José Saramago e a questão literatura e utilidade
Por Pedro Fernandes
Biblioteca particular de José Saramago em sua casa de Lanzarote. |
Escrevi certa vez um texto que foi publicado no caderno Domingo, do jornal De Fato acerca da tão instigante pergunta milenar, já milenar porque tem servido ao debate entre gente diversa desde que a literatura é literatura. Hoje, na releitura de algumas falas do escritor português José Saramago, eis que encontro com uma entrevista sua ao Clarín, em que a pergunta foi posta (a tradução para o português é livre) e cuja resposta vem corroborar com o que escrevi há alguns meses:
"Como escritor, seu meio de intervenção é a literatura. Podemos voltar a pensar se serve para algo? Se a literatura pode melhorar (ou piorar) a vida, o mundo?
Levamos séculos nos perguntando uns aos outros para que serve a literatura e o caso de que não exista resposta não desanimará aos futuros perguntadores. Não há resposta possível. Ou há infinitas: a literatura serve para entrar numa livraria e ficar em casa, por exemplo. Ou para ajudar a pensar. Ou para nada. Por que esse sentido utilitário das coisas? Se há que buscar o sentido da música, da filosofia, de uma rosa, é que não estamos entendendo nada. Um utensílio tem uma função. A literatura não tem uma função. Embora possa consolar uma pessoa. Ainda que possa te fazer rir. Para piorar, a literatura basta com que se deixe de respeitar o idioma. Por aí se começa e por aí termina."
Há que entender a literatura não como salvação do mundo; há que respeitar a literatura pelo o que ela é. Bater na questão da utilidade é reforçar o entendimento valorativo (no sentido monetário, objetal, coisa, moeda capital), quando os valores e mesmo a ideia de utilidade são, na literatura, estes e outros.
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