Essa segunda língua que supomos
Por Pedro Fernandes
Recentemente esteve pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), onde cursei minha graduação e hoje curso mestrado, a professora Gladis Barrios, da Universidade de Tolima, Colômbia. Ela contava, na rápida conversa que manteve com os alunos do mestrado, dada a extensa agenda de compromissos na instituição, que, no seu país, os alunos de graduação são todos bilíngues; que em se tratando de mestrado e de doutorado os trabalhos de conclusão dos respectivos cursos, dissertação e tese, devem ser defendidos em versões na língua mãe, o espanhol, e na língua estrangeira, o inglês. O país, entretanto, padece de uma taxa de 70% de analfabetos.
Pergunto, para que serve tanto rigor por parte das instituições diante dessa lastimável estatística. Daí, aplica-se bem aquele ditado popular de que tudo demais é veneno. Mas, a questão que me leva a essa pergunta está num outro fato: o dela ter mencionado, e mencionado bem, do atual poder de que o Brasil dispõe frente a outros países como a própria Colômbia e a importância que esta nossa nação verde-amarela representa para a América Latina, e para o cenário mundial na atualidade e mesmo assim, este é o país pobre linguisticamente, no sentido de não sermos sequer uma nação bilíngue.
Entendi a crítica: o esforço dela num portunhol pedia que, estando num país integrante do Mercosul, ao menos os alunos do mestrado tivessem o domínio da língua irmã. Bem, se para sermos bilíngues (seja português-espanhol, português-inglês) tivermos que chegar aos patamares do analfabetismo colombiano, continuemos monolíngues. Talvez um país, para demonstrar seu valor político fora de suas limitadas fronteiras, deve-se começar por se impor com a língua.
Sequer concordo que o tal bilinguismo espanhol-inglês seja apenas uma demonstração de realização política. Isso que ocorre na Colômbia possui outro nome: submissão linguística. Se o tal bilinguismo fosse sinônimo de poder, o estadunidense deveria ser mais que bilíngue. E, no entanto, o que são? Falam um inglês tão ruim como falamos nosso português. Sigamos eles. Se algum dia o Brasil ao menos sonhar em ocupar a cadeira de líder mundial, queira Deus que isso nunca ocorra, que o resto do mundo aportuguese-se, assim como se inglesou.
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