Amor sem escalas, de Jason Reitman

Por Pedro Fernandes



Recente fui ao cinema ver esse que tem sido o trabalho de Jason Reitman mais comentado desde Juno. Baseado no livro de Walter Kirn, a trama é simples e diríamos envolver apenas três personagens, com destaque para a figura interpretada por Clooney, Ryan Bingham, um sujeito com uma profissão no mínimo peculiar; Ryan é pago para viajar pelos Estados Unidos fazendo aquilo que sempre fez Donald Trump no seu programa The Apprentice, feito no Brasil pelo publicitário Roberto Justus: despedindo funcionários de empresas em crise (a única diferença dos dois Reality shows - empresas em crise).

De cara o filme se faz mais que atual ao por em tela - ainda mais quando a trama é interceptada por histórias reais de pessoas que foram sendo despedidas - as dimensões da crise econômica que tem abatido o mercado estadunidense e o resto do mundo.

Ryan faz parte daquele grupo que se diz desapegado de tudo e de todos; passa a maior parte do tempo entre aeroportos e hotéis e fazendo palestras de motivação pessoal para empresas. Além de que, o seu emprego - nada convencional - permite a personagem conseguir outro objetivo: acumular a cifra astronômica de 10 milhões de milhas voadas. 

Essa vida de mais de 270 dias por ano em viagens serve para fazer de Ryan um sujeito desprovido de tudo aquilo que faz sentido para as pessoas comuns: família, estabilidade e projetos de vida futura. E aqui se instala mais uma questão de que vem tratar esse filme: a fugacidade e a frieza das relações contemporâneas (Bauman diria amor líquido) e o total esvaziamento do sujeito.

Se quem apenas leu a sinopse do filme, acha que seu diretor apenas fez mais um filme clichê de comédia romântica, engana-se. Amor sem escalas supera ao por em pauta questões tão caras ao modelo de sobrevivência que vimos construindo.


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