Caim, o novo romance de José Saramago




De acordo com uma carta escrita por Pilar del Río e publicada no Blog da Fundação José Saramago, é oficial para outubro o novo livro do escritor português. A notícia enche todos os seus leitores de grande expectativa; tudo porque um escritor como José Saramago era ideal que nunca nos deixasse, nunca se calasse. Há sempre reflexões muito lúcidas, inquietantes e necessárias ao nosso tempo. Depois de publicado A Viagem do Elefante, entre as longas travessias de uma doença, temíamos que não existisse mais outra obra.

Mas não. Estamos todos os leitores da sua obra muito felizes. O título do romance é Caim e a figura bíblica é a protagonista principal. Certamente esse será um livro distante do fôlego de O Evangelho segundo Jesus Cristo porque as condições físicas do escritor de 87 anos já não são as mesmas de 1991. Mas trará, certamente, um impacto parecido com o do outro romance. Já sabemos das posições certeiras de José Saramago quando o assunto é a religião e elas não deverão ser poupadas na revisitação ao Antigo Testamento.

O fato é que, com esse retorno ao texto bíblico, Saramago compõe, então, uma bíblia pessoal, uma vez que o já conhecido de nós O Evangelho segundo Jesus Cristo é uma visita ao Novo Testamento. É de se esperar polêmicas, porque se a opinião de Saramago mantém-se firme na crítica ao discurso sedimentado do cristianismo, as mentes cristãs mais fechadas não se abriram de 1991 para cá. Quando da publicação d'O Evangelho, em Portugal deu-se uma verdadeira celeuma entre leitores e a obra foi censurada de participar do Prêmio Literário Europeu.

Segundo Pilar del Río, "Caim não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra." E emenda: "Este último romance de José Saramago, que não é muito extenso, nem poderia sê-lo porque necessitaríamos mais fôlego que o que temos para enfrentar-nos a ele, é literatura em estado puro. Dentro de pouco tempo podereis lê-lo em português, castelhano e catalão, e então vereis que não exagero, que não me move nenhum desordenado desejo ao recomendá-lo: faço-o com a mais absoluta subjectividade, porque com subjectividade lemos e vivemos."

Aguardemos, pois.

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

Mortes de intelectual

16 + 2 romances de formação que devemos ler