Entrevista com João Ubaldo Ribeiro
O Caderno Viver do jornal Tribuna do Norte publicou hoje uma entrevista ao escritor João Ubaldo Ribeiro. Na entrevista o escritor fala do convite e de sua participação no I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa que terá início no próximo dia 28 de abril. No mais lê-se o já despojamento do escritor que foi à sua posse na Academia de Letras de bermuda:
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A sua
presença nos eventos literários em Natal havia sido cogitada em anos anteriores,
o que parece não ter dado certo. O fato de ser este um encontro de
representantes da literatura de Língua Portuguesa no mundo, interferiu em sua
decisão? Não me lembro bem desses convites. Eu sempre estou pensando em ir a Natal,
porque gosto muito de Natal. Eu e minha mulher temos uma ligação forte com a
cidade. Temos muitos amigos, compadres e assim por diante. Sempre estou
pensando em ir à Natal, mas dificilmente eu posso. Eu não me lembro desse
último convite. Não interferiu em nada o fato de ter representantes da língua
portuguesa. Se houvesse qualquer outra razão interessante eu iria. É que agora
eu tive tempo na agenda, houve a oportunidade e eu aceitei.
Para os que falam e para os que ouvem: quando vale a pena participar de um
encontro literário? Eu não sei. Eu não sou muito chegado à literatura. Não sou chegado a papo
literário não, a não ser quando acontece espontaneamente com amigos. Mas um
encontro deste tipo (se refere ao EELP) é um encontro com amigos; então pode
render uma boa conversa, mesmo que esta conversa seja pública, seja uma coisa
para todo mundo presenciar. É uma conversa entre colegas e amigos, que eu
encontro, ou entre nós todos e o público. Enfim, eu acho que isso é mais uma
oportunidade de estar com o público interessado em literatura, de estar com
escritores.
Se tivesse a opção de reunir o público de eventos literários ao ar livre,
desfrutando de sombra, água e brisa fresca, que assunto escolheria para
debater? Eu não gosto de debater. Eu não escolheria assunto nenhum para debater. Se
acontecesse de aparecer um assunto interessante, eu debateria. Este negócio de
sombra e água fresca para debater, já não é tão sombra e água fresca. Sombra e
água fresca devem ser vividas por si mesmas sem interferência de papos
literários e coisas assim.
O senhor poderia promover um encadeamento de ideias para contribuir com o nosso
entendimento sobre a relação entre os termos: cosmopolismo, expressões
populares e globalização (tema da conferência proferida pelo senhor aqui em
Natal? Ah! Eu não sei esse negócio não. Cosmopolismo. O que é cosmopolismo? Eu não
sei. Não sei nada disso. Eu vou conversar sobre isso aí, mas não sei nada
disso. Mas eu digo às pessoas que eu não sei e elas não acreditam. Eu tenho que
demonstrar pessoalmente, coisa que deverei fazer em Natal na próxima semana.
O senhor conhece a produção literária do nosso Estado? Em caso afirmativo, que
autor lhe salta à memória? Se não conhece, terá sido pela intoxicação literária
dos grandes centros urbanos? Conheço alguma coisa, mas não vou falar em ninguém não. Porque eu vou esquecer
gente e isso sempre melindra as pessoas. O pior é que eu esqueço amigos meus,
enfim, não vou falar em nome de ninguém não. Não sei a que intoxicação
literária dos grandes centros você se refere... Pelo contrário, nos grandes
centros a possibilidade de intoxicação literária é menor. Porque se tem menos
tempo para ler. Dom Quixote se intoxicou com o livro e morava numa aldeiazinha,
da Mancha. Então...
No último domingo (18) o escritor Monteiro Lobato foi lembrado, já que a data
de seu nascimento foi escolhida como marco comemorativo do Dia Nacional da
Literatura Infantil. Monteiro Lobato deixou um legado para o país. Foram
diversas obras literárias, além de um envolvimento cultural e político
significativo. Por quais feitos o homem e o escritor João Ubaldo gostaria de
ser lembrado daqui a 100 anos? Monteiro Lobato é um dos escritores mais importantes da história do
Brasil. O escritor responsável pela formação de milhões de leitores.
Seguramente ele teve milhões de leitores e ainda tem. Um escritor
extraordinário. Eu considero um marco realmente de nossas letras. A obra
infantil de Monteiro Lobato é uma obra grandiosa em qualquer língua e em
qualquer lugar do mundo. E ele é um escritor que é um patrimônio da cultura
brasileira. Toda a homenagem a ele é merecida. Quanto a ser lembrado daqui a
cem anos? Eu não penso muito nisso não. Eu não faço tanta questão de ser
lembrado daqui a cem anos não. Eu gosto de ser lembrado agora. Pelo que se sabe
é a única forma de eu ver o reconhecimento, ou o que lá seja, é estando vivo.
Estando morto, há quem diga que se vê, mas há quem diga que não. Então, o mais
seguro é quando se está aqui vendo tudo o que se tem direito, então prefiro que
aconteça agora. Não é que eu queira não ser lembrado. Eu só não gostaria de ser
lembrado como tendo feito alguma coisa de má, ou algo semelhante. Como eu tento
não praticar este tipo de coisa, se se lembrarem de mim daqui a cem anos, que
pelo menos se lembrem de um homem direito, respeitador dos direitos alheios e
da lei. Um homem honesto é assim que gostaria de ser lembrado, se é que daqui a
cem anos alguém vai se lembrar de mim. Como escritor, não penso muito nessa
coisa não. Não vem muito ao caso se me acharem bom escritor ou mau escritor. |
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