Literatta ou doce sorriso do macho satisfeito, de R. Roldan-Roldan
Por Pedro Fernandes
Esse sentir, esse tocar, esse beijar, esse chupar, esse morder, esse penetrar, esse gozar... Esse quero mais. Insaciável. Esse quero mais infindável. Antes que tudo acabe. Pois tudo acaba. Essa é a única verdade. É o que rege o escritor e sua escrita, o leitor e sua leitura.
Literatta ou doce sorriso do macho satisfeito
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Recebi de Roldan-Roldan pelas mãos do poeta Leontino Filho seu trabalho Literatta ou doce sorriso do macho satisfeito. Já lera, como comentei em post neste blog, seu livro de poesia Os úberes do infinito e mais do gênero nas visitas à biblioteca na faculdade, além de Ao sul do desejo, Carta a uma mulher separada e Azeviche ou nossa senhora do sagrado sexo. Recebi Literatta numa das últimas viagens que fiz a Mossoró, no fim de 2008. Este fim de ano de tantas conturbações que só me permitiu ler as orelhas do livro e olhar rapidamente o prefácio da obra escritos por Leontino. Foi no recesso do carnaval, quando todos vão para suas folias - e eu já cansado delas! - que, ainda sem teto, devo quinze dias de um recesso forçado no mês de janeiro. Para meu retiro levo na bagagem o romance de Roldan-Roldan.
São, pois, nestas circunstâncias que me pus a ler Literatta ou doce sorriso do macho satisfeito. São, pois, nestas circunstâncias que escrevo minha visão, espécie notas sobre essa obra. Li o romance freneticamente. Em momentos estive em carne e unha com um narrador-lírico (para fundir aqui categorias da prosa e da poesia), exercício característico da prosa roldaniana. Noutros momentos pude sentir através da pele das palavras o gozo - também frenético - com que o narrador se pôs/se põem a compor a trama desse romance.
Este não se trata de um romance simples para leitores comuns - quando digo comuns, me refiro àqueles leitores que estão adaptados a linearidade do discurso ou a um romance estruturado na sua forma tradicional. Pode até ser que esse tipo de leitor venha a lê-lo, mas separando as duas histórias que compõem a trama do romance. Há de ser o leitor muito bem iniciado em leituras do tipo romanesco e poético a fim de extrair do magma verbal o seu sentido, no entendimento comum de que, qualquer leitura literária parte em si de um sentido próprio, único que se chega ao fim da leitura e se constrói ao longo da leitura e das leituras. Tanto que, passo desde já a preparar uma leitura mais acurada deste romance que não irei expor neste espaço, mas num espaço que se permita reflexões acadêmicas.
Literatta ou doce sorriso do macho satisfeito é um romance que ergue seu tecido na encruzilhada de duas histórias: uma, que é a própria história, poderia assim dizer, é a narrativa da relação do escritor com a literatura e sua matéria posta com as imagens de Literatta - espécie de musa daquelas que costumavam/costumam invadir cabeças e poemas de poetas - e de Heize, escritor invadido/envolvido numa trama perene de sedução e de erotismo; trama esta que dará suporte à composição de uma trama outra, a de Elisa e um mordomo com ares de Literatta, misterioso. Aliás, todos são personagens envoltos numa penumbra de mistério que, ao longo do correr da trama vão se mostrando aos olhos do leitor. São muitos deles personagens que se deslocam num "submundo", a margem de um mundo comum.
Ao dar conta de duas histórias e no interstícios de ambas compor sua obra, Roldan-Roldan traz para o leitor uma trama que é a própria composição do romancista e seu romance. Renova-se, assim, o fôlego sobre o que comumente tem sido chamado de metaficção e esse gesto de espelhamento da escrita merece do leitor uma atenção depurada e redobrada. As impressões outras que já estão postas em notas à parte discutirei noutros espaços. Fiquemos por aqui.
Ligações a esta post:
>>> Leia mais sobre a obra de R. Roldan-Roldan aqui.
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