Patton - Rebelde ou Herói?, de Franklin J. Schaffner



Feito em tempos de guerra no Vietnã, filme acompanha a vida de um general que sintetiza as contradições da América

O primeiro plano deste filme de Franklin J. Schaffner impressiona: a bandeira dos Estados Unidos toma quase toda a dimensão da tela larga do cinemascope, e, no cetro, surge o ator George C. Scott como o general George Patton. Ele declama um discurso brutal sobre a necessidade da guerra, incitando seus soldados à violência extrema e lembrando-lhes sobre a glória militar do país, "que jamais perdera uma guerra". Uma imagem oficial, em princípio, mas com a juventude norte-americana sendo massacrada no Vietnã, em 1970, seu conteúdo era, na verdade, irônico e amargo.

Como outras, essa superprodução apresentava a guerra em grandes tomadas espetaculares ao mesmo tempo em que detalha a carnificina. Trata-se de uma obra que não trai a convenção das biografias, mantendo-se fiel ao seu protagonista e preferindo os grandes acontecimentos, mas o discurso do filme identifica-se com parte do espírito da época.

Patton é apresentado em toda sua maluquice, general que prefere sempre o campo de batalha ao trabalho burocrático. Sua monstruosidade - vista, por exemplo, numa cena inspirada em fato real quando ele esbofeteia um soldado num surto pós-combate, repreendendo a "covardia" do infeliz - alterna com sua retidão, o que o torna uma vítima do sistema político militar, ou seja, o enquadra junto aos rebeldes. 

Essa complexidade psicológica do personagem, que pende entre o militarismo e o idealismo, é uma mágica assinada por Francis Ford Coppola, que contribuiu no roteiro baseado em duas obras de militares, Patton - Ordeal and Triumph, de Ladislas Farago, e A Soldier's Story, do coronel Omar Bradley, que acompanhou de perto a vida militar de Patton.

Mas sem a atuação soberba de George C. Scott, que ganhou o Oscar de Melhor Ator em 1971, seria difícil o resultado deste filme de guerra que, no final, acaba se fazendo pacifista. O ator, contudo, recusou a estatueta, dizendo-se contrário a uma competição que os colocava, atores, em disputa. A produção recebeu de bom grado os outros nove prêmios naquele ano, incluindo Melhor Filme, Direção, Montagem, Fotografia, Roteiro, Som e Trilha Sonora.

* Revista Bravo!, 2007, p.92


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