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Mostrando postagens de junho, 2009

Novidades sobre o caderno-revista 7faces

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Por Pedro Fernandes 1.  Quero antes agradecer a todos os que contribuíram para o volume 01 deste caderno-revista, parte de uma rede maior a que denominei de 7faces. Neste intervalo de pouco mais de um mês de quando a ideia foi lançada recebi contribuições de poetas de vários estados do Brasil; terei agora a grande responsabilidade de lê-los, um a um, e ver aqueles que serão matéria da primeira edição.  2.  O caderno-revista 7faces é uma ideia em construção; primeiro, pensava em formá-lo apenas com poemas, isso se expandiu e vou usar da liberdade para já neste número lançar números temáticos, que, por este fato, dará abertura ao espaço para a recepção de outros textos de outros gêneros, sobretudo os do ensaio, do artigo acadêmico.  3.  Agora, a título de evitar sobrecarga porque, claro, é ainda um trabalho conduzido a duas mãos ( para a leitura, a edição, a formatação, a distribuição e divulgação desse material) , darei preferência aos convites e não às submissões de textos.

Anjos e demônios

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Por Pedro Fernandes cena do filme Anjos e demônios . Apesar do título que dou a este texto não é da obra homônima de Dan Brown que irei falar, tampouco da tradução que esta teve para as telas da sétima arte. Irei falar é de um artigo que li no jornal Correio da Tarde publicado recentemente que emendava ao título Anjos e demônios, "mera ficção!". É, pois, um um diálogo para com aquele texto e aparece aqui porque foi inviável através da coluna do jornal, o espaço que seria ideal; entretanto, todos nós sabemos das limitações que existem em cada mídia, disso, já nos falava Pierre Bourdieu na sua magnífica conferência "Sobre a televisão", no Collège de France. Pois bem, alguns pontos no referido artigo me inquietaram: um deles foi os elogios dados ao livro, ao escritor e à produção cinematográfica. Não concordo com nenhum deles: o livro não é lá essas coisas, é mero transplante de um molde de vender que deu certo com O   código Da Vinci ; o escritor, também não,

Leite derramado, de Chico Buarque

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Por Leyla Perrone-Moisés Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência. A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em 200 páginas.

José Donoso ou a vida feita de literatura

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Por Mario Vargas Llosa José Donoso. Foto: Chema Conesa. Ele foi o mais literário de todos os escritores que conheci, não só porque havia lido muito e sabia tudo o que é possível saber sobre vidas, mortes e fofocas da feira literária, mas porque havia modelado sua vida como se modelam as ficções, com a elegância, os gestos, os atrevimentos, as extravagâncias, o humor e a arbitrariedade que os personagens dos romances ingleses tendem a exibir, especialmente aquele que ele preferia entre todos.   Conhecemo-nos em 1968, quando ele vivia nas alturas maiorquinas de Pollença, numa casa de campo italiana, de onde contemplava as rígidas rotinas de dois monges cartuxos, seus vizinhos, e o nosso primeiro encontro foi precedido por uma teatralidade que nunca esquecerei. Cheguei a Maiorca com a minha mulher, a minha mãe e os meus dois filhos pequenos e Donoso convidou-nos para almoçar, através de María del Pilar, a sua maravilhosa esposa, a jardineira das suas neuroses. Aceitei, encantado. Um dia d

João Silvério Trevisan

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João Silvério Trevisan. Foto: Brigitte Friedrich A obra de João Silvério Trevisan marca de forma perene a literatura brasileira desde a década de 1970. O escritor figura entre aqueles que transformaram temas e situações da comunidade gay em matéria criativa de sua literatura, que ora assumem o enfrentamento aos modelos impostos pelos padrões, ora em denúncia das múltiplas violências geralmente entregues por essa sociedade fundada no dogmatismo e sectarismo.   O sobrenome Trevisan logo recorda o de outro escritor essencial da literatura brasileira, o curitibano Dalton Trevisan. Pura coincidência notável também no gosto e no lugar central que ocupam no nosso universo literário. Mas, a família de João Silvério é do interior de São Paulo; ele nasceu em Ribeirão Bonito, no dia 23 de junho de 1944. Cada um dos escritores forma parte, assim, em gerações distintas. Pelas filiações temáticas e temporais, o autor aqui em destaque se encontra mais próximo de outros nomes de sua época, como Caio

Júlio Dinis, romances de transição

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Depois das novelas de amor passional de Camilo Castelo Branco eis que surge em território português uma série de romances em que os traços do sentimento amoroso eram outros. É o período ainda da estética romântica, mas que a crítica literária classifica como transitório para outras manifestações literárias. A terceira geração. Nos romances desta leva já havia a predominância de traços do realismo, estética que se consolidaria mais tarde com a obra de Eça de Queirós. Desta leva de romances, destaque-se a de Júlio Dinis. Júlio Dinis nasceu no Porto. O ano era o de 1839. Cursou Medicina e foi professor universitário na Escola Médico-Cirúrgica da cidade natal até quando descobriu que estava com tuberculose. Nessa época vai morar em Ovar, depois na Ilha da Madeira até retornar ao Porto. Apesar de ter vivido pouco (Dinis morreu em 1871) deixou uma obra que palmilha diversos gêneros: do teatro à crítica literária, da poesia à prosa (conto e romance). Seus romances apresentam o que a críti

Há romances ruins de quem escreve romances bons?

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Por Pedro Fernandes José Saramago, sempre acusado de ter escrito alguns livros que não deviam sequer sido publicados.  Já postei  neste blog algumas notas   acerca de  A Caverna  (2000). Aos que me conhecem ou me leem vez por outra neste espaço, ou mesmo aqueles que passam de relance por aqui, sabe que tenho me tornado leitor da obra de José Saramago há alguns anos e parte disso tem sido registrado por aqui. Ultimamente, tenho atualizado essas leituras com uma certa velocidade, principalmente depois que escrevi minha monografia de fim de graduação intitulada  O Ser em O conto da ilha desconhecida Diante do Ser Sartriano , em agosto de 2008, sob orientação do professor e poeta Leontino Filho. E agora que me dedico a uma nova fase acadêmica, a do mestrado, não é mais que minha obrigação cumprir com essa necessidade uma vez que a obra do escritor português  permanece no centro de interesse e nas minhas preocupações de pesquisador.    Essas impressões que vou construindo a cada lei

In Nomine Dei, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes “Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d’Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado da cauda do seu canino deus?” Este fragmento pertence à nota introdutória de In nome dei , edição de 1993, publicada no Brasil pela Companhia das Letras. Este livro trata-se de um texto escrito por José Saramago para o teatro. Uma encomenda, como foram todos os seus outros textos do gênero, como ele próprio lembrou em várias ocasiões. Trata-se de um texto que poderíamos dizer, vem compor uma revisão acerca do fio ideológico do discurso religioso, juntamente com O evangelho segundo Jesus Cristo , romance de 1991 e A segunda vida de Francisco de As

Cruz e Sousa

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“Tem poetas que interessam mais pela obra, artistas cuja peripécia pessoal se reduz a um trivial variado, sem maiores sismos dignos de nota, heróis de guerras e batalhas interiores, invisíveis a olho nu. Tem outros, porém, cuja vida é, por si só, um signo .” Assim inicia Paulo Leminski a apresentação que faz da vida de   Cruz e Sousa, considerado, desde cedo um importante nome da poesia brasileira pelos opositores do parnasianismo e que dividiu a opinião crítica desde sua dupla estreia literária, com a publicação dos livros Broquéis  e Missal , em 1893. Ivan Teixeira esclarece que críticos como José Veríssimo e Araripe Júnior foram insensíveis ao modelo de poesia desenvolvido pelo poeta, estavam, provavelmente tomados dos modelos poéticos da chamada nova geração. Dos nomes conhecidos da época, Teixeira cita que Adolfo Caminha, impulsionado talvez por dividir o mesmo teto da casa editorial — no mesmo ano de 1893, Magalhães & Cia. também publica A normalista  — escreveu algum elo

Arménio Vieira, Prêmio Camões 2009

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Depois de João Ubaldo Ribeiro, brasileiro nosso, que recebeu ano passado o Prêmio Camões, neste ano, o galardão ficou com o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira, escolhido vencedor no último dia 2 de junho. Ele é o 21º a receber a premiação   que é a mais importante da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Arménio Vieira nasceu na cidade da Praia, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 24 de janeiro de 1941. Além de escritor, é jornalista, com colaborações em publicações como o Boletim de Cabo Verde , a revista Vértice , Raízes , Ponto & Vírgula e  Fragmentos .   Algumas das obras do primeiro escritor cabo-verdiano a receber o Camões, são: Poemas  (1981), O Eleito do Sol  (1989), No Inferno  (1999) e  Mitografias (2006). Recentemente, publicou O Poema, A Viagem, O Sonho . "Labiríntica poesia, fascinante leitura. A sonhadora viagem proporcionada pelos poemas deste Vieira, dito Arménio, refirma-o entre os melhores da lusografia contemporânea", assim descreve R

Minhas tardes com Décio Pignatari

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Por Pedro Fernandes Décio Pignatari ao lado do professor e poeta Francisco Ivan em conferência de abertura da edição de 2009 do Colóquio Barroco. 1. Este pode ter sido um momento que não se repetirá mais, devido a idade avançada e a já frágil saúde de Décio Pignatari que, apesar de tudo, segue ativo, revisando parte de sua produção intelectual e produzindo novos materiais. Nos dias em que estive em duas longas conferências com um dos fundadores do movimento concretista, relatou-nos do trabalho de construir algumas peças de teatro, como a que contará a história (de um ponto muito inusitado) da escritora potiguar Nísia Floresta. 2.   Décio veio a Natal para ficar boa parte dos dias em que acontece a XVII Semana de Humanidades, evento promovido anualmente pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os dias aos quais me refiro foram 3 e 4 de junho de 2009. As duas tardes possuíam o título muito genérico de Fronteiras na pesqui

Gregório de Matos, o Boca do Inferno

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Esta cidade acabou-se, pensou Gregório de Matos, olhando pela janela do sobrado, no terreiro de Jesus. “Não é mais a Bahia. Antigamente, havia muito respeito. Hoje, até dentro da praça, nas barbas da infantaria, nas bochechas dos granachas, na frente da forca, fazem assaltos à vista.” Veio à sua mente a figura de Góngora y Argote, o poeta espanhol que ele tanto admirava, vestido como nos retratos em seu hábito eclesiástico de capelão do rei: o rosto longo e duro, o queixo partido ao meio, as têmporas raspadas até detrás das orelhas. Góngora tinha-se ordenado sacerdote aos cinqüenta e seis anos. Usava um lindo anel de rubi ao dedo anular da mão esquerda, que todos beijavam. Gregório de Matos queria, como o poeta espanhol, escrever coisas que não fossem vulgares, alcançar o culteranismo. Saberia ele, Gregório de Matos, escrever assim? Sentia dentro de si um abismo. Se ali caísse, aonde o levaria? Não estivera Góngora tentando unir a alma elevada do homem à terra e seus sofrimentos c

A qualidade da programação da TV brasileira

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Por Pedro Fernandes A adoração pela TV não possui limites sociais, raça ou credo. O televisor se tornou instrumento presente na maioria das casas brasileiras. Provas vão desde uma antena “espinha de peixe” mal colocada no telhado de um barraco até às potentes antenas parabólicas na cobertura de um prédio de luxo. Claro, ninguém é de ferro! Quem não gosta de relaxar vendo um bom filminho? Ou até mesmo algum programinha interessante? – Opa! Pere aí! Cuidado com o adjetivo! – Mulher xinga o marido por causa de traição. De certa vez, homem invade programa ao vivo com arma em punho. Cenas eróticas do mocinho com a protagonista alcançam o ápice de audiência das telenovelas. Isso tudo são coisas do cotidiano? Sim, mas se tornaram, sobretudo, artimanhas da TV exibidas em horário nobre ou em fins de semana, servidos de bandeja ou empurrados goela abaixo toda vez que, por vício ou o interesse de relaxar um pouquinho, ligamos o televisor. A briga entre programas pela audiência

Algumas notas sobre Absalão! Absalão!, de William Faulkner

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O papel semelhante ao bíblia com que o editor quis publicar Absalão! Absalão! não é senão a mensagem que revela ao leitor o caráter sagrado desta obra-mestra de William Faulkner; esse caráter é constituído por razões que estão além dos referentes bíblicos oferecidos pelo próprio romance e que se liga à excelência artística e ao estilo capaz de servir de influência a diversos autores de extrema grandiosidade, tal como Mario Vargas Llosa, António Lobo Antunes, Joyce Carol Oates, Gabriel García Márquez, Thomas Bernhard... Absalão! Absalão! regressa ao universo de Faulkner das dinastias, de patriarcados em declínio, consciências atormentadas e atmosferas tão febris como asfixiantes do condado de Yoknapatawpha, depois de deixar-se cair na tentação do êxito comercial interessado em construir um Best-Seller e carregando as tintas em Santuário .   Absalão! Absalão! , a história da perturbada ambição de Thomas Sutpen e da tragédia com que culmina a envenenada relação de ultrajes

Sobre “As vinhas da ira”, de John Steinbeck

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Os tempos da ira Por Luisgé Martín Uma família se vê obrigada a abandonar sua casa, despejada pelo banco, e viaja para outro lugar em busca de uma via melhor. Ao final da travessia, essa família descobre que onde chegaram não é um paraíso; seus habitantes lhe insultam e lhe rejeitam como intrusos, não encontram uma casa onde morar, não há muito trabalho e os salários são tão miseráveis que não permitem que vivam com dignidade:  “Imagine que você precisa de gente para um serviço qualquer e que só aparece um homem a querer pegar nesse serviço. Então você tem de lhe pagar o que ele exigir. Mas se, em vez de um, aparecerem cem homens... (...). Suponha que há cem homens a querer esse emprego. Esses cem homens têm filhos e os filhos têm fome. Suponha que uma moeda de dez centavos chega para comprar qualquer coisa aos pequenos. E são cem homens. Você oferece-lhes uma tuta e meia e vai ver: matam-se uns aos outros para ganhar essa ninharia. Sabe quanto me pagaram no último trabalh