Por Pedro Fernandes Antonio Cicero, um dos nomes mais proeminentes da poesia brasileira do século XX, dedicou-se a várias frentes da escrita, além do gênero no qual se destacou; foi letrista e ensaísta. Dessas várias faces, ficou mais conhecido pelas suas letras que tomaram forma e ritmo na voz de alguns dos mais expressivos intérpretes da nossa rica cena musical; produção que se deu desde jovem, mas só se torna popular por sua irmã, a cantora, compositora e também escritora Marina Lima. A formação de Antonio Cicero é na área da filosofia, curso iniciado na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) depois de cumprir o ensino médio em Washington, nos Estados Unidos, onde morou quando o pai, o economista Ewaldo Correia, foi nomeado para um cargo no recém-fundado Banco Interamericano de Desenvolvimento e a família precisou deixar o Brasil. O curso superior só foi concluído na Universidade de Londres. Como muitos de sua geração, Cicero também se viu obrigado a deixar o Brasil
Thomas Bernhard. Foto: Otto Breicha LANÇAMENTOS Coletânea apresenta novas expressões da escrita de Thomas Bernhard . “Tudo nele era revolta”: dessa maneira o poeta francês Rimbaud é definido por Thomas Bernhard no texto que abre a coletânea Na pista da verdade , escrito em 1954, quando o escritor tinha apenas 23 anos. Tais palavras tão categóricas podem muito bem se aplicar à carreira que o autor austríaco desenvolveu nas décadas seguintes. Afeito a polêmicas e controvérsias, ele escreveu uma sequência de peças de teatro que atacavam as cidades austríacas onde eram encenadas, assim como seus habitantes, muitas vezes sem poupar os próprios festivais de dramaturgia que as contratavam. Neste livro organizado por Wolfram Bayer, Raimund Fellinger e Martin Huber, podemos nos divertir com a chegada inesperada do autor à redação do jornal de Augsburgo, onde protestavam contra sua peça, quase como um happening . Mais importante que isso, podemos matizar o estilo de Bernhard através de sua
Gerald Murnane. Foto: Aaron Francis LANÇAMENTOS A estreia brasileira de um dos nomes de destaque na literatura australiana recente: Gerald Murnane . Publicado pela primeira vez em 1982, As planícies apresenta uma meditação sobre território, memória, amor e cultura, a partir da busca existencial de um jovem cineasta nas planícies do interior da Austrália. O livro é publicado pela editora Todavia; tradução de Caetano W. Galindo. Você pode comprar o livro aqui . Primeira e mais ampla antologia brasileira com a poesia de Hans Magnus Enzensberger . Nascido no Período Entreguerras, Hans Magnus Enzensberger cresceu na Alemanha nazista e refletiu, em poemas e ensaios, sobre a experiência histórica de viver no mundo conturbado que se desdobrou desde então. Destinatário desconhecido: uma antologia poética (1957-2023) reúne noventa de seus mais importantes poemas, selecionados e traduzidos do alemão pelo poeta e professor Daniel Arelli, que também traduziu a poesia de Hannah Arendt. Os te
Por Pedro Belo Clara Rabindranath Tagore. Foto: Curatorial Assistance Inc. / E.O. Hoppé Estate Collection O PRIMEIRO BEIJO O céu ficou silencioso e de olhos baixos, Os pássaros calaram todos os seus cantos; O vento emudeceu; a música das águas acabou De repente; o murmúrio da floresta Morreu lentamente no coração da floresta. Na margem deserta do rio tranquilo, Nas sombras do anoitecer desceu silenciosamente O horizonte sobre a terra muda. Nesse momento no silencioso e solitário alpendre Beijámo-nos pela primeira vez. Nesse momento exacto, ao longe e perto Repicaram os sinos e soaram os búzios Nos templos dos deuses apelando ao culto. Um estremecimento percorreu o infinito mundo das estrelas E os nossos olhos encheram-se de lágrimas. INTERMINÁVEL AMOR Parece-me que te amei de inúmeras maneiras, inúmeras vezes, Na vida após vida, em eras após eras eternamente. O meu coração enfeitiçado fez e voltou a fazer o colar das canções Que tomaste como uma prenda, usando-o à volta do
Por Violeta Leiva Sebastian Stoskopff. Até que ponto a nossa ocupação determina a forma como morremos? Deixando de lado os acidentes de trabalho, é mais provável que um vendedor de enciclopédia se engasgue com um camarão do que um toureiro? É sabido que há uma multiplicidade de fatores condicionados pelo trabalho — exposição a substâncias tóxicas, stress, esgotamento físico, sedentarismo, hábitos alimentares etc. — que acabam por ter uma influência mais ou menos direta, para bem ou para mal, da maneira como terminaremos nossos dias. Poderíamos pensar que as ocupações intelectuais, por não implicarem à primeira vista um risco físico significativo, têm pouca influência nos fins daqueles que as realizam. Talvez a corroboração de uma estatística que não possuo não seja necessária para confirmar que o trabalho intelectual é, no entanto, uma atividade de alto risco. As dificuldades e resistências enfrentadas por quem se esforça para preencher páginas e páginas — seja o resultado um grande
Goethe à janela de seu apartamento em Via del Corso, Roma. Pintura de Johann Tischbein, 1787. Há uma forma romanesca que tem ganhado espaço entre os leitores nos últimos anos, sobretudo devido ao gosto elevado pela obra da escritora italiana Elena Ferrante indicada nesta lista – a tetralogia napolitana. Neste meio tempo as livrarias receberam ainda livros como O pintassilgo , de Donna Tart ou a reedição de clássicos como A montanha mágica , de Thomas Mann. Mas, o que há em comum entre estas obras e qual forma romanesca é esta? A forma é do romance de formação (cf. enuncia o título da postagem). O termo é uma tradução do alemão Bildungsroman e teria sido empregado pela primeira vez em 1803, pelo professor de filologia clássica Karl Morgenstern numa conferência sobre “o espírito e as correlações de uma série de romances filosóficos”, segundo Friz Martini. Como lembra Wilma Patricia Marzari Dinardo Mass, “mais em tarde, em conferência de 1820, o mesmo Morgenstern asso
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