Alberto de Oliveira

Da esquerda para a direita: Alberto Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, o trio do Parnasianismo



Pode-se perceber, em Meridionais (1884), segundo livro de Alberto de Oliveira, a devoção ao “culto da forma”, sem que isso contudo significasse uma impassibilidade declarada e almejada. A diferença entre os parnasianos e os românticos (duas gerações entre as quais o poeta tem participação) é que a opção por abandonar um registro de natureza emotiva em prol de uma maior atenção para as sensações e impressões provocadas por algo real. Como diz o crítico Alfredo Bosi, o resultado é que os parnasianos deslocam “a tônica dos sentimentos vagos para a visão do real”. Um exagero nessa tendência levou alguns poetas a adotarem uma postura de verdadeira adoração por objetos (vasos, flautas gregas, taças de coral, ídolos de gesso etc.).

Alberto de Oliveira pode ser considerado dentre os parnasianos, um mestre na arte de compor poeticamente retratos, quadros, cenas, em que predomina uma combinação entre o perfeccionismo formal e o descritivismo. O poeta nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 28 de abril de 1857 e morreu em Niterói, também no Rio, em 19 de janeiro de 1937. Fez os estudos em Farmácia e cursou Medicina até o terceiro ano; foi no curso onde conheceu o poeta Olavo Bilac e com quem elaborou uma extensa amizade.

O apego pela literatura veio desde cedo; um mal de família, dos dezesseis irmãos, todos, se dedicaram a algum ofício das Letras, mas o único que obteve algum reconhecimento foi Alberto que, além de Bilac, esteve ao lado de gente como Raul Pompeia, Raimundo Correia, os irmãos Artur e Aluísio Azevedo, entre outros. 

Antes de Meridionais publicou Canções românticas, seu primeiro livro com forte inclinação para o pendor romântico, embora Machado de Assis, num famoso ensaio de 1879, assinalasse da leitura dessa obra, o sintoma de uma geração antirromântica. Muito provavelmente; não podemos esquecer que, estamos ante uma elite que tinha acesso ao que se produzia na Europa, sobretudo, na França, berço cultural para o qual todos da Corte estavam direcionados. E neste país já ressoava uma plêiade de poetas parnasianos; tanto é verdade que no livro seguinte, Alberto já incorpora a verve europeia.

Meridionais caracteriza-se pelo “forte pendor pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a versificação rica”, tal como assinala o verbete sobre o poeta na página da Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição da qual fez parte depois da morte de Cláudio Manuel da Costa. As qualidades do livro de 1884 alcançam uma forma ainda mais elaborada nas obras seguintes: Sonetos e poemas, Versos e rimas e as coletâneas das quatro séries de Poesias editadas entre 1905 e 1928.

A paixão pelas Letras não ficou expressa apenas na vasta produção poética; está nos textos divulgados em jornais como Gazetinha, A semana, Diário do Rio de Janeiro, Correio da Manhã, entre outros; está na extensa biblioteca que construiu com obras raras da literatura brasileira e portuguesa e hoje integrante do arquivo da ABL.

AMOSTRA POÉTICA

Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármore luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente de um calor sombrio.

Mas, também por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a
Sentiam um não sei que com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.


* O texto base para a post e o poema de Alberto de Oliveira estão em ABAURRE, Maria Luiza; PONTARRA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: língua e literatura. São Paulo: Moderna, 2000.

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