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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Fernando Pessoa por Caetano Veloso

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Os argonautas Quase sempre é a obra da juventude de um artista a que se nutre de maior arroubo criativo; quando se diz quase  é porque há artes e artistas. Mas, o dito se aplica muito bem ao trabalho de Caetano Veloso. Basta o leitor saber que o compositor esteve envolvido na base de um dos movimentos culturais autenticamente brasileiros e revolucionário para todas as artes, não só a música, onde concentra parte de sua atividade criativa. A Tropicália é sempre definida como essa virada outra ou reaproveitamento em sua forma integral dos preceitos cunhados pelo movimento modernista de 1922, uma vez se caracteriza como uma estética mantida pela mistura de manifestações tradicionais da cultura nacional e inovações radicais que abrangem não somente a obra, mas a postura do artista ante seu público. Foi quando o compositor, nascido no seio de uma família integralmente dotada da sensibilidade artística, terá produzido o melhor de sua obra. Em 1969, Caetano Veloso apresentou um dis

Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais

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O tempo e a memória servem de matéria na construção de obra que se posiciona contra os riscos do esquecimento O tempo, como o vivemos, é composto de camadas nas quais o passado se acumula a cada minuto que passa. Em seu longa de estréia, o francês Alain Resnais foi saudado pela capacidade de traduzir em imagens e palavras tanto as múltiplas presenças do tempo quanto o lugar e a ação da memória, como a faculdade que faz tudo sempre retornar. Essa habilidade seria retomada dois anos depois em O Passado em Marienbad  (1961), sob uma forma ainda mais radical.  Hiroshima, Meu Amor  não é apenas um filme, é também um texto de autoria de Marguerite Duras, que imprime às imagens uma densidade poética que ultrapassa o mero sentido dos diálogos. A trama se resume ao encontro entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês na cidade reconstruída depois de ter sido devastada por uma das bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos em 1954. "Você não viu nada em Hiroshima"

José Saramago e um gesto de humanismo

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sobrecapa para a edição beneficente de A jangada de pedra Reeditar A jangada de pedra em favor do Haiti. Assim quis José Saramago deixar inscrito na história um dos vários gestos de humanismo desempenhados ao longo de sua vida. E na próxima sexta-feira, 29 de janeiro de 2010, chega às livrarias portuguesas uma nova edição do romance cuja toda a renda é destinada a contribuir para as ações humanitárias da Cruz Vermelha no país tomado pela catástrofe do terremoto. A idéia é mote para uma campanha cujo título é “Uma Jangada de Pedra a caminho do Haiti”. E sobre ela, Saramago escreveu o seguinte: "As minhas palavras serão de agradecimento. A Fundação José Saramago teve uma ideia, louvável por definição, mas que poderia ter entrado na história como uma simples boa intenção, mais uma das muitas com que dizem estar calcetado o caminho para o inferno. Era a ideia editar um livro. Como se vê, nada de original, pelo menos em princípio, livros é o que não falta. A diferença es

Os pecados da escrita

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Por Pedro Fernandes Dia desses enquanto relia um texto meu que já fora inclusive publicado nos anais de um congresso ano passado, dei de cara com alguns absurdos que eu escrevera e, por incrível que pareça, depois de tantas leituras e, depois já de publicado, é que venho tomar ciência do que disse. Em textos para este blog até uso mesmo da displicência. Escrevo e releio uma vez apenas e jogo na rede. Aqui é mesmo um espaço para isso. Exigir pingos nos is de um blogueiro é coisa complicada. Mas em textos para jornais ou textos acadêmicos a coisa é mais complicada. Ainda mais quando se tem um curso de graduação em Letras e se é aluno de um mestrado em Letras, formação sobre qual as pessoas acham termos na ponta da língua todos os trâmites gramaticais e, por isso mesmo, a ideia de que nunca devemos errar. Policiarmo-nos parece ser a solução. Mas, sabendo que nem isso resolve grande coisa: sempre ficará algo por corrigir. Em textos para jornais ou textos acadêmicos geralmente faç

Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Publicado em 1995, Ensaio sobre a cegueira  nasceu de uma feliz inquietação de José Saramago: e se, de uma hora para outra, perdêssemos a visão? A pergunta aparentemente simples que talvez tenha sido pensada por qualquer pessoa não é, entretanto, mania que vem de passagem de alguém que se nota, de uma hora para outra, ensimesmado como determinadas possibilidades. Diante dela, o escritor português desenvolveu um romance, que interessado em alcançar ou sondar uma resposta, penetra as fronteiras dos múltiplos sentidos suscitados pela condição  de estar cego e, por conseguinte, os sentidos implicados na ideia de visão . É assim que este se mostra texto especulativo, que se constrói em círculos, examinando, apurando atentamente as várias possibilidades de resposta para uma pergunta ou a conformação de uma tese: “Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem” ― retomando uma das conclusões célebres das várias que comp

Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-wai

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A passagem do tempo e a teia de pequenas emoções estão no centro da visão romântica e nostálgica do diretor chinês Da invasão de filmes orientais que se concentrou desde meados dos anos 1990, aqueles que trazem a assinatura de Wong Kar-wai estão entre os que mais chamaram a atenção para o fenomenal cinema produzido nas três Chinas (a China continental, a ex-colônia inglesa Hong Kong, e Taiwan). Distinto de muitos de seus colegas e ao mesmo tempo compartilhando com eles um gosto refinado pelo estetismo visual, os filmes de Wong também se destacam por um forte apelo emocional. Desde Amores Expressos  (1994), o diretor seduziu as platéias com sua visão romântica e ultracontemporânea dos desencontros amorosos. Amor à Flor da Pele  é o filme onde essa temática encontra uma forma que lhe encaixa à perfeição. Ambientada em 1962, a obra narra os encontros de um homem e uma mulher, ambos casados, que se conhecem num hotel quando seus respectivos parceiros estão longe. Entre o

Biografia de Saramago

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Por Ana Dias Cordeiro Para conhecimento do escritor, tinham já sido escritos vários livros, alguns de entrevistas, ou teses de doutorado sobre José Saramago e a sua obra. Hoje é lançada a Biografia - José Saramago pelas Edições Pluma/Guerra e Paz, “a primeira”, segundo o autor João Marques Lopes, por ser até hoje a única a analisar a obra completa do escritor nascido em 1922. A biografia, diz João Marques Lopes, lembra, além das obras, o papel da poesia, das crônicas no Jornal do Fundão e na Capital  e da crítica literária na revista Seara Nova  ou dos editoriais no Diário de Lisboa  no percurso de José Saramago. E retrata a infância na aldeia ribatejana da Azinhaga, em Golegã, a morte trágica do irmão mais velho quando Saramago tinha apenas quatro anos, a juventude em Lisboa e as adversidades da família, a importância de cada um dos seus familiares como a avó Josefa e o avô Jerónimo “capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras”. Conta, muitos ano

Quase deuses, de Joseph Sargent

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Por Pedro Fernandes O ano é 1930. A cidade é Nashville, Estados Unidos. Tempo e lugar de segregação racial. Como pano de fundo sobre a questão negra, está a figura de Vivien Thomas, que como todo negro servia aos mandos e desmandos do branco e está condenado a ser um portador de profissões de pouca significância; ele é um hábil marceneiro com sonho de fazer medicina. Com um nome feminino porque sua mãe achava que teria uma menina e, quando nasceu o menino, não quis mudar o nome escolhido, num país também assolado pela Grande Depressão de 1929, Thomas encontra-se desempregado e vê o pouco dinheiro que juntava há sete anos para um dia realizar o sonho pelos seus próprios méritos. Claro, estamos também numa terra que atende pelo nome de meritocracia como o modelo ideal de qualquer um chegar ao topo. Só até aqui nesse parágrafo o leitor já terá encontrado uma quantidade diversa de temas caros explorados pela obra de Joseph Sargent: o contexto histórico de degeneração do capi

Haiti: a maldição branca

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Nota:  Tenho acompanhado diariamente as páginas dos telejornais acerca da catástrofe em Haiti. Entretanto, me parece que as informações que chegam acerca do caos instalado naquele país não são totalmente verdadeiras, porque a mídia sempre tem o dom de nos esconder alguma coisa ou virar o rosto para aquilo capaz de lhe dar, na melhor das hipóteses (sim, há as piores) os louros da audiência. O caos que agora o Haiti sofre é, antes de ser fruto apenas do terremoto que assolou o país, fruto da ganância e da presença do homem branco, que como levaram a cabo a nação indígena por onde estiveram, levaram também a desarmonia àquela antiga e rica colônia formada por descendentes de escravos africanos. Isso a mídia não nos mostra. Recentemente pude ler um texto ("Haiti: a maldição branca") publicado no site da Fundação José Saramago que o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de, entre outros títulos, de As veias abertas da América escreveu sobre o Haiti e a sua história. Par

A maçã no escuro, de Clarice Lispector

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Por Pedro Fernandes Nas visitas constantes às livrarias neste período de férias tenho visto uma febre chamada Clarice Lispector. Ela está nas prateleiras mais visíveis. Desde a razoável biografia do estadunidense Benjamin Moser passando pela excelente fotobiografia organizada pela brasileira Nádia Battella Gotlib e pela publicação dos primeiros textos da escritora como a reunião de textos Só para mulheres - conselhos, receitas e segredos e Correio feminino  até a reedição de sua obra. Clarice Lispector também já deve ocupar ao lado de Machado de Assis a cadeira daqueles escritores mais bisbilhotados pela crítica. Pois bem, nostalgicamente me volto para uma velhinha edição de 1978 da escritora que recuperei dos escombros do que era uma biblioteca. Na época de meu início de adolescência escrevia versos beberrões que despencavam altas horas da madrugada no meio de meus sonos entrecortados pelas fantasias amorosas. Ainda não conhecia Clarice. Dela, apenas linhas dos livros

A jangada de pedra, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes A jangada de pedra é um romance que pode ser visto por ângulos diversos. A capacidade narrativa de José Saramago manifesta em sua fluidez expressiva faz de cada uma de suas obras uma experiência literária genial, mas talvez o mais importante, é que o seu lugar de pessoa sempre sobressai o lugar do escritor e se faz notar a mensagem política e humana que nos deixa esta metáfora da união entre a Europa e a América Latina, um dos vieses principais de leitura deste romance ora comentado. A Península Ibérica se aparta do resto da Europa. É como se a Saramago gostasse de jogar com a realidade, embora a realidade seja um dos aspectos principais deste romance, assim como é, para a escrita de outras obras como Levantado do chão ou Memorial do convento , para citar duas delas. Mesmo que o fantástico aqui se interponha com maior maestria que nas outras obras – basta assinalar a grande imagem que é, do acaso, toda uma parte do continente partir-se e sair v

O caderno-revista 7faces tem espaço próprio e anuncia a primeira edição

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A poeta Zila Mamede será a homenageada na primeira edição do caderno-revista 7faces. O lançamento virtual do caderno-revista 7faces tem data marcada. Dia 29 de janeiro de 2010. Com um bom tempo de atraso (essa edição fora prometida para agosto do ano passado) enfim chegará o grande momento. "Foram muitas as dificuldades para produção desse material, que eu, como editor da ideia, espero que os leitores gostem", assinala Pedro Fernandes. Imagina-se: a proposta do periódico não envolve mais que a força de vontade de um aventureiro em todas as searas; relembra Pedro que começou a entrar no território movediço da web  com a organização deste blog, o Letras in.verso e re.verso . Foi o bom retorno da publicação eletrônica Palavras de pedra e cal , um livreto que reúne todos poemas que publicou no Letras e em outras mídias, mais a constante visita dos leitores que por aqui transitam em busca de expor sua matéria poética o que motivou a criação de um espaço dedicado à poesia.

A memória no museu

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Fachada do Museu Câmara Cascudo A direção do Museu Câmara Cascudo, Sônia Othon, critica a falta de interesse dos que trabalham o turismo na cidade para incluir os patrimônios culturais e históricos nos roteiros dos visitantes.“O que se fala é que eles só levam aos locais que pagam comissão”. As palavras da diretora fazem referência ao roteiro montando pelos guias turísticos de Natal. A falta de “acordo” entre o museu e os guias estaria afastando o público de fora da cidade. A procura que há na instituição por parte dos turistas é apenas espontânea, portanto tímida, e não existe incentivo das agências de turismo ou do poder público para incluir o patrimônio nos roteiros dos visitantes. Na opinião da diretora, falta vontade política para que o acesso aos museus aconteça, já que a maioria deles é do Governo do Estado. Segundo Sônia Othon, outras instituições também sofrem com a situação. É o caso do Museu de Cultura Popular, a Casa de Câmara Cascudo e até mesmo o Forte dos Reis

Um Estranho no Ninho, de Miloš Forman

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Ambientada num hospital psiquiátrico, comédia dramática ganha peso de libelo contra a repressão Apesar de ter perdido seus pais tragicamente no campo de concentração de Auschwitz, Miloš Forman nunca abandonou o humor em seus filmes. Foi com graça que ele construiu sua filmografia na Tchecoslováquia, nos anos 1960, em pleno movimento de renovação do cinema (a Nouvelle Vague deles). Desta fase, destacam-se pelo menos dois longas, Os Amores de uma Loira  (1965) e Baile dos Bombeiros  (1967), ambos sobre inquietações da juventude. Com a invasão soviética no país, em 1968, Forman partiu para os Estados Unidos. Lá, freou a estética mais arrojada que fazia na terra natal, mas manteve o olhar crítico sobre as instituições controladoras. Nessa pegada, alguns de seus filmes mais renomados são Amadeus  (1984) e O Povo Contra Larry Flint  (1996), que trazem homens lutando contra o conservadorismo do sistema. Neste aspecto, a prisão-manicômio de Um estranho no ninho  é um campo mais

Avatar, de James Cameron

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Por Pedro Fernandes Um filme de riqueza visual sem precedentes. O cenário fictício de Pandora, onde se processam as cenas de Avatar , do diretor de Titanic , James Cameron, é a marca central do filme. Não há um enredo muito elaborado; do contrário, é leve, simples e comum - típico de roteiros hollywoodianos para pequenos filmes: a rivalidade entre bem e mal, sem lugares delimitados; um romance que desabrocha do meio para o fim da película; e só. Mas o que chama atenção no filme além da avalanche visual e também sonora está fora dos efeitos especiais e do caudal de cenas de aventura. Reside no que muitos chamarão de mensagem pedagógica  e que eu prefiro chamar de alerta  que este filme transmite: num eventual fim de nossa civilização, como cada vez mais se confirma, o grande responsável de tudo é o próprio homem. Avatar  é uma narrativa sobre a descrença na capacidade humana de reversão de seu estágio atual. Num momento em que parte da ciência não acredita mais em salvação

Notas sobre o encontro com O dom, de Jorge Reis-Sá

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Por Pedro Fernandes A primeira vez que encontrei o livro do Jorge Reis-Sá estava numa das minhas visitas à livraria em busca de novos nomes da literatura portuguesa contemporânea. Tem sido, assim, desde quando leitor apaixonado pela obra de José Saramago, decidi-me não apenas ficar restrito à obra do Prêmio Nobel de Literatura. Pode ser um gesto de curiosidade do pesquisador, sempre atento a alguma novidade (outro possível Nobel de língua portuguesa) ou ainda certo esforço por encontrar, depois de ter lido grande parte da obra saramaguiana, outro nome da sua envergadura. Até agora não encontrei. É bem verdade que enredo-me (e mais adiante talvez mais ainda tão logo venha me adequar  à nova forma) por António Lobo Antunes, outro que, merece, sem pestanejar receber o galardão mais importante na vida de um escritor. Mas, tenho encontrado surpresas agradáveis, além desse autor. Jorge Reis-Sá é uma delas. Ao topar com este  O dom  fiz o teste de reconhecimento do leitor iniciant

Chico Xavier, de Daniel Filho

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Por Pedro Fernandes Seguindo a moda do cinema brasileiro (que quando não põe nas telas um filme sobre a condição marginal, ou uma comédia, põe cinebiografias) eis que chegou às telas  Chico Xavier , de Daniel Filho. O que veio agora, como escrito no título, é uma leitura sobre a biografia (ou uma encenação dela) do maior líder do Espiritismo no Brasil. Este foi um título que tomei um interesse de vê-lo porque, queimando a tarde na visita rotineira à livraria no shopping, fui catar se havia algum filme na programação. E pelo conteúdo do que já tinha assistido (de novo o trailer!) e diante das opções bisonhas que tinha fui, como voto numa eleição dos dias de hoje, no que parecia menos ruim. Bom, se meia-palavra basta, então sabem do resultado dessa decisão. Confesso que esperava mais do filme (sempre esperamos!), mas, novamente, me deparei com um drama simples, sem enredo, e povoado de diálogos clichê. Como se Daniel Filho apenas tivesse transposto uma de suas sopas ralas das

Ana Luísa Amaral: sentou-se ao meu lado e subiu à tribuna

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Por Pedro Fernandes 1. Os leitores que por acaso gostarem de frequentar este espaço já deverão está cansados de ler essas notinhas sobre nomes da literatura ou dos estudos literários com os quais travei contato ou pude apreciar durante o Congresso da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa realizado em setembro de 2009, em Salvador. Sim, porque antes de Ana Luísa Amaral falei aqui sobre Maria Teresa Horta, Cleonice Berardinelli e Manuel Rui. 2. Assim, como os dois primeiros nomes sobre os quais redigi notas para o Letras , já conhecia alguma coisa da poeta portuguesa a partir da obra Entre dois rios e outras noites. Mas, sempre desatento a associar obra à face dos autores, o encontro com Ana Luísa Amaral diferiu do contato com Maria Teresa Horta e Manuel Rui. É anedótico até, mas vou registrar porque se trata de uma grata surpresa. 3. Num dos dias do congresso uma senhora me pergunta, gentilmente, se na cadeira do meu lado não havia alguém. Na re

Um Lugar ao Sol, de George Stevens

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O que seria apenas um melodrama tornou-se uma história de amor mesclada com tragédia social Eis um caso de imagens que se tornaram míticas sem razões definidas, fazendo deste Um Lugar ao Sol  um dos grandes filmes da história do cinema. Parte do encanto deriva da beleza do par central, Montgomery Clift e Elizabeth Taylor, glamourizados pela luz branca refletida em seus rostos, mas a direção de George Stevens construiu outras imagens fortíssimas. Baseado em Um Tragédia Americana , romance de Theodore Dreiser publicado 1925, o conteúdo conservador desse clássico não atinge a crítica social proposta pelo texto original. Por outro lado, o que seria apenas melodrama resulta em um filme inesquecível, história de amor mesclada com tragédia social, cuja intensidade é ampliada pela trilha sonora do polonês Franz Waxman. Na história, George Eastman (Montgomery Clift) é um operário que procura ascender socialmente, namora outra trabalhadora da fábrica, Alice Tripp (Shelley Wint

Duas obras fundamentais de Albert Camus

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Por Pedro Fernandes 1.  Ontem, 04 de janeiro de 2010, fez 50 anos que morreu o escritor e filósofo Albert Camus. É possível que pelas letras brasileiras tenha a figura passado praticamente despercebida, apesar de algumas iniciativas estarem em curso para a celebração de seu centenário. Mas, em terras francesas, mesmo numa data sobre a qual não deve figurar comemoração alguma, o escritor é bastante lembrado como se os seus leitores ou admiradores o mantivessem mais vivo do que nunca. 2. C omo escreve José Mário Silva no blog  Bibliotecário de Babel , contemporaneamente, a obra de Albert Camus "tem servido de mote quer a intelectuais de todos os quadrantes, quer aos oportunismos retóricos de Sarkozy". 3. No ano do cinquentenário sobre sua morte, Grégoire Leménager, da Nouvel Obs (uma revista que dedica na edição desta semana um dossiê sobre a obra do escritor nascido na Argélia), afirma que Camus (e sua obra) já "conhece uma apoteose que, para um escritor,