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Alexandre Herculano. Pintura atribuída a José Balaca, 1849. |
A autora Leyla Perrone-Moisés associa o escritor português José Saramago
a uma tradição da literatura portuguesa que inclui nome de Alexandre Herculano, dada a sua capacidade de apropriação da
História a fim de extrair dela o material literário para compor seus escritos.
Essa característica comum ao escritor Prêmio Nobel, quando lembramos de
romances como Levantado do chão, Memorial do convento, O
ano e a morte de Ricardo Reis, entre outros, teve em Herculano um dos
precursores. Ele foi, ao lado de Almeida Garrett, o responsável pelo desenvolvimento de um
programa estético que objetivava uma reconstrução da cultura portuguesa.
Consciente da crise de identidade por que passava Portugal desde 1580,
ano da trágica perda da soberania para o território de Espanha, Alexandre
Herculano cria ser aquele o momento de investir na reconstrução dos valores
nacionais e toda sua obra, aclara a crítica, está dedicada a esse interesse, a começar
pela reconstrução da história do povo português.
Autor de novelas e contos, a maioria publicações realizadas em
periódicos, Herculano valeu-se da pesquisa historiográfica para a construção do
enredo de suas narrativas.
Foi com ele que a primeira geração do Romantismo português conheceu o
desenvolvimento máximo de uma das características principais ao movimento: a
reconstituição do passado como base para a construção de uma identidade
nacional no presente.
Alexandre Herculano publicou dois romances muito importantes que, por
tratarem do problema do celibato clerical, foram reunidos pelo o autor sob o
título de “O monasticon”: Eurico, o presbítero, publicado em 1844
e O monge de Cister, em 1848.
O autor também se destacou no cenário português não apenas pelos textos
ficcionais; o diálogo ou a constante aproximação com o material da história o fez
dedicar-se à escrita do que chamou de História de Portugal, obra
dividida em quatro volumes nos quais reconta a história do seu país, desde
a origem até o reinado de D. Afonso III.
Como historiador, Herculano inovou na concepção de História ao valorizar
as lutas sociais em lugar de privilegiar os feitos individuais.
Alexandre Herculano nasceu em 1810, na capital portuguesa (Lisboa), e
morreu em 1877. Sua obra não se resume apenas à prosa (o conto, a novela, o
romance e às chamadas historiografias), também escreveu poesia, reunida em dois
volumes: A harpa do crente e Poesias. Um escritor
completo.
* Parte das ideias comuns a este texto estão em ABAURRE, Maria Luiza;
PONTARRA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: língua e literatura. São
Paulo: Moderna, 2000.
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