Arménio Vieira, Prêmio Camões 2009




Depois de João Ubaldo Ribeiro, brasileiro nosso, que recebeu ano passado o Prêmio Camões, neste ano, o galardão ficou com o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira, escolhido vencedor no último dia 2 de junho. Ele é o 21º a receber a premiação que é a mais importante da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Arménio Vieira nasceu na cidade da Praia, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 24 de janeiro de 1941. Além de escritor, é jornalista, com colaborações em publicações como o Boletim de Cabo Verde, a revista Vértice, Raízes, Ponto & Vírgula Fragmentos. 

Algumas das obras do primeiro escritor cabo-verdiano a receber o Camões, são: Poemas (1981), O Eleito do Sol (1989), No Inferno (1999) e Mitografias (2006). Recentemente, publicou O Poema, A Viagem, O Sonho. "Labiríntica poesia, fascinante leitura. A sonhadora viagem proporcionada pelos poemas deste Vieira, dito Arménio, refirma-o entre os melhores da lusografia contemporânea", assim descreve Ricardo Riso em texto para a revista Buala.

O júri deliberou, por maioria, outorgar o Camões ao poeta, "tendo em consideração a generosidade de seu talento, o diálogo com os clássicos e sua inserção na modernidade". De acordo com a comissão julgadora, a escolha "pretendeu realçar a centralidade de sua visão humanista e o universo simbólico, caracterizado por uma poética onde o particular cabo-verdiano coincide com um visionarismo de caráter universal".

De acordo com o poeta Corsino Fortes, há uma tradição literária muito grande em Cabo Verde, desde o século XIX. Ele destaca também "uma grande expressão literária da juventude pós-independência [5 de julho de 1975]" e ressalta a existência de uma literatura de qualidade em seu país, atestada pelos críticos, inclusive brasileiros.

"A expectativa, na verdade, é de uma homenagem à África. É a África que sai ganhando", disse Muniz Sodré, que afirmou estar "extremamente contente, muito comovido com a escolha do júri".

*

A seguir, compartilhamos com os leitores deste espaço, um poema de Arménio Vieira, extraído da antologia Vozes poéticas da lusofonia (Sintra, 1999).

Ser tigre

O tigre ignora a liberdade do salto
é como se uma mola o compelisse a pular.

Entre o cio e a cópula
o tigre não ama.

Ele busca a fêmea
como quem procura comida.

Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.

Nenhuma voz lhe fala da morte.
O tigre, já velho, dorme e passa.

Ele é esquivo,
não há mãos que o tomem.

Não soa,
porque não respira.

É menos que embrião
abaixo do ovo,
infra-sémen.

Não tem forma,
é quase nada, parece morto.

Porém existe,
por isso espera.

Epopéia, canção de amor,
epigrama, ode moderna, epitáfio,

Ele será
quando for tempo disso.

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