10 filmes inspirados em clássicos da literatura brasileira


Não é objetivo por em ordem pelo valor ou pela qualidade das adaptações; esta é uma lista livre. Apenas agrupam-se alguns filmes brasileiros que tiveram seu enredo inspirado em romances também brasileiros. Há muitos que seguem essa construção, alguns até mais recentes, mas queríamos tocar na ideia de clássico. Depois, é muito possível que façamos mais outra listinha; por enquanto, estes merecem muito a atenção de leitores e de amantes do cinema nacional.

Cena de Vidas secas.

Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos (1963): A família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia, que, pressionados pela seca, atravessam o sertão em busca de meios de sobrevivência, ganhou as telas do cinema quando ainda era charme a tela em preto e branco. A trama baseada na obra homônima de Graciliano Ramos, não só reaviva a narrativa enxuta do escritor alagoano como consegue avivar o retrato das personagens tão bem engendradas e talvez as mais importantes de nossa literatura.

São Bernardo, de Leon Hirszman (1972): A trama se baseia na vida de Paulo Honório, rapaz de infância pobre, porém com grande habilidade em lidar com as dificuldade da vida; aliás, para ele, tão centrado, nada parece ser uma dificuldade; nascido sem nada, acaba sendo um grande proprietário, um latifundiário. São Bernardo, o livro, foi lançado em 1934, dois anos antes de Graciliano Ramos, seu autor, ser preso pela Ditadura por ser acusado de ligação com o comunismo. O filme de Hirszman é considerado um dos melhores produzido no Brasil na década de 1970. É uma adaptação bem fiel do romance e com uma fotografia simples e arrojada.

Fogo Morto, de Marcos Farias (1976): O colono mestre José Amaro, depois de muito dedicar-se ao coronel Lula, é expulso de suas terras aos fundos do engenho apenas pelo interesse de ter de volta aquilo que não mais precisa (terra); é quando Amaro pede ajuda aos cangaceiros para reaver o que é seu; destaque para o Papo-Rabo, o nosso dom Quixote. Baseado no romance de José Lins do Rego, aborda o problema do coronelismo e das lutas entre a polícia e o cangaço na região dos engenhos da Paraíba em 1910. O filme tem Othon Bastos, quem faz o papel o petulante coronel.

Morte e vida severina, de Zelito Viana (1977): A peça para o teatro com música de Chico Buarque marcou as produções do gênero no Brasil; tanto que terá sido um dos elementos motivadores para levar para o cinema o texto que João Cabral de Melo Neto escreveu no intuito de ser um simples auto de natal. No cinema, o diretor quis que o formato da adaptação não se perdesse tanto da leitura para o teatro e Morte e Vida Severina ficou sendo um teleteatro musical que tem no elenco nomes como Elba Ramalho, Tânia Alves (cantoras) e Stênio Garcia. Em 1981, o filme foi transformado num especial para TV Globo com direção de Walter Avancini. 

O cortiço, de Francisco Ramalho Jr. (1978): Se personagens como Rita Baiana, José Romão ou mesmo o próprio cortiço criados por Aluísio Azevedo, um dos mestres do Naturalismo brasileiro, têm vida plena pela palavra, eles reafirmam seu contorno nessa adaptação que traz no elenco nomes como Betty Faria e Beatriz Segall. Esta não é a única adaptação do romance para o cinema. Em 1945, Luiz de Barros também transcreveu a obra de Azevedo para o ecrã, mas essa certamente uma peça daquelas muito raras de se achar.

Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos (1984): Pela adaptação de duas das principais obras de Graciliano Ramos, já o leitor suspeitará que o cineasta é um apaixonado pela obra do escritor alagoano. Especulações à parte, dissemos acima que Graciliano chegou a ser preso acusado de mal-cominado com as forças comunistas. Durante a estadia na prisão, um dos retratos mais vivos do horror da Ditadura. Assim como fez com Vidas secas, Nelson Pereira do Santos, agora em cores, seguiu de perto o texto de Graciliano Ramos.

cena de A hora da estrela

A hora da estrela, de Suzana Amaral (1985): Clarice Lispector, sem querer, forjou uma personagens-tipo mais pungentes da literatura brasileira; a moça ingênua e totalmente desprovida da capacidade de ser como a gente comum porque tem pelo mundo uma verdade absoluta, tão absoluta que não saber ser outra coisa se não um ser, tal como uma planta ou bicho, algo que vive à própria sorte.

Guerra de Canudos, de Sergio Rezende (1997): Em 1893, o Antônio Conselheiro e seus seguidores começam a tornar um simples movimento de organização comunitária em algo grande demais aos olhos da recém República. Os seguidores do beato apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem não podia aceitar (e uma ideia fabricada pelos olhos do poder) que os humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem o lugar República. Assim, em 1897, esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Estes fatos são vistos pela ótica de uma família, que tem opiniões conflitantes sobre Conselheiro; baseado no romance Os sertões, de Euclides da Cunha, testemunha do massacre de Canudos, a peça de Rezende tem no elenco nomes como José Wilker (quem vive a personagem de Antônio Conselheiro), Marieta Severo e José de Abreu.

Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de Paulo Thiago (1998): A personagem lida repetidas vezes como uma das mais emblemáticas quando o tema é a defesa da soberania brasileira, criteriosamente desenhada por Lima Barreto ganha vida pela sempre incrível atuação de Paulo José. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma é um retrato vivo sobre complexidade burocrática do sistema político nacional, mas é, sobretudo, uma reflexão sobre o desvario dos que se deixam guiar por uma obsessão do que é ser nação.

Reginaldo Faria é o defunto autor Brás Cubas

Memórias póstumas de Brás Cubas, de André Klotzel (2001): Após sua morte em 1869, Brás Cubas, disposto a se distrair um pouco na eternidade, decide narrar suas memórias e revisitar os fatos mais marcantes de sua vida. E adverte: "A franqueza é a primeira virtude de um defunto". É com desconcertante sinceridade que ele relembra sua infância, juventude, incidentes familiares e personagens marcantes, como o amigo Quincas Borba, que passa de mendigo a milionário. Fala ainda sobre sua formação acadêmica em Portugal e o discutível privilégio de nunca ter precisado trabalhar. Com a mesma franqueza, Brás Cubas convida o espectador a testemunhar sua tumultuada vida amorosa. Lembra o primeiro amor, a cortesã espanhola Marcela que amou-o por "15 meses e 11 contos de réis". O segundo, a jovem Eugênia, que “apesar de ser bonita, mancava. E sua grande paixão, Virgília, que acaba trocando-o pelo político Lobo Neves. Abordando o cotidiano ou acontecimentos nacionais, na vida ou na morte, Brás Cubas alterna ironia e amargura, melancolia e bom-humor sem perder a leveza. Em qualquer estado de espírito, ele nos surpreende pela irreverência e devastadora lucidez.



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