Auto da barca do inferno, de Gil Vicente
Por Pedro Fernandes Gil Vicente pode ser considerado um dos grandes gênios da Literatura Ocidental, de importância paralela a William Shakespeare, para citar outro nome do teatro. O português despontou como um dos maiores dramaturgos populares, seja nos temas, na linguagem, na figura dos atores. Durante sua vida escreveu e representou uma diversidade de peças que, mesmo com seu empenho em vê-las reunidas numa só edição, não chegou a usufruir do largo trabalho. E se hoje conhecemos sua obra, em parte deveu-se ao empenho de seu filho que publicou em 1562 uma compilação daquilo que o pai havia reunido, embora a crítica especule que muita coisa tenha sido omitida propositalmente, bem como tenha feito alterações nos originais. O Auto da barca do inferno é apenas uma das 46 peças, grande parte delas escritas em espanhol. A crítica costumeiramente divide esse colossal conjunto de textos em pelo menos três fases: uma que vai de 1502 a 1514 marcada pela influência de Juan del Encina,