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Mostrando postagens de setembro, 2009

Nosferatu, de Friedrich Wilhelm Murnau

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A obra-prima do vampiro expressionista que já foi imitada e celebrada, mas jamais superada por qualquer outro cineasta Nas artes visuais, o expressionismo surgiu como resposta amarga, no transcorrer da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ao lirismo do anterior impressionismo. É também, como diz o termo, a expressão de algo que está por detrás, sobretudo do inconsciente humano. No cinema, foi o alemão Robert Wiene seu precursor, com O gabinete do Dr. Caligari  (1919), no qual representava distorções estéticas (sobretudo nos cenários, bastante gráficos com suas casas e ruas tortas). Mas foi Friedrich Wilhelm Murnau quem o levou adiante, dirigindo a obra-prima Nosferatu . O que Wiene mostrava, sobretudo, na geometria dos espaços, Murnau explorava no rosto do vampiro e no jogo de sombras, movimentos de câmera e uso de lentes que deformam e embaçam a imagem. O cineasta, assim, chegava a outra característica expressionista, que é pôr à vista os fantasmas do inconsciente do homem. O d

Sousândrade

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Por Pedro Fernandes Há alguns anos que participei de um evento no qual assisti uma comunicação de Ana Santana de Souza sobre O Guesa , de Sousândrade. Depois, sua tese de doutorado foi publicada em livro, ainda disponível à venda, creio eu: A nação guesa de Sousândrade – uma narrativa de viagem .  Recupero o episódio para dizer que foi a primeira vez que ouvi falar na existência do escritor. Rondei pela web à cata de mais detalhes sobre a obra e o poeta e as recolhas de notas que fiz perderam-se. Mas, não será para falar do primeiro encontro com Sousândrade que escreverei este post. A ocasião se deve que, depois dos fragmentos publicados entre 1867 e 1884 da edição de sua obra, agora chega às livrarias organizada por Luiza Lobo, outra especialista na obra do escritor, uma edição revista e atualizada.  Evidente que não será a obra definitiva, porque as lacunas e os enigmas característicos de um escritor que não se preocupou em fazer uma obra de fácil acesso, em todos o

Moby Dick, de Herman Melville

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Há escritores de um livro só. Mesmo que tenham escrito uma leva significativa de textos, mas ainda assim são reconhecidos por apenas um texto. No Brasil, Herman Melville, um dos nomes principais da literatura estadunidense, é um deles. Há outros livros seus traduzidos por aqui, como Taipi , seu primeiro romance, Benito Cereno , Billy Budd e Bartleby, o escrivão – uma história de Wall Street . Mas, se perguntado, mesmo entre os do público de leitores assíduos, o citado será sempre Moby Dick . E pensar que quando o romance foi lançado há 160 anos foi considerado um fracasso porque não conseguiu atingir os 3 mil na sua primeira impressão. Também não era de se esperar, depois disso, que pudesse, tanto depois ser lido como um dos principais textos da literatura produzida nos Estados Unidos. E alcançou. Está no panteão de livros que já têm sua própria legião como Os irmãos Karamazov , de Dostoievski, ou Anna Kariênina , de Tolstói. Com um enredo bastante completo a narrativa do r

A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz

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cena de A malvada. Bette Daves (centro), Marilyn Monroe (em uma ponta para o filme) e George Sands. Visão irônica dos bastidores do mundo do espetáculo traz a estrela Bette Davis em um de seus maiores papéis "Apertem os cintos; esta será uma noite turbulenta!" A célebre frase de Margo Channing dá o tom de A Malvada , uma visão irônica, corrosiva e - por que não? - turbulenta do mundo dos bastidores do showbiz . Channing (Bette Davis), a estrela número um da Broadway, sofre com o envelhecimento e a perda de prestígio. Após um espetáculo, aparece em seu camarim uma fã aspirante a atriz, Eve (Anne Baxter), que se torna sua secretária particular e passa a conviver com as principais estrelas da época. Logo a admiradora ingênua e humilde mostra-se manipuladora e calculista, e sonha apenas em tomar o lugar de sua musa. Espreitando o confronto da dupla está Addison de Witt (George Sanders), cínico crítico teatral que não demora para descobrir as artimanhas de Eve. Bette Dav

Literatura e cidade: dez livros da literatura estrangeira

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Há algum tempo aventuramo-nos na ideia de organizar duas listas de leituras com obras que tragam como espaço alguma cidade das inscritas no mapa-múndi; isso nasceu desde quando editamos outra postagem sobre a relação entre literatura e viagem. Na primeira lista, exploramos obras da literatura de língua portuguesa; agora continuamos a ousadia com a apresentação de livros de outras literaturas cujo foco é este, a relação entre literatura e cidade. Como lembramos todas as vezes ao nosso leitor, está não é uma lista definitiva e sim um breve guia através do qual poderá encontrar portas de acesso ao universo da leitura literária; também não é nenhum um ranking ; e as sinopses são, em grande parte, copiadas daquilo que apresentam as editoras. 1. Paris é uma festa , de Ernest Hemingway: esta obra revela o nascimento do escritor e sua obra. Na cidade luz, o estadunidense lê, pela primeira vez, clássicos como Liev Tosltói, Fiódor Dostoiévski e Stendhal, além de, conviver com

Festival Literário de Pipa

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Terá lugar na Praia de Pipa (Tibau do Sul / RN) o 1º Festival Literário de Pipa. O evento será realizado da quinta-feira, 24 de setembro, ao sábado, 26, com personalidades potiguares e do Brasil. Ao todo serão dez mesas literárias, com presença de nomes como Danuza Leão, Ronaldo Correia de Brito, Marina Colasanti, Daniel Piza, Heloísa Buarque de Hollanda, entre outros autores; quinze oficinas dentro do projeto inédito Pipinha Literária envolvendo 15 profissionais, entre professores, mestres, escritores e arte-educadores e ainda a oficina “A Preparação do Escritor”, com o escritor Raimundo Carrero. A festival também conta com a Livraria Oficial do FLIPIPA-Siciliano, tenda de debates (uma estrutura climatizada com capacidade para 300 pessoas sentadas), espaço de autógrafos, a presença do Sebo Vermelho e um dos maiores editores de livros do RN, o sebista Abimael Silva, além de vários lançamentos de livros, shows musicais com Perfume de Gardênia, Carlos Zens, Galvão Filho, Cleu

O contexto histórico global da prosa romanesca de William Faulkner

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Por José Gregorio Lobo A obra literária de qualquer autor sempre está entre um determinado contexto histórico social, independentemente dos acontecimentos dos quais se utiliza do contexto histórico de fora do texto como referente temático. No caso particular de William Faulkner – e isso é precisamente o motivo deste texto – destaca-se a utilização do contexto histórico-social como referente temático e quase como recurso narrativo. Nosso propósito nesta oportunidade é o de mencionar e enumerar os principais eventos históricos que serviram de marco referencial ao grande escritor estadunidense, por entender – claramente – que são para todos os seus contemporâneos, e com o esclarecimento de que aqueles escritores, coetâneos de Faulkner, que também tomaram a história como fonte temática, naturalmente irão plasmar os mesmos eventos de maneira totalmente diferente, de acordo com suas características pessoais e seus interesses particulares. Faulkner, como herdeiro de um passa

Notas sobre “Três tristes tigres”, de Guillermo Cabrera Infante

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Por William T. Little Três tristes tigres , um romance hispano-americano por antonomásia, exemplifica a dificuldade (se não a impossibilidade) de aplicar critérios críticos tradicionais a uma narrativa inovadora sem prejudicar sua própria integridade estética. Se Joyce logra exaltar o heroísmo humano dentro da vulgaridade mediante a mais circinal perfeição artística, e se Cortázar logra reconciliar a busca de valores absolutos dentro do caos metafísico com a técnica labiríntica, Cabrera Infante se propõe problematizar (mesmo sem aprofundar no modo habitual) o enredo das aparências superficiais da vida em Cuba.  À primeira vista a pirotecnia linguística é a meta mais patente da obra. Mas, sem dúvidas, como Gargantua e Pantagruel , As viagens de Gulliver e Alice no país das maravilhas , Três tristes tigres é um romance humorístico de lances simbólicos. Além disso, estas quatro obras apresentam uma trajetória lógica do mundo gigantesco de Rabelais, passando pela alegori

Crime e castigo, Fiódor Dostoiévski

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Por Pedro Fernandes Shakespeare, Cervantes, Dante, Orwell, Hemingway... Grandes nomes da literatura que marcam os principais momentos da literatura universal. Entre estes nomes há muitos vazios, pertencentes a muitos outros de igual envergadura. E, claro, entre eles não pode deixar de se escrever o nome do russo Dostoiévski, autor de uma vasta obra, mas da qual se destacam ao menos três, digamos assim, mais lidas: Noites brancas , Os irmãos Karamazov e este que agora comentamos, Crime e castigo . Dos três, este último é sempre tido como uma carta de apresentação sobre sua obra, visto que, é um título que se inscreve no âmbito do que a crítica tem considerado como o da maturidade do escritor. Crime e castigo foi publicado em 1866. No Brasil, a tradução direta do russo mais recomendada é apresentada na Coleção Leste, da Editora 34; Paulo Bezerra, sem dúvidas, um dos nomes mais significativos no exercício de apresentação da literatura russa no Brasil, o responsável pela

Alejandra Pizarnik

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Alejandra Pizarnik (Argentina, 1936 – 1972) escreve sobre jaulas, barcos, olhos. Vinhos, céus, luas. Sortes, flores e pedras muito pesadas. É surrealista, sexual, depressiva. Em seus poemas sempre é noite e há uma caixa de barbitúricos próxima, porque sempre apetecerá ao leitor dizer “até aqui”. É uma menina monstro – como ela chamava Janis Joplin quando falava sobre suas influências –, uma mística, uma fêmea chafurdando nos despojos; tão frágil que não está nunca – porque sempre acaba de partir – e tão sensorial que vive nos objetos de tua casa. Não dói porque dói em todas as partes. “Tu eleges o lugar da ferida”, concedeu. Quando era pequena, chorava com as espinhas e se dopava de anfetaminas para perder peso. Se tornou viciada nas tais pastilhas e vivia entre a insônia e a euforia: cisnes enfermos voando baixo por aqui. Reinventava complexos. Tinha os céus de sua irmã mais velha. Gaguejava. Seus pais eram joalheiros, imigrantes judeus de origem russa e eslovaca. Ela falav