Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 1)



noite alta lua baixa
pergunte ao sapo
o que ele coaxa

Estes versos podem muito bem serem associados a outros versos imortais "Um galo sozinho não tece a manhã/ ele precisará sempre de outros galos", sendo que estes, do genial João Cabral de Melo Neto poderiam e vem antes. Mas, fundido o poema de João com este da epígrafe teríamos uma tensão e/ou pulsão poéticas de força tamanha como se se encontrassem duas grandes estrelas para formação de um sistema outro de sentidos.

A quem ainda não conhece os versos que abrem esta post, apresentamos: trata-se do outro genial poeta, o curitibano Paulo Leminski. Se em João Cabral, os galos estão para a "trupe" dos próprios poetas e um canto de que uma manhã não se tece em apenas um grito, mas em vários, em Leminski os mesmos poetas - na "trupe" dos sapos - estão fundidos num coaxar na noite baixa e só por debaixo da cortina da noite. Coaxar - vejam como um poema puxa outro ou um grito puxa outro - que logo nos fará recordar daqueles sapos de Manuel Bandeira.

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

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Paulo Leminski é autor de uma extensa e relevante obra e de um jeito muito próprio de escrever poesia, marcadamente por poemas breves em tom quase-piada, quase-paroxismo. O seu contato pessoal com outros nomes da poesia, como Haroldo de Campos, da chamada vanguarda modernista, cuja obra sua a crítica teima em filiá-lo, se deu quando participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte, Minas Gerais. De então, veio sua estreia poética com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por outro membro da Vanguarda, Décio Pignatari.

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Durante todo o Dia Nacional da Poesia publicaremos poemas de Paulo Leminski em nossa comunidade no Orkut. 

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