Neocristianismo

Por Pedro Fernandes


Não faz muito tempo que têm as religiões, cito as mais conhecidas, a dos católicos e dos evangélicos, tomado certo rumo que me espanta. Enquanto eu e muitos outros acreditávamos numa falência dos credos em detrimento da expansão de outro mal, o capitalismo, o que tem acontecido é que tais religiões têm é se expandido. Refizeram seus discursos (entre aspas, porque ainda dizem o meso de sempre, só que agora numa via mais pop, entretanto, não menos ludibriante) e se alastraram feito rastilho de pólvora, infestando todas as vias, as concretas e as imaginarias. De início o Rádio e a TV, agora a Internet, a cada esquina há de ter alguém se esgoelando, comprando almas, fazendo leiloes de salvação, pactuando com pombas divinas, encomendando-se a Deus a ao Diabo se aquele demora com a satisfação. São showmissas, showcultos, milagres, curas e curas, banzeis a torto e a direito, virtuais.

Ainda mais recente, depois da grande debanda de fieis do catolicismo para as milhares de facções da igreja evangélica, (porque agora é assim, as pessoas todas feito carneirinhos, quando o Deus daquela já não obra mais tantos milagres como o desta são levadas para onde prometem o Rio de Janeiro embandeirado) assistimos a invasão doutra via: a da música. Se antes tínhamos alguns insossos padres cantores cantando romanticamente os feitos do Senhor, agora temos todos os estilos de padres e ou de pastores: românticos ainda vivem, (afinal tai uma coisa que não tem pós-modernismo que dê jeito) mas temos os forrozeiros, os funkeiros, os bregas, os axés, os pagodeiros, os pop-rock com direito a metaleiro e tudo, enfim, tem para todos os gostos.

Isso, no entanto, constitui hoje um simples ramo bestial daquilo que as religiões sempre foram, mas agora o são mais descaradamente, shopping centers a céu aberto e com as bênçãos divinas que o Jesus não mais vive para andar às catas de vendilhões nos templos. Movimentam uma economia que não negocia somente pardas almas, indulgencias, e vagas no céu, mas negocia, troca e vende desde as Sagradas Escrituras – de capa rosa choque e com florzinhas para as meninas e com outros frus-frus para os meninos, o que faz a Bíblia nunca deixar o topo dos Best-Sellers desde que inventada – até imóveis em redutos ou guetos só para quem quer se desligar por completo da profanação e aditarem já aqui na Terra as delícias do paraíso.

Com isso permanecem expandindo entre a cabeça de milhões de desmiolados a discórdia, a ganância e guerra, fruto de seus discursos falaciosos e ricamente preconceituosos. As igrejas católica e evangélica dizem que recebem a todos. Isso não é mentira, mas trata melhor aqueles que tenham farto dízimo e que não sejam gays, pagãos, prostitutas, drogados, sem religião, etc. Se tiver o dízimo farto, pode até negociar, mas ainda assim, se for gay, por exemplo, tem de sair aos quatro cantos dizendo que deixou de ser, e por aí vai.

Todos esses movimentos que arrastam multidões só conseguidas no show dos Rolling Stones em Copacabana, 2007, no carnaval de Salvador e na Festa do Boi de Parintins, carregam e renovam o dote de preconceitos e apartheid que entra século e sai século permanece, adquirindo novas forças, novas roupagens e segue causando o mesmo mal de sempre: o de depenar a liberdade humana. Me parece que, o Jesus de que elas falam, não entendia fé como o que elas professam. Toda forma de fé merece respeito, é verdade, menos as que usam de má fé travestidas da benevolência de Deus para mandar ao diabo todos os que não seguirem seus dogmas. Isso, ambas as igrejas têm feito a granel. Digo com mais certas letras porque isso é público e notório aos que ainda restam um pouco de juízo.


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