Conferência sobre o romance e o filme “Ensaio sobre a Cegueira”
Por Pedro Fernandes
Capa da edição brasileira de Ensaio sobre a Cegueira e cartaz de divulgação de Blindness, adaptação do romance de José Saramago feita pelo cineasta Fernando Meirelles. |
Ensaio sobre a Cegueira é, certamente, uma das mais potentes alegorias sobre a atual condição da civilização Ocidental ou é uma leitura pungente sobre o acelerado processo de degradação dessa civilização ao longo de sua história. Sim, esta é uma das maiores civilizações que habitaram o planeta, mas, no ritmo em que se encontra, não tardará muito seu fim. Sobretudo porque temos exercido em grande nível a incapacidade de ver o que está nas aparências e vimos aos poucos nos tornando também no aparente.
Publicado em 1995, tão logo José Saramago saiu de Lisboa para ir morar na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, este romance é reconhecido pela crítica como um dos mais importantes da segunda metade do século XX. E, além de dizer tanto do que nos tornamos, é este um romance que deposita uma crença inabalável na capacidade do homem em reaver outro destino para fora da decadência. Se alcançaremos não sabemos; nem a obra deve se preocupar em responder isso.
Muito tempo depois, em finais de 2008, os cinemas brasileiros receberam mornamente uma adaptação dessa obra saramaguiana. Veio pelas mãos do diretor brasileiro Fernando Meirelles, autor de outros exercícios do gênero de grande magnitude, como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, duas outras adaptações de livros. Essa tradução da escrita para a imagem não deixa de se constituir num aspecto sobre o qual nossa atenção de leitor logo se direciona a título de buscar respostas sobre o que sobrou do livro na tela. Tenciono fugir desse debate, muito embora, note que será, evidentemente, uma das questões que poderão surgir quando se coloca em relação as duas obras (o romance é uma e filme, mesmo adaptado, é outra).
Sobre o romance e sobre o filme formam o motivo para uma conferência que pronuncio hoje, segunda-feira, 20 de julho de 2009, às 19h, na Faculdade de Letras e Artes, no Campus Avançado Professora Maria Eliza de Albuquerque Maia, em Pau dos Ferros (RN). Trata-se de um convite do professor Afrânio Lucena. E já intitulei a conversa com o nome de Ensaio sobre a visão - ver para ler, ler para ver, um olhar para a obra de José Saramago e a adaptação para o cinema.
Já escrevi sobre o filme de Meirelles para dois veículos de imprensa: o texto “Mar de leite” saiu no dia 6 de novembro de 2008 do caderno Domingo, no mossoroense Jornal De Fato e no site de cultura Substantivo Plural. É uma pequena crônica de registro impressionista feita no calor da ansiedade por ver este filme no cinema; o texto em questão foi reproduzido neste blog e pode ser lido aqui. No mesmo endereço, encontrará o caminho para um vídeo que ganhou notoriedade na web com a reação de José Saramago ao assistir ao filme pela primeira vez. A expressão positiva parece contornar dois medos: o do cineasta de não conseguir oferecer uma obra a altura do romance; e o do romancista de não se satisfazer com a leitura cinematográfica de um romance que prima pela indistinção (visto sua natureza alegórica).
Mais que isso: sabe-se da relutância de Saramago com as adaptações de sua obra literária para as artes da imagem em movimento, ainda que em 2008, além do feito de Meirelles, tenha acontecido outro: George Sluizer produziu uma adaptação de A Jangada de Pedra, estreada uma semana depois do filme aqui em questão. Ainda não consegui acesso a este trabalho, mas, de toda maneira, é isso um assunto para outro encontro por aqui ou, quem sabe, noutra conferência.
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