Taxi Driver, Martin Scorsese




A violência e a paranóia das ruas de Nova York encarnadas na mente perturbada de motorista solitário

"Eu sou um homem solitário de Deus", diz Travis Bickle, ex-combatente do Vietnã que, aos 26 anos, não tem nada melhor para ocupar seu tempo do que assistir a filmes pornográficos em cinemas de terceira classe. Para sanar o vazio, ele se oferece para trabalhar como taxista em qualquer horário e passa as madrugadas rolando pelos becos mais obscuros de Nova York, sonhando em limpar as ruas dos negros, prostitutas, drogados e toda a sorte de (em sua visão) de desajustados. Uma espécie de versão urbana e moderna de Memórias do Subsolo, do escritor russo Fiódor Dostoiévski, ele é resultado dos excessos da contra cultura: reacionário, obsessivo e anti-social.

Como os brutos também amam, Travis se apaixona por uma secretária do comitê de campanha do senador à Presidência (Cybill Shepherd). Só que sua falta de jeito é tão grande que no primeiro encontro ele a leva a um cinema pornô. A partir da repulsa dela, ele resolve cometer um atentado contra o senador e retirar das ruas a jovem mundana Iris (Jodie Foster, aos 13 anos), e conseguir, dessa fora, sua redenção pessoal - um dos temas fortes da carreira do diretor Martin Scorsese.

Taxi Driver (Motorista de Táxi), um pungente tratado sobre solidão, foi o filme que transformou o cineasta de revelação ascendente em figura do primeiro escalão do cinema americano. Quem rouba a cena, entretanto, é Robert De Niro, que vinha de uma estatueta por O poderoso chefão: parte II (1974). O ator passou um mês trabalhando 12 horas por dia como taxista, para captar não só a profissão, mas também o peso de passar metade do dia dirigindo. Também estudou os comportamentos causados por problemas mentais, para encarnar os tiques e paranóias do personagem. Seu melhor momento é a inesquecível cena em que começa a falar com o espelho: "Você está falando comigo?". A passagem foi totalmente improvisada por De Niro.

O longa cujo roteiro foi escrito em cinco dias por Paul Schrader, recebeu quatro indicações ao Oscar em 1977 - Filme, Ator, Atriz coadjuvante e Trilha Sonora (de Bernard Hermann, que faleceu horas depois de terminar a gravação) - e não levou nenhum. Mas, ainda em 1976, Taxi Driver levaria a Palma de Ouro no Festival de Cannes.


* Revista Bravo!, 2007, p. 39


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