A obra de um polígrafo

Por Pedro Fernandes




Depois de apresentado o polêmico Caim, José Saramago iniciou os trabalhos no que possivelmente será seu próximo romance a ser colocado para público no próximo ano. Assistimos um escritor em urgência, como um que "não poderá morrer sem dizer tudo", para fazer eco aos versos de um poema seu publicado em Os poemas possíveis

E se o escritor português tem atirado para tudo quanto é matéria do estágio atual da civilização humana – a política, o capitalismo, a religião – a bola da vez, será a indústria armamentista. "Esse é o tema: as armas, quem as faz, quem as trafica. Estão por todas as partes. A televisão mostra continuamente cenas de violência com as quais fica claro que a vida não tem nenhuma importância", declarou à agência EFE.

O escritor Prêmio Nobel da Literatura lembra que se fala sempre de uma greve em busca de melhores salários, mas se questiona por que não param os trabalhadores de construir armas pelo simples fato de estas servirem para matar as pessoas.

A ideia surgiu de uma outra pergunta, que lhe foi há tempos colocada por um jornalista colombiano que queria saber como a luta armada em Portugal, de tradição esquerdista, como disse, levou à ascensão da extrema-direita.

Saramago admitiu que se tornou difícil saber onde está a esquerda, a extrema-direita e o fascismo – que não acabou, voltou a frisar o escritor: "Está aí, esperando na porta, e Itália é um caso claríssimo". Tudo se mistura e é corruptível. Se à extrema-direita gosta de aproveitar-se da luta armada, está na natureza das coisas", sublinhou.

O escritor tem se mostrado preocupado com o desvio de rota dos movimentos de esquerda e acredita que falta a palavra mais importante que deveria estar na ponta da língua de todos, "um simples não, algo tão pequeno e que tanto compromete".

Vimos essa notícia no jornal português A bola. E agora é esperar.

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