a meu amigo não lhe pareceu nada. Mas se os que estavam a nosso redor fizeram cara de caso com isso, é mais difícil ainda, porque na rua por onde passam diariamente, ou nos seus Mp3 carregam uma musiquinha daquelas mais fuleras possíveis em que grita a baixaria da primeira à última sílaba. Está aí um episódio que me deixou alheio e o relato aqui é como um desabafo mesmo. Acho que código com que Hilda Hilst compôs esse poema é cego para os de pouca língua e para os que se esquecem que, antes de serem o que são, foram um dia uma foda e que tudo no mundo caminha para uma foda. E para fechar essa minha fala (os castos que se assombraram com o Reizinho gay não olhem para o que vou postar; são só mais uns versos - não de Hilda Hilst e seu Bufólicas - mas de um blogue que li recentemente chamado Chica de Igapó que traz uns versinhos que podem fazer pareia com esses da poeta maior.

A Champra

Que sejam meus dedos em torno desta esfera,
Sob um clima de fogo e de um gemido instigante,
À servidora de Baco – a cortesã que eu fodera –
Que eu possa enfiar tudo em seu cu rutilante,

Putinha, safada, tesuda e às vezes fera,
Seja-lhe a bunda amorosa ou esfuziante,
O homem sucumbe ante à delícia que o exaspera,
E não eleva o olhar senão por breve instante.

E para o pau entrar nesse cu trava-se a luta
Cenário ébrio de tesão dentro da bela puta
De cujo buraco apertado o caralho se serve;

Tara do libertino, anseio do eremita:
O Cu! E goza-se feito louco nessa imensa marmita
Enquanto a Chica rebola essa bunda que ferve.


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